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Fiocruz consolida vocação de campus parque

Cavalariça

02/08/2021

Por: Karine Rodrigues (COC/Fiocruz)

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O endereço é um só: Avenida Brasil, 4365. Mas quem entra no campus sede da Fiocruz, no Rio de Janeiro, logo encontra cenários muito diversos. No Instituto de Tecnologia de Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), por exemplo, há um entra e sai de equipes, que se revezam para garantir turno contínuo na produção da vacina contra a Covid-19. Enquanto isso, a cerca de 10 minutos de caminhada de lá, grupos paramentados com capacete e cinto de segurança, portando ferramentas que não compartilham, para não dar moleza para o novo coronavírus, circulam pelo Núcleo Arquitetônico Histórico de Manguinhos (Nahm), formado por edificações da origem da Fiocruz, criada em 1900 com o nome de Instituto Soroterápico Federal.

As duas rotinas de trabalho, de alguma forma, se retroalimentam. A dedicação na linha de produção do imunizante, fundamental no enfrentamento da pandemia, ampliou o reconhecimento da instituição como símbolo nacional da ciência e da saúde pública. As mudanças no núcleo histórico também buscam uma maior aproximação da Fiocruz com a sociedade, por meio de ações que valorizam ainda mais o patrimônio cultural da fundação e o compartilhamento do conhecimento científico. Consolidam, assim, a vocação de campus parque, ampliando o acesso do público a um ambiente seguro, confortável e culturalmente enriquecedor.

Tapumes coloridos distribuídos em edificações do núcleo histórico delimitam os canteiros de obras e informam para trabalhadores, estudantes e visitantes o que está por vir em 2022: uma exposição sobre a saúde em diferentes escalas em um lugar icônico para a ciência nacional, a Cavalariça da Fiocruz. Ela está sendo preparada para apresentar de forma interativa as várias dimensões do tema, passando pelo mundo dos microoganismos, a produção de soros e vacinas e a saúde dos moradores da cidade ao longo de uma linha do tempo. E com acesso a uma sala de imersão para tornar a experiência da visitação ainda mais emocionante.

Este é apenas o começo de um ambicioso programa de requalificação do núcleo original da instituição, que prevê novos usos dos edifícios históricos e a implantação de uma moderna infraestrutura, com espaços ainda mais seguros, acessíveis e adequados para receber o público, incluindo a construção de um amplo auditório.

As novidades integram o Plano de Requalificação do Núcleo Arquitetônico Histórico de Manguinhos (Nahm), um nome longo, como foi o cuidadoso processo de escuta que norteou a iniciativa, lançada pela Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) em 2014. Ela representa o empenho da instituição em ampliar o diálogo com a população e a cidade, por meio da expansão de suas atividades socioculturais, de divulgação científica e de educação em ciências, tecnologia e saúde.

“Em uma conjuntura de diversos paradoxos – em que a ciência, assim como a cultura, tem sido maltratada, negada e, ao mesmo tempo, tem se mostrado fundamental para transcendermos esse momento de pandemia – a Fiocruz cumpre um papel importante e reconhecido. E esses espaços do Plano de Requalificação do Nahm, à medida que forem sendo entregues, criam a oportunidade de uma relação mais próxima com a sociedade, em especial com o território onde se situa a instituição”, destaca o diretor da Casa de Oswaldo Cruz, Marcos José de Araújo Pinheiro.

Exposição dentro de prédio símbolo na produção de imunobiológicos

Dividido em quatro fases, o plano se aproxima agora da fase de entrega das primeiras intervenções ao público. Parte dos setores administrativos que ocupam os prédios do Nahm serão realocados, abrindo mais espaço para atividades de educação e divulgação científica. Haverá uma ampliação da integração entre o conjunto arquitetônico centenário e o circuito de visitação do Museu da Vida, criado em 1999, como parte da Casa de Oswaldo Cruz, unidade da Fiocruz dedicada à história, ao patrimônio cultural e à divulgação das ciências e da saúde.
Segundo Pinheiro, o plano é resultado de um processo iniciado há mais de uma década e integra toda a Fiocruz, com suas diferentes atividades, mas valoriza, particularmente, o patrimônio arquitetônico e urbanístico e as ações de divulgação científica, representadas, especialmente, pelo Museu da Vida, que vai ganhar mais áreas expositivas, uma nova marca e passará a se chamar Museu da Vida Fiocruz.

Primeira edificação a abrir as portas para o público, logo na chegada de 2022, a Cavalariça guarda um simbolismo ímpar com o momento atual: foi lá que, nos primeiros anos do século 20, o sanitarista Oswaldo Cruz (1872-1917) arregaçou as mangas para tentar livrar o Brasil da dependência estrangeira na aquisição de imunobiológicos, iniciando a produção nacional na área. O prédio acolhia os cavalos usados no desenvolvimento de soros contra a peste bubônica, que assolava o país à época.

Inovador para o período, com 500 metros quadrados e um impressionante pé direito de cerca de 10 metros em sua parte mais alta, o prédio adotava princípios de sustentabilidade ambiental, com reuso da água e das fezes dos animais. Tombada em 1981 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a edificação foi restaurada, ocupou uma exposição e, com o passar dos anos, passou a sofrer com infiltrações nos telhados, que afetaram trechos da fachada e também o seu interior, deteriorando o piso e outras partes da estrutura.

Cavalariça mais segura para o público e os acervos da Fiocruz

Após um longo tempo ocupado por andaimes, profissionais da construção civil e arquitetos, numa rotina sem aglomerações, com o devido uso de máscaras, a Cavalariça passa agora por recuperações arquitetônicas pontuais, explica Cristina Coelho, que até a semana passada ocupava a chefia do Departamento de Patrimônio Histórico da Casa. Ganhou novos sistemas de ar-condicionado e de detecção de incêndio e câmeras de vigilância, além de engenharia de segurança para acesso à cobertura.


Intervenção preparou a Cavalariça para receber a nova exposição. Foto: Glauber Gonçalves

Quando reabrir, em 2022, trabalhadores, estudantes e visitantes vão circular pelas baias ocupadas, há mais de um século por cavalos, inoculados com material virulento por Oswaldo Cruz. Além disso, poderão admirar detalhes originais da edificação. Concebido pelo cientista e projetado pelo arquiteto português Luiz Moraes Jr. (1868-1955), o prédio em breve vai abrigar uma exposição científica sobre a saúde em diferentes escalas. Será um passeio da microbiologia até a saúde como fenômeno social e global, passando por temas como diversidade microbiana, imunização, visões culturais da saúde, epidemiologia, saúde ambiental e dinâmicas globais de saúde.

“Uma das premissas da nova exposição é integrar a divulgação científica e, ao mesmo tempo, valorizar a arquitetura do edifício. Há elementos muito íntegros”, observa Rosana Zouain, arquiteta do Departamento de Patrimônio Histórico que acompanhou mais de perto as obras na Cavalariça.

Novidades para manter a conexão com os visitantes

No campus parque da Fiocruz, além dos espaços de longa duração, o visitante contará ainda com novas áreas para exposições temporárias. “Ter esses espaços permite ao museu trazer sempre uma novidade ao seu público, ao mesmo tempo que faz a reconexão com o visitante mais frequente.  As exposições temporárias trazem assuntos que não estão nas exposições de longa duração e movimentam a programação. Vamos ter uma sequência de novidades ao longo dos próximos anos. As pessoas que nos visitam com frequência terão motivos para voltar”, aposta o chefe do Museu da Vida, Heliton Barros.

O museu, frisa, é a principal relação da Fiocruz com a sociedade, no campo da divulgação científica, e conta que, há muito, a equipe vem se preparando para as mudanças definidas no Plano de Requalificação. “Fizemos testes de como seria o modelo de atendimento ao público, pensando na abertura de novos espaços e num aumento grande de visitantes”, diz, observando que o espaço já vinha batendo recorde de público antes da pandemia. Chegou a 75 mil em 2019, considerando exclusivamente o campus Manguinhos – o museu também realiza exposições itinerantes pelo Brasil. Até 2023, a expectativa é inaugurar três exposições de longa duração.

Fiocruz tem patrimônio único no país

O Nahm expressa o compromisso da Fiocruz com a preservação e a valorização de um patrimônio único no país. O conjunto de prédios históricos localizados no campus sede foram projetados pelo arquiteto Luiz Moraes Jr. e erguidos entre 1904 e 1922, na gestão de Oswaldo Cruz. Integram o roteiro de visitação histórica da Fiocruz e abrigam acervos diversos.
Grande parte das edificações do Plano fazem parte do conjunto original de prédios da Fiocruz. Além do Pavilhão Mourisco, do Pavilhão do Relógio e da Cavalariça, tombados pelo Iphan desde 1981, o Quinino ou Pavilhão Figueiredo de Vasconcellos, a Casa de Chá e seu anexo, o Nahm inclui prédios mais afastados do conjunto original: o Hospital Evandro Chagas, o Pombal e o Pavilhão Vacínico, atual Vila Residencial. O Plano de Requalificação abrange as edificações do núcleo histórico, com exceção do hospital e da vila, e inclui ainda a Praça Pasteur, o Caminho Oswaldo Cruz e o Pavilhão Henrique Aragão.

Para Cristina Coelho, um ponto fundamental do Plano é a reformulação dos usos dos prédios históricos do Nahm. A mudança, a partir do Pavilhão Mourisco, gera uma revisão em cadeia da ocupação das edificações originárias da Fiocruz. No prédio símbolo da instituição, os usos tradicionais e históricos devem ser mantidos, com a permanência das salas da presidência e de áreas de acervo.


Em 2019, Museu da Vida atraiu público recorde ao campus da Fiocruz. Foto: Glauber Gonçalves.

Castelo da Fiocruz virou canteiro de obras

No momento, o Pavilhão Mourisco, está abrigado por tapumes coloridos e, até recentemente, também por andaimes e telas de proteção. O local virou um “canteiro de obras”, define a arquiteta. Esta semana, serão finalizadas a instalação do sistema de detecção e combate a incêndio e obras de impermeabilização e conservação dos ornatos de uma parte da fachada e da sala que ocupa o acervo da Seção de Obras Raras Assuerus Overmeer, da Biblioteca de Manguinhos.

As estantes, antes ocupadas, com títulos fundamentais para a história da ciência e da saúde pública nacional, hoje estão nuas, aguardando o retorno do material, transferido para outra local dentro do Castelo. O vai e vêm dos funcionários da obra é acompanhado pelos móveis de época, devidamente embalados em plástico bolha para evitar eventuais danos.

“O prédio está praticamente vazio. Só permanecem trabalhando no local as equipes das áreas de acervo, tanto da Biblioteca de Obras Raras quanto da Coleção Entomológica”, detalha Coelho, adiantando que a próxima obra será de modernização das instalações prediais.

Mais vida no museu

O Plano estabelece um reposicionamento do Museu da Vida, com maior interdisciplinaridade e atuação mais voltada para cultura, memória e lazer para um público mais amplo e diversificado. Decidiu-se que as exposições que ocupariam os espaços históricos teriam uma organização temática baseada nos grandes eixos de planejamento estratégico da Fiocruz e da Casa de Oswaldo Cruz: saúde pública no Brasil; ciência e tecnologia em saúde; saúde, ambiente e sustentabilidade; acervos culturais da saúde e Fiocruz e as cidades.

Desde o ano passado com as portas fechadas para atendimento presencial, por causa da pandemia, o Museu da Vida está em fase de reconstrução da audiência. Considerando a movimentação nas redes sociais e no site do Museu da Vida, esse “namoro” vai muito bem, obrigada. “Tivemos de intensificar muito a nossa presença virtual para nos manter conectados com o público”, detalha Barros, adiantando como outra novidade recente o investimento na área de audiovisual. Já reconhecido pelas peças teatrais, o Museu da Vida passou a investir em produções próprias, como uma websérie sobre vacinação e outras duas baseadas em seu Show de Ciências. 

Com tantas atrações, em uma área de grandes dimensões, nada como uma ajudinha da tecnologia. Quando o Museu da Vida reabrir, o público terá à disposição um aplicativo para dar uma mãozinha na montagem do roteiro de visitação, baseado em preferências pessoais e no tempo que pretende passar no local.

Fiocruz busca incluir territórios historicamente excluídos

Vice-diretor de Patrimônio Cultural e de Divulgação Científica da Casa de Oswaldo Cruz, Diego Bevilaqua destaca a importância da iniciativa para a valorização e a preservação do patrimônio histórico da Fiocruz. “O Plano se materializa na forma de programas arquitetônicos, de novas exposições, mas a nossa proposta é que ele vá além e reconfigure o Museu da Vida como uma plataforma de diálogo entre a Fiocruz, enquanto instituição de ciência e pesquisa, e a sociedade”.

Em nome disso, o Museu da Vida está procurando ampliar a articulação com as áreas de pesquisa na Fiocruz, aproximando o pesquisador na elaboração dos instrumentos de divulgação científica, como as exposições. “Também estamos buscando aumentar a participação social nesse processo, seja na própria gestão do Plano, seja na curadoria das exposições”, acrescenta Bevilaqua.  Afinado com a recém-lançada Política de Divulgação Científica da Fiocruz, acrescenta Bevilaqua, o plano pretende que o Museu da Vida se estabeleça como “local de interlocução com a cidade, especialmente com os territórios, socialmente vulnerabilizados e historicamente excluídos”.

Patrocínios e parcerias

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é o principal patrocinador o Plano de Requalificação do Nahm, também apoiado pela Halliburton e pela Aché. Além do patrocínio direto ou com benefícios fiscais, busca-se a cooperação de instituições de excelência em seus campos de atuação. “Estamos mantendo a interlocução com vários possíveis parceiros e apoiadores”, diz o diretor da Casa de Oswaldo Cruz, citando, entre as parcerias já firmadas, um acordo de cooperação técnica internacional com o Science Museum Group, do Reino Unido, que reúne cinco museus britânicos, incluindo o Science Museum de Londres.

Qual a importância de se apostar em iniciativas que ajudem a população a despertar para a preservação do patrimônio histórico? A arquiteta Cristina Coelho faz a pergunta e dá a resposta: “Por que reconhecemos, tombamos e propomos uma preservação dos edifícios? Porque são os nossos vínculos de identidade. Nos representam. Existem vários elementos que contribuem para essa identificação, como a língua, e o patrimônio é uma delas. Há uma visão de que o patrimônio histórico está ali como uma infraestrutura. Precisamos conhecê-lo. Porque se você não conhece, não ama, não conserva, não cuida”.

Se você ainda não conhece a Fiocruz, em breve, seja bem-vindo (a).

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