Fiocruz

Fundação Oswaldo Cruz uma instituição a serviço da vida

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Protagonismo e descaso


Embora o legado associado a Oswaldo Cruz seja uma construção de uma ampla rede de cientistas e médicos, historiadores reconhecem certa inevitabilidade de um mecanismo presente no senso comum e em parte da historiografia: o apagamento do aspecto coletivo da criação e a vinculação dos feitos a um único personagem. Esse processo acaba por desempenhar uma função ideológica. “Foi usado para induzir valores cívicos nas crianças nas escolas, mas é também acionado quando os funcionários da Fiocruz vão às ruas para pleitear mais apoio à ciência e à saúde, defender o SUS. Hasteia-se, então, o Oswaldo Cruz. Essa figura mitológica carregada de significados é usada com variadas finalidades e em variados contextos. E isso só é possível dada a magnitude e a importância do trabalho que foi criado naquele momento. Ele foi um divisor de águas. Estamos aqui nesta instituição portentosa, que é o seu legado mais evidente”.

Para o historiador Carlos Henrique Paiva, da Casa de Oswaldo Cruz, a geração mais recente da Reforma Sanitária – aquela que concebeu o SUS – operou sob determinadas premissas cuja origem remonta ao período de Oswaldo Cruz. Uma delas diz respeito ao papel do Estado na sua relação com a saúde pública. “A saúde como um assunto público e digno de intervenção estatal é uma construção social e política que remonta ao início do século passado. A atuação de Oswaldo Cruz e de contemporâneos, figuras como Carlos Chagas e Belisário Pena, foi fundamental para que essa relação se estabelecesse não só em termos institucionais, mas também para que se convertesse em uma espécie de tradição na organização da saúde pública nacional. Daquela época em diante, a relação Estado e saúde pública se converteria em uma espécie de obviedade à qual a geração do SUS não só se assentaria, mas dela se beneficiaria”, analisa.

Se hoje, porém, o país volta a enfrentar problemas muito similares ao da época de Oswaldo Cruz, fica evidente que deixamos de aprender alguma lições com esses sanitaristas pioneiros. “Estamos enfrentando isso de novo [surto de febre amarela] porque infelizmente os dirigentes políticos do Estado colocam os interesses e a pragmática clientelística acima das questões de competência e de técnica. Entregam-se órgãos que deveriam ser conduzidos por esse patrimônio inestimável de bons sanitaristas e cientistas, pessoas que tem o knowhow, a gente medíocre que vai usar essas estruturas em proveito do jogo político eleitoral mais rasteiro que se possa imaginar”, critica Benchimol. “Nas horas de crise, o que acaba salvando é o legado de Oswaldo Cruz – uma Fundação Oswaldo Cruz, um Instituto Evandro Chagas, instituições científicas que rapidamente dão respostas”.

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Texto adaptado da edição edição nº 37 da Revista de Manguinhos, publicada em maio de 2017.

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