21/11/2017
Por: Antonio Fuchs (INI/Fiocruz)*
No Dia Mundial de Prevenção ao Câncer de Próstata, celebrado em 17 de novembro, lembramos que o combate a esta doença tem que ser diário e ter como objetivos principais a busca pelo diagnóstico precoce e o esclarecimento de mitos com relação ao exame masculino. Participando da campanha Novembro Azul de conscientização a respeito do câncer de próstata, o Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz) promoveu a palestra Saúde do homem: prevenção do câncer de próstata e outras orientações com o médico urologista do Hospital Central da Polícia Militar, Renato dos Santos Faria. A atividade foi organizada pelo Laboratório de Pesquisa em Epidemiologia e Determinação Social da Saúde (LAP-EPIDSS) em parceria com a Associação Lutando para Viver Amigos do INI.
“A próstata é o coração da urologia, mas temos que entender que o urologista vai além do tratamento dessa glândula que só o homem possui e que se localiza na parte baixa do abdômen”, destacou Renato Faria, ao iniciar sua exposição, lembrando que essa especialidade não é exclusiva ao homem, uma vez que tratamentos para infecções urinárias ou de cálculo renal, por exemplo, também são feitos pelas mulheres.
Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer, no Brasil um homem morre a cada 38 minutos devido ao câncer de próstata, sendo o segundo mais comum em nosso país, ficando atrás somente dos tumores de pele/melanoma. Apenas em 2016, cerca de 70 mil brasileiros foram diagnosticados com a doença. Nos Estados Unidos, um homem recebe este diagnóstico a cada três minutos e outro morre a cada 15 minutos. É uma doença silenciosa e muitos homens preferem fugir do assunto, não sendo possível preveni-la. “Entretanto, quando mais precoce for a detecção, maior a chance de cura do paciente, podendo chegar a quase 100%.
Existe toda uma dificuldade de aproximação em levar um homem ao consultório médico ou diversas brincadeiras com relação ao câncer de próstata, principalmente quando se fala do exame de toque retal. Temos que desmistificar isso”, destacou Renato.
O risco ao câncer de próstata aumenta com o avançar da idade. No Brasil, a cada dez homens diagnosticados com câncer de próstata, nove são maiores de 55 anos. É possível justificar o crescimento nas taxas de incidência no país por conta da evolução dos métodos de diagnósticos (exames), a melhoria na qualidade dos sistemas de informação em saúde e o aumento da expectativa de vida da população. “Existe uma possibilidade de diminuir a taxa de mortalidade da doença a partir desse diagnóstico mais precoce. Entretanto, cerca de 20 a 30% dos pacientes já são diagnosticados na fase de metástase, ou seja, quando a doença já está espalhada pelo corpo e não mais confinada a próstata”, explicou o urologista.
Fatores de risco
O câncer de próstata apresenta um crescimento lento, podendo chegar a 15 anos de evolução até ser descoberto. Ou seja, o paciente que foi diagnosticado aos 70 anos com a doença já possuía alguma alteração celular a partir dos 55 anos. Além da faixa etária, outro fator de risco para o câncer de próstata é o histórico familiar, como pai, irmãos ou tios que tiveram a doença antes dos 60 anos. Além disso, estudo recentes mostram que há um aumento no risco do câncer de próstata em homens com peso corporal elevado.
O estilo de vida e a dieta adotada podem influenciar no desenvolvimento da doença. “Não existem orientações efetivas para que um homem saia do risco de ter câncer de próstata. Sabemos que a mudança no estilo de vida contribui para minimizar os riscos. A doença é mais agressiva em obesos, então a perda de peso é um componente importante nessa luta. A ingestão diária de legumes, verduras e frutas, principalmente as de coloração verde e amarelo, por questões de vitaminas específicas, é algo que influencia de maneira positiva. A questão do consumo de tomate e de seus derivados para combater esse tipo de câncer se tornou uma propaganda interessante atualmente. Entretanto, para que a gente possa fazer uma proteção objetiva com o tomate, deve se comer, em média, 3kg do fruto in natura por dia, ou seja, impossível. A prática de atividade física de maneira regular, parar de fumar e de ingerir bebidas alcoólicas são formas objetivas de prevenção ao risco”, destacou Renato.
Prevenção e diagnóstico
O grande desafio na prevenção doença está mesmo no diagnóstico. Por ser uma assintomática e silenciosa, o homem não procura o médico. Nesse sentido, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) recomenda que todo homem acima dos 45 anos visite o urologista. Já o Ministério da Saúde (MS) orienta que a consulta após os 50 anos. Para a SBU, pacientes que têm histórico familiar positivo e/ou são da raça negra devem visitar periodicamente o urologista a partir dos 40 anos. Nesses casos, o MS faz essa recomendação para os homens maiores de 45 anos.
Sintomas
Dificuldade de urinar, demora em começar ou terminar de urinar e diminuição do jato de urina são alguns dos sintomas que podem aparecer na fase inicial. Além disso é preciso estar atento a doenças benignas da próstata porque podem preceder o desenvolvimento desse tipo de câncer. Entre elas as principais são: a Hiperplasia Prostática Benigna, que é o aumento natural da próstata que acontece em homens com idade superior aos 50 anos, e a Prostatite, que é a inflamação da próstata, geralmente causada por bactérias.
Para a confirmação da doença, dois exames são realizados pelo médico: o toque retal e o Antígeno Prostático Específico (PSA). “Por que o toque retal é importante? Porque tocamos o acesso externo e periférico da glândula onde se desenvolvem 95% dos cânceres de próstata. Com o toque retal temos uma informação sobre o contorno, o tamanho, o endurecimento e a presença de nódulos no local. Associado a isso, temos a solicitação do exame de PSA. Se fizemos exclusivamente o toque retal, podemos ter uma falha para descobrir o câncer de próstata em 35% dos casos. Se temos só o PSA, essa falha pode ser de 20%. Com a associação desses dois exames, diminuímos o risco relacionado à doença de passar desapercebida e começar assim o tratamento do paciente”, afirmou Renato.
Ainda segundo o urologista, o câncer de próstata em quase 100% dos casos desde que diagnosticado precocemente. Após a detecção da doença, existem três tipos de tratamento: a cirurgia (retirada da próstata); radioterapia (aparelhos modernos provocam menos efeitos colaterais) e Braquiterapia (radioterapia em que se coloca uma fonte de radiação dentro ou junto à área que necessita tratamento).
“A grande maioria dos homens afirma ter conhecimento do exame do toque, mas apenas 30% confirma ter feito o procedimento. Outros têm mais informações sobre PSA, o exame que é feito com mais frequência na atualidade. Há um grande preconceito com relação ao exame de toque retal. Mais de 50% dos homens recusam fazer esse tipo exame. As desculpas são as mais diversas para não realizá-lo e não procurar um urologista, como preguiça, falta de tempo e falta de sintomas. Isso só prejudica o paciente uma vez que o afasta de um diagnóstico precoce. Nesse ponto, nosso principal desafio é a conscientização da população masculina sobre a importância de procurar um médico periodicamente”, encerrou Renato. Após sua exposição, o urologista respondeu perguntas do público presente e de integrantes da Associação Lutando para Viver Amigos do INI.
Durante a palestra de Renato dos Santos Faria, a equipe do Laboratório de Pesquisa em Epidemiologia e Determinação Social da Saúde (LAP-EPIDSS) distribuiu um folder explicativo sobre o câncer de próstata, com dicas de prevenção da doença. O folder pode ser acessado no site do INI.
*Edição: Juana Portugal
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