21/02/2019
Por: Paulo Guanaes (EPSJV/Fiocruz)
Primeira edição de 2019 da Trabalho, Educação e Saúde (vol. 17, no 1), revista científica editada pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), celebra os 50 anos do livro Pedagogia do Oprimido, obra magna do educador popular Paulo Freire, concluída no outono de 1968, quando vivia no exílio em Santiago, no Chile. Segundo levantamento feito pelo pesquisador Elliot Green, da London School of Economics para o Google Scholar, Pedagogia do Oprimido é a terceira obra mais citada em trabalhos na área de humanas, constituindo-se em uma referência constante em estudos. Contestado em seu próprio país mas respeitado em diversas nações por onde lecionou, como Chile e Estados Unidos, Freire, Patrono da Educação brasileira, é um dos precursores do pensamento pós-colonial no Brasil.
Katia Reis de Souza e André Luís de Oliveira Mendonça, autores do ensaio A atualidade da ‘Pedagogia do Oprimido’ nos seus 50 anos: a pedagogia da revolução de Paulo Freire, assinalam que em quatro grandes capítulos, “o livro tem dois eixos centrais: um referente à temática considerada de domínio da pedagogia (capítulos 2 e 3: sobre a disputa entre as concepções bancária e libertadora/problematizadora da educação; sobre a metodologia dos temas geradores/conteúdo programático, respectivamente) e outro concernente à questão da revolução propriamente dita (capítulos 1 e 4: sobre a contradição libertação-opressão; sobre as teorias dialógica e antidialógica da ação coletiva, respectivamente)”. O ensaio é resultado das observações e reflexões, em cinco anos de exílio, sobre as atividades educativas que exerceu no Brasil e na América Latina. Uma pedagogia claramente formulada sob as bases da experiência concreta, ancorada na ação pedagógica junto a operários, camponeses e outros trabalhadores, o que já mostra a coerência entre a teoria contida na obra e a prática efetiva do autor.
No segundo ensaio deste número da revista, Das possibilidades de um conceito de saúde, Marcelo José de Souza e Silva e Lilia Blima Schraiber trazem um estudo sobre o ‘conceito’, com base no referencial marxista, com o objetivo de responder se é possível ou não existir um conceito de saúde. Os autores apoiaram-se na leitura de autores marxistas, que tratam da relação entre o pensamento e a realidade objetiva, para enriquecer o debate contemporâneo sobre a Saúde Coletiva. Souza e Silva e Schraiber concluem que, “apesar de a saúde ser um objeto extremamente complexo, é possível existir seu conceito, o qual, segundo nossos referenciais, deve remeter ao todo sócio-histórico e à politização da dimensão técnica que esteja implicada historicamente com este social”.
Além de ter apresentado um dos invernos mais rigorosos do Brasil, o emblemático ano de 2013, um ano antes da Copa do Mundo no Brasil, foi marcado por uma onda de greves de trabalhadores. Laís Oliveira de Souza, José Augusto Pina e Katia Reis de Souza produziram um estudo, publicado no artigo Resistência e práxis na greve dos professores da rede pública municipal do Rio de Janeiro, que tem por objetivo analisar as relações entre trabalho, educação e saúde na greve dos profissionais de educação da rede municipal do Rio de Janeiro naquele ano. Os autores optaram pela pesquisa qualitativa e realizaram entrevistas individuais e pesquisa documental baseada na imprensa sindical, o que resultou, por meio de análise temática, na identificação de três temas de interpretação: trabalho e defesa da educação pública de qualidade; aprendizado coletivo e pedagogia da luta; e luta coletiva pela saúde. Os pesquisadores concluíram que “ações coletivas de trabalhadores são espaços de aprendizagem, de produção de conhecimento e intervenção em saúde (...) uma perspectiva ampliada de educação e saúde, como práxis pedagógica, que se processa na luta e na valorização da experiência coletiva do trabalho”.
No primeiro número de 2019 de Trabalho, Educação e Saúde, o leitor também encontra, na seção Artigos, os seguintes temas: a centralidade do hospital psiquiátrico em face de retrocessos recentes na política de saúde mental; a construção por agentes de saúde de identidades no controle da dengue; a visão de usuárias sobre ausência de doença e cuidado possível na Estratégia Saúde da Família; e a formação profissional em saúde de adultos.
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