19/02/2016
Por: Brunna Arakaki e Luiza Gomes (Cooperação Social da Fiocruz)
Diante do agravamento dos casos de Dengue, Zika e Chikungunya identificadas nas comunidades de Manguinhos, e da urgência de se pensar metodologias de controle do mosquito nas quinze favelas que compõem o Complexo, a Fiocruz, junto com movimento social organizado de Manguinhos, representado pela Agência de Comunicação Comunitária, Conselho Comunitário de Manguinhos, RedeCCAP, Grupo de Articulação do Canal do Cunha, Conselho Gestor Intersetorial do Teias Escola Manguinhos -, Vigilância Ambiental da CAP3.1 da SMS, e Gari Comunitário, se uniram a lideranças sociais e associações de moradores para elaboração de um plano de controle do vetor. Reuniões vem sendo feitas desde dezembro e cinco comunidades já receberam as equipes do mutirão.
O Plano de Controle do Aedes aegypti em Manguinhos deve ser compreendido, segundo o coordenador da Cooperação Social da Presidência da Fiocruz, Leonídio Madureira de Sousa Santos, enquanto um processo “estruturante e estratégico” voltado para reforçar a participação popular no controle do mosquito nesses territórios. O programa está sendo construído a partir da base conceitual, metodológica e científica da vigilância popular em saúde.
“O plano é territorializado, isto é, parte das especificidades, necessidades e potencialidades existentes nessas localidades e está estruturado através de grupos que atuam nas micro-áreas da estratégia da Saúde da Família”, explicou, destacando que as organizações de base comunitárias se fazem presentes em todas as fases do Plano, participando do planejamento, implementação e do monitoramento.
Membro do Conselho Comunitário de Manguinhos, André Lima, doutorando em História das Ciências e da Saúde (COC/Fiocruz), destaca a extensão territorial e a complexidade de cenários encontrados. “Estamos considerando espaços densamente povoados, com aproximadamente 40 mil moradores distribuídos em 15 sublocalidades, entre favelas e conjuntos habitacionais, algumas com os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado do Rio de Janeiro e em situação de violações permanentes de direitos”, descreveu. “Esperamos confirmar nesta experiência metodologias que sejam reaplicáveis a contextos de vulnerabilidade civil e socioambiental em outros territórios favelizados da cidade”.
Cinco eixos de atividades dão forma ao plano: Mutirões interssetoriais, liderados por quartetos (Agente Comunitário de Saúde, Agente de Vigilância em Saúde, Gari Comunitário e Liderança Social), que cobrem toda a região; Educação Popular em Saúde e Ambiente; Comunicação popular em saúde; Mapeamento participativo e georreferenciado de criadouros do Aedes aegypti com a juventude de Manguinhos; e Monitoramento, sistematização e análise de metodologias, tecnologias, resultados e impactos do plano. Ao longo do processo, também poderão ser aplicadas diversas tecnologias de controle do vetor validadas por pesquisadores da Fiocruz.
Da Fundação Oswaldo Cruz, participam a Presidência, por meio da Coordenadoria de Cooperação Social e Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS);Bio-Manguinhos (Comissão de Responsabilidade Socioambiental – Somar); Casa de Oswaldo Cruz (Museu da Vida/COC); Escola Nacional de Saúde Pública Sério Arouca (Ensp), com o Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (CESTEH), Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF), Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental (DSSA), Departamento de Ciências Biológicas (DCB), Território Integrado de Atenção à Saúde (Teias – Escola Manguinhos); Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio e Instituto Oswaldo Cruz, através do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos, Cooperação Social, e Núcleo Operacional Sentinela de Mosquitos Vetores (Nosmove).
Educação e formação para o controle do Aedes
No dia 16/2, foram iniciadas as aulas do Curso de Formação de Agentes Populares de Saúde e Vigilância, organizado no Grupo de Trabalho de Educação do coletivo envolvido na construção do Plano, e coordenado por Tania Araújo-Jorge, do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos do IOC/Fiocruz. A proposta, segundo ela, é formar atores sociais aptos a intervirem no território de Manguinhos, orientando e difundindo informações atualizadas sobre a dengue, zika, chikungunya, o ciclo do Aedes e os cuidados essenciais para impedir a proliferação do mosquito. As aulas ocorrem das 13h às 17h, até esta sexta-feira (19/2), e irão formar 35 agentes populares.
“A metodologia aplicada é a da saúde comunitária, mas a partir do viés de Arte e Ciência, que consiste em exercícios de observação e registro, evocação de imagens, abstração, reconhecimento de padrões, analogias, empatia e de reflexão sobre as diversas dimensões de um plano de atuação”, explicou. São quatro eixos de estudo: o ciclo do Aedes e os determinantes socioambientais de proliferação do vetor; análise crítica da produção de conteúdos midiáticos sobre as epidemias; as doenças do Aedes: dengue, zikae chikungunya; e trabalho de campo.
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