Fiocruz

Fundação Oswaldo Cruz uma instituição a serviço da vida

Início do conteúdo

Fiocruz Minas lança site sobre história das mulheres em luta por seus direitos em MG


10/03/2023

Fonte: Fiocruz Minas

Compartilhar:

O resgate das memórias de experiências vivenciadas pelas primeiras mulheres a se envolver no movimento feminista em Minas Gerais, nas décadas de 1970 e 1980, inspirou a criação do site Vermelho Carmim – uma história das mineiras em luta por seus direitos. O website, que será lançado oficialmente na próxima sexta-feira (10/3), traz, de forma contextualizada, os modos de agir e pensar de uma geração, possibilitando ao público compreender um pouco mais sobre a dimensão dos processos e acontecimentos daquele período.

Para contar essas histórias, o site traz depoimentos em vídeo e em textos editados, fotos, crônicas escritas exclusivamente para o projeto e mais uma série de peças de época, que permitem reconstituir uma parte importante da luta por direitos das mulheres e preservar a memória de um tempo. “Nas entrevistas que fizemos com pessoas que tiveram uma atuação relevante, há reflexões sobre os costumes da época, seus sonhos e práticas dos tempos da resistência democrática e também memórias da redemocratização. Conversamos com líderes feministas, historiador e ator, jornalista, advogado, diretor de teatro, dramaturgo, poeta…São personagens que compartilharam suas lembranças e nos ajudaram a constituir esse acervo”, conta a pesquisadora da Fiocruz Minas, Elizabeth Fleury, doutora em sociologia e coordenadora do projeto.

Entre os temas abordados, está a história da realização do primeiro seminário feminista de MG, ocorrido em 1975, Ano Internacional da Mulher, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU). Os diferentes materiais disponibilizados contam, em detalhes, como foi a organização desse evento, que lotou, por três dias, o auditório do Diretório Central de Estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais (DCE-UFMG) que funcionava onde hoje é o Cine Belas Artes, próximo à Praça da Liberdade.

Outro destaque é a reconstituição de um ato público, realizado em 1980, nas escadarias da Igreja São José em Belo Horizonte, em repúdio ao assassinato de mulheres por seus maridos. O ato foi destaque na mídia nacional e gerou uma série de debates acerca do tema. Foi a partir desse evento que surgiu o slogan QuemAmaNãoMata e deu origem a um movimento liderado por mulheres, ainda em atividade.

Vermelho Carmim - Ao lado da frase mulheres sentadas no chão na frente deum muro onde está escrito, quem ama não mata.

O site traz ainda a história de uma série de ações realizadas entre os anos de 1980 e 1985, quando nada havia no Estado ou no país que apoiasse mulheres em situação de violência. Um deles, desdobramento direto do ato público, foi a criação e funcionamento do CDM (Centro de Defesa dos Direitos da Mulher), o SOS- Mulher MG, a realização da primeira pesquisa em Minas sobre o tema e ainda a primeira passeata feminista em Belo Horizonte. Traz também as memórias da apresentação em praça pública, em 1983, de um júri simulado, em que atores encenaram o julgamento emblemático de um dos assassinos de mulheres que motivou o ato público de 1980. Na ocasião, cinco mil pessoas vaiaram os atores que representavam o assassino, réu na ocasião, e seu advogado de defesa.

A arte teatral se faz novamente presente no site em uma vídeo-peça intitulada Vermelho Carmim – Fragmentos do Discurso Violento, que faz uma abordagem teatral sobre a violência contra as mulheres. Com experiente direção de Pedro Paulo Cava, o espetáculo é baseado na tese de doutorado da pesquisadora Elizabeth Fleury, concluída na UFSCar em 2021, e na dissertação da psicóloga Simone Francisca de Oliveira (defendida em 2010 na UFMG), hoje professora do Centro Universitário UNA –  ambas voltadas à discussão de dimensões da violência contra a mulher. Além da vídeo-peça, há cinco crônicas escritas por personalidades da vida cultural, acadêmica e política de Minas Gerais, que abordam costumes a respeito da mulher, experiências pessoais e políticas nas décadas de 1970 e 1980.

Para Fleury, o site tira da invisibilidade acontecimentos que marcaram uma geração. Segundo ela, trata-se de uma primeira tentativa de trazer à tona essas memórias e, dessa forma, a expectativa é de que os registros incentivem o surgimento de outros estudos nessa direção.

“Nosso objetivo foi ampliar o acesso a esse acervo para um público maior. Em vez de transformar essas informações em um documento, entendemos que, ao disponibilizá-las em um espaço aberto, a diferentes públicos, estamos contribuindo para fomentar discussões sobre esse tema que é tão importante. E, sabemos, o debate é um importante fator nas transformações da sociedade”, afirma.

Mais em outros sítios da Fiocruz

Voltar ao topoVoltar