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Fiocruz identifica novas linhagens do Sars-Cov-2 em Rondônia


11/02/2021

Por: José Gadelha (Fiocruz Rondônia)

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Em parceria com o Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD / Fiocruz Amazônia), pesquisadores da Fiocruz Rondônia identificaram três variantes do vírus Sars-CoV-2, circulantes no estado (RO). Os dados foram apresentados durante transmissão realizada pelo Governo nesta terça-feira (9/2). As análises foram realizadas com base em amostras de pacientes coletadas em diferentes municípios, incluindo a capital (Porto Velho). O estudo contou com colaboração da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) e do Centro de Pesquisa em Medicina Tropical (Cepem).

De acordo com a virologista e pesquisadora em Saúde Pública da Fiocruz Rondônia, Deusilene Vieira, desde que começaram os estudos para o acompanhamento e vigilância genômica do vírus, foram descritas pela comunidade científica diversas variantes, observadas em todo o mundo. “A cada mudança do vírus, são geradas também novas linhagens, o que justifica a necessidade de novos estudos para uma melhor compreensão dos fatores clínicos e epidemiológicos relacionados à doença”, enfatizou Deusilene Vieira.

A partir de isolados virais de dezembro de 2020 e janeiro de 2021, a vigilância genômica de Sars-CoV-2 em Rondônia permitiu identificar as seguintes linhagens do vírus: B.1.1.33 (já identificada em todos os continentes, sendo comum na América do Sul); B.1.1.28 (comum no Brasil e já localizada em outros países) e P.2 (variante que foi descrita primeiramente no Rio de Janeiro, e já identificada também em outras localidades do Brasil).

A pesquisadora ressaltou a importância de todos seguirem as medidas restritivas. "Isso além do uso de máscara, distanciamento social e álcool em gel para evitar a propagação do vírus, “uma vez que os dados dessas análises referentes aos meses de dezembro/2020 e janeiro/2021 demonstram maior transmissibilidade do vírus, o que também está relacionado a mutações detectadas nessas variantes”, concluiu Vieira.

Médico infectologista, Juan Miguel Villalobos-Salcedo pontuou que não se pode afirmar que as novas variantes, identificadas em Rondônia, são mais agressivas e estão relacionadas ao aumento considerável no número de mortes, verificado no estado a partir do último semestre do ano passado. Ele explicou que a principal característica encontrada, a partir das análises realizadas, é o alto potencial de transmissão do vírus, inclusive entre os mais jovens. “Quanto mais casos ativos tivermos em uma população, mais chances nós temos de propagar a doença e, consequentemente, mais possibilidades teremos de provocar novas mutações do vírus”, destacou.


Variante P.2, isolada primeiramente no RJ, está sendo identificada em outras localidades do Brasil

Mutações

Os vírus vão adquirindo, normalmente, mudanças em seu genoma e estas se acumulam conforme o tempo progride. Essas mudanças, também chamadas de mutações, podem ser utilizadas para ler e inferir o passado evolutivo de um vírus, baseando-se no fato de que fica registrada em seu genoma toda a rota mutacional que levou à sua geração. 

Conforme esse vírus se espalha e infecta novas pessoas, o vírus vai acumulando novas mutações, pois as cepas vão percorrendo caminhos e ambientes distintos. As diferentes pressões como o sistema imunológico e fatores ambientais se encarregam de selecionar quais “cepas” (variantes) seguirão adiante, repassando informações genéticas, durante as infecções. 

Estes caminhos diferentes vão dando origem a diferentes linhagens de um vírus. Linhagem, portanto, pode ser entendida como um grupo de vírus que compartilham uma série de gerações ou linha de parentesco e são, portanto, semelhantes geneticamente entre si. Linhagens específicas surgem a partir do aparecimento de variantes virais novas, que normalmente apresentam uma ou mais mutações diferentes das demais variantes circulantes em uma população, e que conseguem passar essas informações por várias gerações adiante. Assim sendo, por vezes, novas variantes surgem e desaparecem, enquanto outras novas variantes podem surgir e persistir.

Atualmente, em nível global, três linhagens de Sars-CoV-2 são consideradas emergentes e de grande importância epidemiológica: B.1.1.7 (originária do Reino Unido); B.1.351 (da África do Sul) e P1 ou B.1.1.28.1 (identificada no Brasil/Amazonas). Todas estas linhagens têm sido associadas a uma maior transmissibilidade do vírus. No Brasil, emergiu uma linhagem que se espalhou para alguns outros continentes do mundo e foi identificada como B.1.1.28. Descendendo desta linhagem, outras duas surgiram: P.1, a linhagem que surgiu no Estado do Amazonas e a P.2, uma variante isolada primeiramente no Rio de Janeiro e que já está presente em outras localidades do Brasil.

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