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Crianças internadas no IFF/Fiocruz recebem visita de cão terapeuta


01/11/2022

Mayra Malavé-Malavé (IFF/Fiocruz)

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Crianças internadas no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) receberam uma visita muito especial no contexto do mês das Crianças. A Dra. Hope, cão terapeuta do Instituto Nacional de Câncer (Inca), acompanhada de seu coterapeuta, André Donza, ofereceram momentos de relaxamento, de interação afetuosa e de distração na rotina hospitalar dos pequenos.


No contexto do mês das crianças, o IFF/Fiocruz promoveu uma atividade inovadora e muito especial com a visita da Golden Retriever terapeuta, Dra. Hope. (foto: Mayra Malavé-Malavé, IFF/Fiocruz)

A visita foi uma iniciativa do Núcleo Saúde e Brincar e da coordenação da Área de Atenção Clínica à Criança e ao Adolescente, com apoio da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do IFF/Fiocruz. O intuito foi aproximar os pacientes com a Atividade Assistida por Animais (AAA), prática inovadora exercida como auxílio no desenvolvimento emocional de crianças hospitalizadas.

“Perante evidências crescentes e consistentes no público adulto e pediátrico, a incorporação desta modalidade de assistência vem se ampliando no âmbito das instituições de saúde na busca da qualificação e humanização do cuidado. A recente visita de um cão terapeuta ficou marcada como uma experiência pioneira na história do Instituto e demonstrou de forma bastante clara a potência desta atividade como elemento de promoção de saúde individual e coletiva”, reforça a pediatra e coordenadora do Núcleo Saúde e Brincar do IFF/Fiocruz, Roberta Tanabe.

“A ideia de trazer a Dra. Hope ao Instituto faz parte de uma visão ampliada da gestão para o cuidado integral de crianças e adolescentes. É poder olhar a criança, o acompanhante e a equipe de saúde como partes integrantes e interligadas do processo de tratamento. A Atividade Assistida por Animais quebra a rotina do dia a dia, ajuda na interação social, diminui o estresse e humaniza o ambiente. Nós da Área de Atenção à Criança Clínica, em parceria com o Núcleo Saúde Brincar, estamos muito felizes em promover essa atividade com todo o apoio da CCIH e Coordenação de Atenção", comenta a coordenadora da Área de Atenção Clínica à Criança e ao Adolescente do IFF/Fiocruz, Thaize Lima Sobreiro.

Histórico e distinção: terapia x atividade

Após a Primeira Guerra Mundial, o uso dos animais para dar apoio aos humanos começou a se tornar uma prática, pois resultava de grande ajuda principalmente para oficiais veteranos que ficaram com deficiências visuais. Com o decorrer do tempo, a sociedade já tinha se familiarizado com termos como “animais de serviço” ou “cão de serviço”, referindo-se a esses tipos de cães-guias pioneiros. Porém, em paralelo nesse tempo, adestradores e terapeutas foram treinando animais para sua participação em novas formas de terapias, com o intuito de promover saúde e melhorar a qualidade de vida por meio da relação entre o humano e o animal, sendo essa terapia planejada e estruturada com critérios específicos de acordo com as necessidades de cada paciente, o que hoje se conhece como Terapia Assistida por Animais (TAA). 

Por outro lado, e derivada da TAA, temos a Atividade Assistida por Animais (AAA), “que é uma das modalidades de intervenção que se caracteriza pela convivência e visitação dos animais”, conforme explicado por Roberta. “É preciso fazer uma distinção na terminologia empregada para designar as ações que utilizam o animal como instrumento de intervenção, de acordo com seus objetivos e metodologias. A TAA inclui a participação do animal como elemento principal do tratamento, sendo um recurso empregado por diferentes categorias profissionais, como psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, dentre outros. Pode ser desenvolvida em grupos ou individualmente e é orientada por metas terapêuticas específicas que são periodicamente reavaliadas. Tem o objetivo de promover melhora em transtornos físicos, cognitivos, psicológicos e socioafetivos”, esclarece Roberta.

Por sua vez, a Atividade Assistida por Animais (AAA) tem finalidade distrativa e recreativa, “representa um recurso adjuvante nas intervenções terapêuticas. Dispensa a obrigatoriedade da assistência de um profissional da saúde e, habitualmente, é conduzida por voluntários. Esta atividade tem como objetivos a promoção de bem-estar, de um ambiente mais humanizado, com estímulo para relações interpessoais mais abertas e para o engajamento na participação do indivíduo na sua recuperação”, aponta Roberta Tanabe.  

A interação com o cão funciona a partir de outras premissas, diferentes daquelas vigentes nas relações de sociabilidade humana. Não há juízo de valor, preconceito ou condições a priori que estabeleçam a possibilidade do encontro. “Independentemente de ser criança ou adulto, a linguagem que vigora é a da ludicidade e da afetividade. Na suspensão temporária das preocupações e dos problemas, cria-se espaço para viver a experiência daquele momento, onde a espontaneidade, a presença e atenção em plenitude tomam parte da cena numa troca afetiva genuína”, explica Roberta.

Nesse sentido, a visita da Dra. Hope nas unidades de internação clínica pediátrica do IFF/Fiocruz ofereceu uma oportunidade inovadora de transformar a ambiência hospitalar com alegria, leveza e descontração. “Este efeito beneficia não só as crianças, mas também seus adultos cuidadores, sejam eles familiares ou da equipe de saúde”, acrescenta Roberta Tanabe.

Treinos e preparação da visita

“Tem muitas pessoas que perguntam se existe uma raça específica para levar para um hospital, e na verdade qualquer tipo de raça de pet pode se tornar um cão terapeuta, o importante é esse animal ser muito tranquilo. No caso da Hope, que é uma golden retriever, é uma raça que apresenta características que facilitam esse treino, então o fato de ter uma raça com características dóceis fazem uma grande diferença na hora de apresentar esse animal em um ambiente diferente, como o hospitalar”, comenta o coterapeuta e adestrador da Dra. Hope, André Donza.

O treino de um cão terapeuta é grande e muito específico. “É importante que a pessoa que quer preparar um animal para cão terapeuta, faça a escolha do filhote e desde esse momento seja treinado para isso, pois o processo de treinamento é árduo entre os primeiros 6 meses e 1 ano de vida, são treinos diários, contemplando em uma primeira fase o treino específico para filhotes, para depois avançar com os treinos especiais para responder ao apoio da área para que esse cão está sendo requerido”, explica André Donza.

“No caso da Hope, treinamos em maca, deitados na cama, treinamos para ela subir em uma cama com cuidado e sem machucar a criança deitada, para receber carinho de forma calma, evitando que ela lamba os acessos de curativos de cirurgias e aparelhos, e assim ela conseguir chegar perto de uma criança com sondas ou equipamentos sem ter contato direto com esses objetos. Os cachorros são animais com um olfato muito agudo, eles têm muita sensibilidade ao cheiro, por isso ela também foi treinada para se segurar e não ficar lambendo feridas, ela exerce muito bem essa função de não ultrapassar esses limites”, relata André.

Sobre a preparação pré-visita hospitalar da cadelinha terapeuta, seu adestrador e coterapeuta assegura que ela é muito rigorosa em relação a higienização da Dra. Hope. “Existe toda uma preparação para ela fazer uma visita hospitalar. Primeiro tem sua rotina de treinamento, porque é importante ela ter suas atividades para ser mais tranquila durante a visita e não chegar agitada querendo gastar energia, depois vem a higiene dos dentes com a escova, o banho no petshop para depois passar por uma higienização cuidadosa no cabelo e nas patinhas dela. Após, ela é levada direto para o hospital e pode ter o contato com as crianças, os pais e os especialistas da saúde”.
 
Benefícios da AAA

Diante da complexidade clínica das crianças e adolescentes atendidos no IFF/Fiocruz, longas e repetidas internações se associam a sobrecarga física e emocional de seus cuidadores. Para algumas crianças, a visita da cão terapeuta simbolizou seu primeiro contato com um animal. Para os adultos, foi um momento leve em meio às atividades diárias, com oportunidade de interação afetuosa.

Para finalizar, a pediatra e coordenadora do Núcleo Saúde e Brincar do IFF/Fiocruz, Roberta Tanabe, detalha alguns dos principais benefícios das intervenções assistidas por animais. Entre eles estão: físicos (melhora da mobilidade e da capacidade motora, relaxamento muscular e redução da sensação de dor); fisiológicos (diminuição da pressão arterial, do colesterol e do cortisol séricos; aumento na concentração plasmática de endorfina, prolactina e ocitocina, substâncias relacionadas ao bem-estar e prazer); cognitivos (melhora na capacidade de atenção e memória, estimulação das funções da fala); sociais (melhora do humor, da motivação, da disposição para interação social e na sensação de isolamento); emocionais (diminuição da ansiedade e do estresse, da agressividade, da hiperatividade em crianças hospitalizadas e aumento da autoestima); reações positivas pós-intervenção (melhora da alimentação, da adesão ao tratamento).

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