25/09/2020
Fonte: Fiocruz Pernambuco
Pesquisadores brasileiros envolvidos em estudos sobre vetores da leishmaniose encontraram, pela primeira vez nas Américas, larvas de um verme do gênero Onchocerca em mosquitos palha – nome popular dos flebótomos transmissores da leishmania. Trata-se de uma importante descoberta na área da Parasitologia, realizada por meio de colaboração entre a Universidade Federal do Acre (UFAC), a Fiocruz Pernambuco e o Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), da Universidade Nova de Lisboa (POR).
Para se chegar a esse resultado, uma ampla rede de estudiosos foi acionada. Tudo começou com a equipe multidisciplinar da UFAC, liderada pela professora Andrea Brilhante, que se surpreendeu ao encontrar fêmeas do mosquito palha infectadas com larvas de um verme desconhecido, mas semelhantes às filárias. O achado aconteceu por acaso, durante a dissecção de mosquitos coletados em Xapuri (AC) para identificar a presença de leishmanias. Os autores conseguiram ainda gravar um vídeo com o verme em movimento, disponível na publicação.
Com base na expertise de seus serviços de referência em filarioses e em culicídeos vetores, a Fiocruz PE foi acionada na busca de identificar a espécie do parasita. O trabalho de caracterização molecular das amostras utilizou equipamentos de última geração disponíveis no Núcleo de Plataformas Tecnológicas da instituição. Por fim, o estudo foi complementado com a análise filogenética, realizada pela pesquisadora do IHMT, Isabel Maurício.
Esse feito foi detalhado em um artigo, publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature, na última quinta-feira (17/09). Um dos autores, o pesquisador da Fiocruz PE Abraham Rocha, explica que foi possível classificar o gênero (Onchocerca), mas não a espécie do verme. “A larva encontrada no inseto, pelas suas características morfológicas, possivelmente estava no estágio L3, que é a forma infectante desse parasita”, completa o pesquisador. O que pode sugerir que o mosquito palha tenha um potencial para ser vetor desse parasita para animais e humanos, algo a ser confirmado em um dos múltiplos campos de investigação que se abrem a partir dessa descoberta. A caracterização molecular no estudo contou com a participação dos pesquisadores do Departamento de Entomologia, Alessandra Albuquerque e Marcelo Paiva e foi coordenada pela pesquisadora Constância Ayres.
O artigo informa que não há registro de doenças parasitárias causadas por filárias no município de Xapuri. Porém cita que, no passado, havia a ocorrência nas circunvizinhanças de Mansonella ozzardi (filária pertencente à Família Onchocercidae) largamente endêmica na Região do Amazonas. “A alta prevalência da doença e sua importância para a saúde pública na Amazônia brasileira estão se tornando cada vez mais evidentes”, ressalta Rocha. Até o momento, o vetor implicado nessa transmissão é o maruim, pium ou borrachudo.
Porém a partir dessa descoberta, novas perguntas surgem, não apenas sobre o vetor, mas sobre o parasita em si. Para os cientistas, levando em conta as relações filogenéticas e a localização onde foram encontrados os insetos infectados, a expectativa é de que esse seja um parasita de mamíferos e seu ciclo de transmissão poderá ser esclarecido em novos estudos.
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