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Boletim Covid-19 Fiocruz foi referência sobre a pandemia em 2021


23/12/2021

Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)

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Ao longo de 2021, o Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz se consolidou como uma publicação de referência sobre a pandemia e suas edições – primeiro quinzenais, depois semanais – foram uma grande fonte de pautas para a imprensa, gerando uma expressiva repercussão, nacional e mesmo internacional. O Boletim, cuja primeira edição de 2021 foi publicada em 23 de janeiro, causou grande impacto nas redes sociais da Fundação, com as edições tendo sempre um alcance muito alto, acima da média de outras postagens.

Formado por pesquisadores de áreas diversas, que trabalham de modo colaborativo, o Boletim traz informação de qualidade, respaldada por análises técnicas e científicas a respeito de cada uma das semanas epidemiológicas do ano, e contribui para levar conhecimento sobre a pandemia a jornalistas, gestores e população em geral. O Observatório, que publicou 47 edições do Boletim em 2021, com dados sobre os indicadores chave para o monitoramento da pandemia no Brasil e suas unidades federativas, produziu também notas técnicas, com análises de temas específicos (variantes de preocupação, vigilância de efeitos adversos de vacinas etc) e propostas para o Sistema Único de Saúde (SUS). E, como em 2020, lançou uma cartilha com recomendações para as festas de fim de ano.

Dos 47 boletins epidemiológicos, 22 foram regulares, trazendo informações de cada quinzena passada; 1 foi especial, abordando a chegada à infeliz marca dos 500 mil mortos; e 23 foram extraordinários. Estes últimos são um tipo de publicação que passou a ser feita pela necessidade de alerta de uma situação de colapso do sistema de saúde, com indicadores em níveis alarmantes, ultrapassando o patamar de mil óbitos diários.

O primeiro Boletim de 2021 reforçou o alerta dado em dezembro, sobre o crescimento do número de casos. De acordo com o pesquisador Carlos Machado, coordenador do Observatório Covid-19 Fiocruz, a edição mais importante foi a de 3 de março, que fez o alarme da crise do sistema de saúde.

“Em janeiro e fevereiro apontamos o aumento de casos de óbitos e internações, mas foi em março que o Boletim passou a ser semanal, para dar conta do cenário de crise e colapso do sistema de saúde. Em março procuramos não só analisar melhor a crise, mas também propor estratégias de enfrentamento para a saída. Em abril e maio acompanhamos atentamente a crise, propondo a adoção de medidas não-farmacológicas de modo mais rigoroso e intenso, como lockdown. Entre maio e junho combinamos o reforço da necessidade de ampliar e aceleração a vacinação com as medidas de não farmacológicas. A partir de julho centramos grande parte da nossa atenção na necessidade e importância das vacinas e de estruturação do processo de vacinação de modo coordenado em todo país”, recorda Machado.

Segundo ele, “ficou nítido o quanto a vacinação contribuiu para a melhora dos números, que começaram a cair. Desde então estamos reforçando isso e abordando os núcleos mais vulneráveis, os efeitos da Covid longa, que gera uma grande preocupação pelo que vai ficar depois no sistema de saúde”.

A edição a que se refere o coordenador teve imensa repercussão e destaque na imprensa. “Naquele momento demos muitas entrevistas, inclusive para veículos de comunicação internacionais, que tomaram conhecimento do vídeo que produzimos, juntamente com a Coordenação de Comunicação Social da Fiocruz, sobre a crise no sistema de saúde. Além de todos os grandes órgãos de imprensa brasileiros, também falamos para The Washington PostThe New York TimesThe Guardian, BBC de Londres e outros. Foi um marco”. E não apenas esta, mas todas as edições do Boletim tornaram-se uma recorrente fonte de referência para a população e pautas para a imprensa.

Para Machado, aquele momento foi também um marco para o próprio grupo de pesquisadores do Observatório. “Até então, apesar de estarmos monitorando a pandemia, os dados de internações em UTI eram complementares, não tinham a relevância no sentido de alerta, como veio a ser posteriormente. O foco maior era nos dados de casos e óbitos. O nosso maior temor era que o número de internações superasse a capacidade de atendimento do sistema de saúde, o que seria uma crise dentro da crise. E isso aconteceu”.

O coordenador afirma que “a imprensa foi uma importante parceira, que apoiou a Fiocruz e o Observatório, transmitindo o nosso conhecimento para a população. O Boletim fez uma forte divulgação, que a imprensa ecoou, das medidas não farmacológicas, como distanciamento social, uso de máscaras e higienização das mãos. Procuramos combinar sempre diagnósticos da situação da pandemia com medidas de enfrentamento, o que não é muito comum em publicações do tipo”.

As entrevistas foram centradas em seis pesquisadores (Margareth Portela, Raphael Guimarães, Christovam Barcellos, Daniel Villela, Diego Xavier e Carlos Machado). Essa comunicação intensa com jornalistas deixou lições para os especialistas. “Um grande aprendizado, que ressalto sempre. Nós, pesquisadores, fomos treinados para fazer comunicação acadêmica, como congressos, seminários, artigos em revistas científicas etc. Mas não para  atender a imprensa como mediadora para chegar ao grande público. Com isso aprendemos a fazer uma comunicação mais direta e breve, mais clara e concisa. Se o tempo num congresso é de 15 ou 20 minutos, com a imprensa, sobretudo no caso da TV, o recado precisa ser transmitido em 3, 2 ou mesmo 1 minuto. Essa particularidade também nos levou a ser mais estratégicos ao falar”.

O contato frequente com a imprensa também permitiu que os pesquisadores passassem, a partir das questões colocadas, a entender melhor as demandas de informação da sociedade. “A experiencia de Araraquara, que fez um rigoroso lockdown, nos levou a sistematizar aquela experiência como uma forma de responder com o que sabemos fazer. E assim produzimos textos que ajudaram a respaldar as medidas de contenção, que foi feito com insistência”.

Machado adianta que a partir de 2022 o Boletim passará a ser quinzenal. O foco, para além, claro, do acompanhamento da pandemia, será trazer análises ainda mais detalhadas do impacto da vacinação em alguns grupos. “A pandemia provavelmente deixará de ter um caráter generalizado, atingindo o país de forma quase homogênea, e poderá ter como características surtos mais locais. E vamos focar nas medidas não farmacológicas, sobretudo se a Ômicron (ou outra variante) se espalhar, e insistir na dose de reforço. E, claro, continuar acompanhando a evolução da vacinação. É importante ainda lembrar da importância de vacinar crianças e adolescentes”, observa o coordenador do Boletim.

Confira ainda outros destaques do ano na Retrospectiva Fiocruz 2021 da Agência Fiocruz de Notícias.

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