Na ciência, existem áreas que, mesmo pouco conhecidas, são fundamentais para o avanço científico. É o caso dos chamados biobancos, centros capazes de armazenar amostras biológicas humanas, como sangue ou tecido, além de dados clínicos e demográficos. Para tratar desse tema, a Fiocruz, The Global Health Network América Latina e o Caribe (TGHN LAC), em parceria com a Universidad Peruana Cayetano Heredia (UPCH) e a Rede Fiocruz de Biobancos (RFBB), fizeram um webinário internacional no dia 19 de março.
O evento reforçou o valor da colaboração entre países e instituições na construção de boas práticas em pesquisa, como tem sido feito entre a UPCH e a Fiocruz, por meio da TGHN LAC, para o estabelecimento de uma colaboração interinstitucional em biobancos (Twinning). Com tradução simultânea em três idiomas e participantes de diferentes países da América Latina, o webinário destacou a experiência da Fiocruz, que pode servir de inspiração para adaptação a outros centros latino-americanos.
Uma rede que cresce e se fortalece
A coordenadora executiva da RFBB, Daiane Sertorio, apresentou os marcos e desafios enfrentados pela Rede de Biobancos da Fiocruz desde sua criação. Desenvolvida para integrar e harmonizar a gestão de biobancos nas diversas unidades da Fundação, a rede se consolida como uma iniciativa estratégica para garantir qualidade, rastreabilidade e ética no uso de amostras humanas para pesquisa.
“Na Rede Fiocruz de Biobancos, nós trabalhamos com biobancos e com a transferência de biorrepositórios* para biobancos, para que haja essa migração do material biológico e, consequentemente, da gestão, dos prazos e dos consentimentos”, comentou Daiane.
Harmonização que gera equidade
A assistente de coordenação da RFBB, Sarah Benevenuto, reforçou a importância da harmonização de protocolos entre os biobancos da rede. Mais do que uma exigência técnica, a padronização é conduzida de forma a incluir todos os biobancos, funcionando como uma estratégia de equidade científica. “Nós conseguimos respeitar a especificidade de cada biobanco e alinhá-los aos critérios mínimos comuns que são estabelecidos na harmonização desses procedimentos”, comentou Sarah, explicando que, com isso, centros de diferentes portes e localizações conseguem compartilhar dados e amostras em condições semelhantes, o que resulta em procedimentos com mais qualidade para as pesquisas.
A apresentação do gerente de qualidade da Plataforma de Pesquisa Clínica da Fiocruz, Rodrigues Pereira, abordou a implementação de um sistema de gestão da qualidade nos biobancos da instituição. “Com um sistema de gestão da qualidade implementado, facilita-se, por exemplo, a adoção da norma ISO 20387:2018”, afirmou Rodrigues. A certificação internacional é essencial para consolidar a credibilidade da rede em âmbito global, abrindo portas para novas colaborações científicas.
Já a apresentação da pesquisadora clínica do Instituto Aggeu Magalhães, a Fiocruz Pernambuco, Cristiane Bresani, trouxe um exemplo concreto: a experiência de implementação de um biobanco em sua unidade. “Minha fala com vocês aqui hoje é mais no sentido de compartilhar essa experiência, para que talvez sirva de exemplo para alguém, alguma equipe ou algum serviço”, disse Cristiane. Em sua apresentação, reforçou o que disse Sarah Benevenuto em sua fala: “Um biobanco pode ser uma estrutura muito pequena e muito simples, como está sendo o nosso aqui no Nordeste do Brasil”, comentou a pesquisadora.
Pontes para o futuro
A diretora da Diretoria de Assuntos Regulatórios de Pesquisa da UPCH, Cinthia Hurtado, e o moderador, também da UPCH, Henry Anchante, reforçaram a importância de eventos como o webinário, realizados entre instituições, para aproximar centros da América Latina e do Caribe e, com isso, fortalecer parcerias científicas na região.
A experiência da Fiocruz mostrou que, quando pesquisadores e gestores se organizam em rede, é possível colaborar de forma efetiva com o trabalho de outros cientistas.
*Ficou com dúvida sobre a diferença entre biobanco e biorrepositório? O biobanco é um tipo de reservatório de longa duração, cujos materiais armazenados podem ser utilizados em pesquisas distintas e ficam sob responsabilidade da instituição. Já os biorrepositórios são reservatórios de curta duração. Seus materiais são utilizados em pesquisas pontuais, normalmente ficando sob responsabilidade do pesquisador.