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Margareth Dalcolmo alerta: "O risco hoje é que uma epidemia de H5N1 possa ocorrer"


12/03/2025

Danielle Monteiro (Ensp/Fiocruz)

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Em palestra ministrada na manhã desta segunda-feira (10/3), na Semana de Abertura do Ano Letivo da ENSP, a pneumologista e pesquisadora da Escola, Margareth Dalcolmo, alertou que os profissionais de saúde precisam estar preparados para futuras pandemias e chamou a atenção para os efeitos das recentes medidas do governo norte-americano na saúde pública mundial. Entre eles, o aumento dos riscos de epidemia com o vírus da influenza A subtipo H5N1 e de ressurgimento de casos de doenças altamente contagiosas no Brasil, como o sarampo. 

Ao iniciar sua apresentação intitulada ‘Como podemos olhar o futuro da saúde?’, a pneumologista lamentou que comunidades como as do entorno da Fiocruz sofram de condições de vida inaceitáveis, sendo acometidas por uma doença milenar - a tuberculose-, com incidência de 300 casos por 100 mil habitantes e situação epidemiológica comparada a países como Bangladesh. 

Margareth também lastimou que o acesso ao monitoramento da circulação de novos vírus, oferecido pela agência americana CDC (Centers for Disease Control and Prevention, em inglês), foi interrompido em função das novas medidas adotadas pelo governo estadunidense. Para a pneumologista, essas determinações devem provocar um forte impacto na saúde pública mundial e requerem a adoção de ações que, embora delicadas sob uma perspectiva diplomática, são fundamentais a partir do ponto de vista sanitário. “Como não temos mais acesso aos dados, não sei se esse é atualizado, mas já há 114 casos de sarampo no estado do Texas, com duas mortes: um adulto e uma criança não vacinados. Já é hora de o Brasil começar a pedir certificado de vacina para a doença para os norte-americanos que vierem ao país. Nós não temos um caso de sarampo no Brasil há dois anos, não foi fácil recuperar os índices e as taxas de cobertura. Da mesma maneira, sempre nos foi exigido pelos Estados Unidos, com muito rigor, nosso certificado de vacina”, alertou. 

A pneumologista destacou que, apesar de, até o momento, não ter ocorrido o fenômeno ‘Spillover’ (quando um vírus consegue se adaptar e migrar de uma espécie de hospedeiro para outra), existe a possibilidade de surgimento de uma epidemia de H5N1, pois já foi registrada a primeira morte pela doença em humanos nos EUA, além de haver contaminação no gado leiteiro e em animais domésticos em solo americano: “O risco hoje, para nós, é que uma epidemia de H5N1 possa ocorrer”.

Segundo Margareth, em meio à possibilidade de uma nova epidemia, persiste, nos Estados Unidos, um discurso negacionista que desqualifica a ciência, além de faltar, ainda, uma forte movimentação acadêmica norte-americana que conteste essas crenças. "Hoje, com a falta de controle, já houve a primeira morte por H5N1 em pessoas. Tivemos um caso grave no Canadá, autóctone. Os outros casos são todos americanos, nascidos naquele Meio Oeste das grandes fazendas com gado leiteiro. Em paralelo, o Ministério da Saúde dos Estados Unidos diz que é para as pessoas tomarem leite cru. Louis Pasteur, uma pessoa tão importante na nossa formação, criou, há 200 anos, a pasteurização. Todo mundo sabe que ferver o leite é a melhor maneira de oferecer um leite saudável para todos. Porém, aquele é o discurso que temos ouvido impunemente até agora", lamentou. 

A pneumologista também reforçou a importância das vacinas no enfrentamento a doenças no mundo e chamou a atenção para o protagonismo do Plano Nacional de Imunizações (PNI) no aumento da expectativa de vida no Brasil nos últimos 40 anos. 

Margareth defendeu que o governo e os profissionais de saúde brasileiros precisam estar preparados para um futuro cenário marcado por fatores como o surgimento de novas pandemias e o envelhecimento populacional. E como eles podem se planejar para esse novo contexto?  Compreendendo a história do homem nas epidemias, e adquirindo, assim, “um olhar para o futuro com segurança”, segundo Margareth. 
 

Ela também destacou que, além do conhecimento histórico, o profissional de saúde do futuro precisa ter paixão por sua profissão, ambições, competência técnica consistente e capacidade de liderança, além de conhecer políticas públicas de saúde e técnicas de comunicação e ser detentor de inteligência emocional, competência de gestão e compromisso permanente com o aprendizado. Trabalhar em equipe, conhecer tecnologias da informação, processo e qualidade, assim como reconhecer outras culturas, também são elementos que devem constar na lista de atributos desses futuros profissionais, conforme pontuou Margareth.

“É preciso entender que teremos outras pandemias e ainda seremos exauridos na nossa capacidade de resposta e resiliência como profissionais de saúde. Nunca foi tão necessário termos conhecimento, capacidade de liderança, solidariedade e, sobretudo, não sermos frios”, concluiu a pneumologista.

Assista à transmissão completa da palestra

Confira a programação completa da Semana de Abertura do Ano Letivo da ENSP

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