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Fiocruz e coletivos de favelas divulgam resultados de pesquisa sobre comunicação comunitária


12/12/2024

Luiza Gomes e Mariana Moebus (Cooperação Social/ Fiocruz)

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A Fiocruz, em parceria com coletivos de favelas, divulgou no dia 30 de novembro parte dos dados da pesquisa "Geração cidadã de dados: cartografia de coletivos de comunicação comunitária para promoção da saúde". A roda de conversa “Comunicação Comunitária é Saúde” ocorreu durante o “Circulando: Diálogo e Comunicação nas Favelas”, evento anual organizado pelo Instituto Raízes em Movimento desde 2017 no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. O estudo contou com fomento do Programa de Pesquisa Translacional em Promoção da Saúde (Fio-Promos). 

Durante o encontro, que reuniu cerca de 16 pessoas em um dia de intenso calor no terraço da Escola Quilombista Dandara de Palmares, foi pautada a importância do trabalho da comunicação comunitária para promoção da saúde nos territórios de favelas e periferias. Neste dia, foi distribuída a versão impressa do mapa com as iniciativas de comunicação comunitária da Área Programática (AP) 3.1, que reúne 28 bairros e abriga territórios como os complexos do Alemão, Manguinhos e Maré e a favela do Jacarezinho (representada na pesquisa pelo Instituto Decodifica, antigo LabJACA).  


O encontro reuniu a equipe do projeto, comunicadores comunitários, moradores e lideranças locais. (Foto: Mariana Moebus)

Além do mapa,  foram apresentados os Indicadores de Comunicação Comunitária para Promoção da Saúde, que identificam características do trabalho realizado pelos comunicadores populares no que diz respeito a: Autoidentificação do coletivo; Infraestrutura disponível; Recursos humanos; Mídias sociais; Impacto na promoção da saúde; Promoção do acesso e da participação comunitária; Conexões com outros coletivos. Segundo os participantes da pesquisa, a metodologia deverá ser revista e ampliada para identificar essas características em coletivos da cidade do Rio de Janeiro. 

O estudo foi uma iniciativa da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), Cooperação Social da Presidência da Fiocruz (CCSP/Fiocruz), Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) - por meio do Dicionário de Favelas Marielle Franco (Wikifavelas) - e de comunicadores da Frente de Mobilização da Maré, do Jornal Fala Manguinhos, do Instituto Decodifica (antigo LabJACA) e do Instituto Raízes em Movimento. 

 “Uma das nossas preocupações com o resultado do projeto, é estimular políticas públicas que destine recursos para essa comunicação, que é muito importante e que impacta a sociedade”, afirmou Cristiane D’Ávila, jornalista da COC e coordenadora do projeto.  

Comunicação comunitária é saúde 

Durante o encontro, foram discutidos o papel da comunicação comunitária, os determinantes sociais de saúde, desafios que coletivos e comunicadores enfrentam e a importância de incentivo financeiro para as iniciativas funcionarem. A roda de conversa contou com a participação da equipe do projeto e de representantes de coletivos de outras favelas. Entre os presentes, estavam membros do Instituto Raízes em Movimento, dos jornais comunitários Voz das Comunidades e Fala Manguinhos!,  moradores e lideranças sociais. 


Fala de David Amen, jornalista e co-fundador do Instituto Raízes em Movimento. (Foto: Mariana Moebus)

Felipe Eugênio, coordenador da área de cultura da Cooperação Social, representou a coordenação da Presidência no evento. "A saúde não é definida somente pelo adoecimento e sim pelas condições múltiplas de como a vida é organizada. Por isso que a Cooperação Social, quando trabalha o campo da promoção de saúde, mostra que a pertinência de estar aqui não é só uma questão voluntária da Fiocruz, mas também um debate colocado na Organização Mundial da Saúde (OMS) e em outras conferências de saúde internacionais que vão compreender a saúde por um outro viés”, pontuou. 

“A gente trabalha  visando à construção de políticas públicas saudáveis e elas são construídas em conjunto com os sujeitos que são diretamente afetados por aquele problema social. Com a cartografia, feita de forma colaborativa, a gente consegue entender melhor o quanto a comunicação comunitária é importante para promoção de saúde nesses territórios", argumentou. 

A coordenadora da área de Comunicação da CCSP, Luiza Gomes, defendeu que essa relação entre comunicação comunitária e saúde pode não parecer óbvia, mas vem sendo trabalhada em documentos oficiais de organismos transnacionais. “Se você fizer uma pesquisa sobre os planos estratégicos da OMS de combate a Zika, por exemplo, você verifica que já existe o início de um movimento desses organismos internacionais de identificar a mobilização e a comunicação comunitária como um elemento chave para que informações produzidas pela ciência possam ser capilarizadas”, explicou. 


Fala de Luiza Gomes, coordenadora da área de Comunicação da CCSP. (Foto: Mariana Moebus)

Em uma de suas falas, Cristiane valorizou a dedicação e a luta dos comunicadores populares para melhorar as condições de vida de seus territórios. “Esse projeto tem a felicidade de conseguir produzir resultados materiais, como o mapa com indicadores, podcast com entrevistas e os verbetes. Mas se existe possibilidade de transformação da nossa realidade, eu acredito que seja por esse tipo de comunicação”, enfatizou Cristiane d’Avila. 

"Para o Instituto Raízes em Movimento, participar de uma pesquisa que mapeia comunicadores e veículos de comunicação comunitária nas periferias é uma conquista. A gente tem trabalhado muito para de fato efetivar o protagonismo das favelas. Também é muito importante e simbólico a gente fazer o lançamento dos resultados da pesquisa aqui na Escola Quilombista Dandara de Palmares, um espaço revolucionário que trabalha conceitos de antirracismo com crianças do Complexo do Alemão", afirmou David Amen, jornalista e co-fundador do Instituto Raízes em Movimento. 

Comunicação como diálogo 

Fábio Monteiro, diretor e editor chefe do Jornal Fala Manguinhos!, falou sobre o valor da comunicação comunitária estar assentado no diálogo e na troca com a população. "A comunicação comunitária em saúde não pode se resumir em informação da saúde, precisa haver troca. É desafiador divulgar uma pesquisa complexa sobre saúde, mas é importante que a gente se esforce para que ela seja comunicativa, não somente informativa. É necessário o debate com a população para que a comunicação se efetive", salientou. 

A moradora Lucia Cabral - coordenadora da ONG Educap, assistente social do projeto Vidançar e Prónasci Juventude, e integrante do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET - Saúde) da UFRJ - destacou a importância da comunicação para a retomada do protagonismo das favelas nas políticas públicas.  

"A comunicação comunitária tem muito de Paulo Freire, porque são trocas de saberes. Muitas vezes a informação em saúde não chega para quem está na comunidade, então é importante a gente mostrar que a favela é potente para que as pessoas não construam políticas sem nos escutar. Quando a Fiocruz vem e faz uma pesquisa como essa, traz também o reconhecimento do nosso trabalho, nos coloca como parte da história", afirmou.  


Entrega dos mapas impressos com as iniciativas de comunicação da Área Programática (AP) 3.1. (Foto: Mariana Moebus)

O projeto de pesquisa ‘Geração cidadã de dados: cartografia de coletivos de comunicação comunitária para promoção da saúde’  é uma iniciativa da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), da Cooperação Social da Presidência da Fiocruz, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) - por meio do Dicionário de Favelas Marielle Franco (Wikifavelas) - e de comunicadores da Frente de Mobilização da Maré, do Jornal Fala Manguinhos, do Instituto Decodifica (antigo LabJACA) e do Instituto Raízes em Movimento. 

Resultados da pesquisa 


O mapa produzido pela pesquisa-intervenção participativa – metodologia que inclui participantes “não-pesquisadores” nas decisões - já está disponível na plataforma ViconSaga. O mapa apresenta iniciativas de comunicação comunitária da Área Programática 3.1 (AP) do Rio de Janeiro e exibe os indicadores desenvolvidos pela instituição em parceria com coletivos locais. A área engloba 28 bairros, entre eles, Cidade Universitária; Penha; Brás de Pina; Olaria; Penha Circular; Cordovil; Vigário Geral; Jardim América; Parada de Lucas; Maré; Complexo do Alemão; Ramos; Manguinhos; e Bonsucesso, entre outros. A Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro possui dois de seus campi na região. 

 

 

O primeiro episódio da série de podcast “Comunicação comunitária é saúde” já está disponível no spotify do Radar Saúde Favela. A faixa de estreia conta com a participação de Gizele Martins, comunicadora popular do Complexo da Maré. Os verbetes do Dicionário de Favelas Marielle Franco podem ser acessados aqui. A cobertura do evento, realizada pelo Canal Saúde, pode ser vista aqui. 

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