22/10/2024
Vinicius Ferreira (IOC/Fiocruz)
Projeto Guardiãs das Matas promoverá qualificação em educação ambiental para 125 mulheres de diversas regiões da cidade do Rio. Foto: Gutemberg Brito
Teve início na manhã da última segunda-feira, 14/10, o curso de qualificação profissional “Guardiãs das Matas: formação qualificada de lideranças femininas comunitárias em educação ambiental crítica em territórios vulneráveis no Rio de Janeiro”.
Coordenada pela Secretaria Municipal de Ambiente e Clima do Rio de Janeiro, a iniciativa tem parceria do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) por meio do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental, responsável pelas aulas teóricas e práticas.
O projeto tem como objetivo valorizar e empoderar lideranças comunitárias femininas de diferentes localidades da cidade, além de ajudar a preservar a Mata Atlântica.
De Guaratiba, na Zona Oeste, a guardiã Márcia Vieira conta que, desde o lançamento da qualificação, em março de 2023, tem conseguido ajudar a vizinhança de diversas formas.
Empoderamento feminino: mulheres pretas de comunidades vulnerabilizadas receberão qualificação para multiplicarem o conhecimento em educação ambiental em seus bairros. Foto: Gutemberg Brito
“Aprendi a reciclar o lixo corretamente. Também participo rotineiramente de reuniões com as lideranças no meu território e tenho a oportunidade de ajudar muitos moradores, principalmente em situações ligadas à saúde, em casos de dengue e tuberculose”, disse emocionada.
Assim como Márcia e outras guardiãs da localidade, que organizaram um bazar para arrecadar dinheiro para custear o deslocamento até o campus da Fiocruz, em Manguinhos, na Zona Norte, distante cerca de 50km, a aula inaugural estava repleta de mulheres que sonham e lutam por um presente melhor e um futuro mais digno e inclusivo.
Durante o encontro, elas fizeram questão de ressaltar que já percebem o papel essencial que desempenham como ativistas locais, trabalhando para melhorar as condições ambientais e sociais de suas comunidades.
“O Olhar delas”: aula inaugural foi marcada por exposição de fotos que registra as belezas e problemas dos territórios tiradas pelas próprias guardiãs. Fotos: Gutemberg Brito
“Hoje, o meu olhar para o meu território e o olhar do meu território para mim são diferentes. E essa transformação começou dentro de mim. Tenho vivido uma troca constante de fazeres e saberes”, frisou Leila de Souza Neto, de Pedra de Guaratiba.
Elas também destacaram a atuação de cada uma como forma de promover qualidade de vida para a região.
“As guardiãs são um link do poder público com a comunidade. Juntamente com agentes comunitários e os agentes de saúde, chegamos nas casas e fornecemos informações de saúde e de educação ambiental”, contou a guardiã Morgana Lima, do Morro do Calango, na Praça Seca.
A hora é agora
Presente na aula inaugural, a vereadora Tainá de Paula, idealizadora da iniciativa, enalteceu a força de vontade e o compromisso demonstrados por cada guardiã.
"Pensar a participação das mulheres na agenda pública da cidade foi um grande passo. E não foi fácil. Muitos questionaram o empoderamento da mulher negra para tratar da pauta ambiental. Gratidão por vocês terem acreditado no projeto. Vocês são fruto de um entendimento que é cada vez mais urgente de que há necessidade de lideranças femininas em todas as áreas. Vocês são peça fundamental na restauração climática e ambiental que a gente acredita que é possível. A solução passa por vocês. Não tem plano B para o meio ambiente e não tem plano B sem o nosso protagonismo e trajetórias incluídos nesse processo”, salientou.
Para Vitória Torres, coordenadora geral do projeto pela Secretaria Municipal de Ambiente e Clima, as ‘Guardiãs das Matas’ podem ser resumidas como uma verdadeira celebração.
Projeto é uma parceria entre a Prefeitura do Rio de Janeiro e o Instituto Oswaldo Cruz. Foto: Gutemberg Brito
“Este programa é mais que uma iniciativa, é uma celebração. O programa nasce a partir da necessidade do recorte feminino. Vocês estão se qualificando, tendo cursos muito importantes, que vocês vão levar pra vida e vão deixar marcas nos territórios”, registrou.
Pesquisadora do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental e coordenadora da iniciativa no IOC, Clélia Christina Mello-Silva, comentou a dimensão do projeto.
“Participam 125 mulheres de localidades de norte a sul da capital, como Fallet/Fogueteiro, Providência, Guararapes, Horto, Chapéu Mangueira, Morro Azul, Rocinha, Borel, Complexo do Lins, Macacos, Pedra de Guaratiba, Santa Cruz, Vila Kennedy, Pingo d’água, Alemão e Mangueira. Ao todo, são 25 territórios, englobando todas as áreas verdes da cidade com proximidade com áreas de proteção ambiental”, compartilhou.
Prestigiando a cerimônia, a diretora do IOC, Tania Araujo-Jorge, salientou o significado da palavra guardiã.
“É muito lindo ver esse auditório cheio de mulheres se qualificando. Uma guardiã é alguém que toma conta do lugar com carinho, para o legado da posteridade. Também é motivo de orgulho que esse projeto tenha nascido a partir da Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde do Instituto. As mulheres têm que estar em lugar de ação e poder. Se apropriem de tudo o que puderem e deixem suas marcas e legados aqui”, bradou.
Elizabeth Rangel, vice-diretora de Laboratórios de Referência, Ambulatórios e Coleções Biológicas, comentou sobre como as guardiãs podem ser fonte de inspiração para a geração futura.
Representantes do IOC e da Prefeitura do Rio durante abertura da aula inaugural. Foto: Gutemberg Brito
“O Instituto Oswaldo Cruz abraça e tem muito orgulho dessa iniciativa. Ver mulheres empoderadas nos mais diferentes campos é uma grande satisfação. Vocês têm um trabalho importante pela frente, um grande desafio. Vocês serão um incentivo para as mulheres mais jovens. Que vocês levem a transformação para os seus territórios”, clamou.
Hélio Vanderlei, subsecretário de Biodiversidade da Secretaria Municipal do Ambiente e Clima, destacou o privilégio que é receber qualificação pela Fiocruz.
“Este é um projeto inovador, que não existe em nenhum outro local do país. Ele empodera as mulheres das comunidades. Tenho certeza que as aulas ficarão para sempre na percepção de cada uma de vocês”, disse.
A previsão é de que as aulas sejam realizadas às segundas e terças-feiras, até fevereiro de 2025.
Mais em outros sítios da Fiocruz