24/07/2024
Por: Juliana Brum (IFF/Fiocruz)*
O mês de julho é dedicado ao combate às hepatites virais. Hepatites são doenças infecciosas causadas por vírus que provocam a inflamação do fígado, podendo ser agudas ou crônicas. Os vírus que causam hepatite são conhecidos por A, B, C, D e E, sendo os mais relevantes no Brasil os vírus A, B e C.
O Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais é celebrado no dia 28 de julho, data instituída pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no ano de 2010. A mobilização tem como objetivo reforçar as ações de vigilância, prevenção e controle da doença. De acordo com o Ministério da Saúde, entre 2000 e 2022 foram confirmados 750.651 casos de hepatites virais no Brasil.
Para esclarecer algumas dúvidas sobre o tema, convidamos as infectologistas da Enfermaria de Doenças Infecciosas Pediátricas (Dipe) do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Sheila Pone, Ingryd Menezes, Jade de Oliveira e Silvia Moreira.
Quais são as formas de transmissão?
A transmissão da hepatite A ocorre pela via fecal-oral, quando uma pessoa ingere água ou alimentos contaminados por fezes. Já os vírus das hepatites B e C, são transmitidos pela via sexual e através do contato com sangue contaminado (compartilhamento de seringas e agulhas, materiais de tatuagem, manicure e pedicure não esterilizados, lâminas de barbear etc.), além da transmissão vertical, que ocorre quando a mãe transmite o vírus para o bebê na gestação ou durante o parto.
Como identificar os sinais e sintomas de alerta?
Nem sempre as hepatites apresentam sintomas, podendo ser consideradas doenças silenciosas. Quando sintomas estão presentes, podemos observar febre, mal-estar, cansaço, enjoo, vômitos, dor abdominal, icterícia (pele e olhos amarelados), urina escura e fezes esbranquiçadas.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico inicial é feito através de exames de sangue específicos chamados sorologias. Para as hepatites B e C, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece também os chamados testes rápidos, que utilizam apenas uma gota de sangue para verificar se a pessoa já teve contato com os vírus, com resultado imediato. Depois disso, se necessário, podem ser solicitados outros exames para avaliar o funcionamento do fígado, genotipagem para identificação do subtipo de vírus e exames de imagem (como ultrassonografia e tomografia), principalmente para identificar sinais de complicação e orientar o tratamento.
Qual é o tratamento indicado?
O tratamento varia conforme o tipo específico de hepatite. No caso da hepatite A, é recomendado repouso, hidratação e alimentação adequados, além do uso de medicações sintomáticas para alívio de febre ou dor. A maioria dos pacientes se recupera em semanas ou meses.
No caso da hepatite B, a maioria dos casos cursa como doença autolimitada, tendo tratamento semelhante ao da hepatite A. Porém, alguns pacientes irão evoluir com a doença na forma crônica e, nesses casos, o tratamento é realizado com medicações antivirais disponíveis no SUS, que podem controlar a infecção e minimizar as chances de evolução para cirrose ou câncer de fígado.
Com relação à hepatite C, houve um avanço significativo no tratamento com medicamentos mais seguros e eficazes, também fornecidos pelo SUS, com capacidade de curar mais de 95% dos casos.
Existe alguma forma de prevenir as hepatites?
A melhor forma de prevenir as hepatites é através da vacinação. Para hepatite A, a vacina está disponível gratuitamente pelo SUS para crianças a partir de 15 meses até 5 anos incompletos. Já no caso da vacina para hepatite B, a recomendação é que seja aplicada a primeira dose no recém-nascido nas primeiras 12 horas de vida, e as doses subsequentes no 2º, 4º e 6º mês de vida. Também está disponível pelo SUS para todas as pessoas não vacinadas, independentemente da idade.
Outras formas de prevenção incluem boas práticas de higiene como lavagem das mãos e consumo de água potável. Nas hepatites que são transmitidas por via sexual ou através de sangue contaminado, o uso de camisinha nas relações sexuais e não compartilhamento de objetos de uso pessoal, também ajudam na prevenção à doença.
Existe cura para essas doenças?
A possibilidade de cura varia de acordo com o tipo. Na hepatite A, como é uma doença autolimitada, na maioria das vezes os pacientes se recuperam completamente em semanas a meses, podendo em casos raros evoluir para insuficiência hepática fulminante. Nos casos de infecção crônica pelos vírus da hepatite B, não há cura definitiva, sendo realizado apenas tratamento para evitar progressão e possíveis complicações da doença. Já na infecção pelo vírus da hepatite C, a cura pode ser alcançada, principalmente se o tratamento for iniciado o mais precocemente possível.
Como o IFF/Fiocruz atua no combate às hepatites virais?
A promoção à prevenção e diagnóstico da doença é a principal estratégia para diminuir os casos de hepatite. O IFF/Fiocruz possui papel fundamental na prevenção da transmissão vertical, com o acompanhamento pré-natal das gestantes e dos recém-nascidos expostos aos vírus. São realizados testes diagnósticos, aplicação da vacina nas primeiras 12 horas de vida e, nos casos necessários, imunoglobulina anti-hepatite B.
Além disso, é papel de todo profissional de saúde esclarecer a população sobre a importância da vacinação, além de orientar medidas de higiene, práticas sexuais seguras e o não compartilhamento de objetos de uso pessoal que possam estar contaminados, como escovas de dente, lâminas e seringas.
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