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Fiocruz reforça estratégia contra dengue com novas fases do projeto Wolbachia


29/04/2024

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O Método Wolbachia, patenteado pelo World Mosquito Program (WMP) e conduzido no Brasil pela Fiocruz, com financiamento do Ministério da Saúde, vive um momento de expansão no país: o programa em Joinville (SC), Foz do Iguaçu (PR) e Londrina (PR) entra em nova fase com um trabalho de engajamento da comunidade, e a biofábrica do Rio de Janeiro recebe equipamentos de última geração para escalonar a sua produção de mosquitos Wolbitos. O trabalho de engajamento comunitário começará a ser realizado em breve também em Uberlândia (MG), Presidente Prudente (SP) e Natal.

Insetário da biofábrica do Rio de Janeiro (foto: Flávio Carvalho/WMP Brasil)  

Soma-se a isso a conclusão, nesta segunda-feira (29/4), das obras da biofábrica de Belo Horizonte, parte de um acordo da Vale S.A. para reparar os danos decorrentes do rompimento das barragens da mineradora, em Brumadinho, em janeiro de 2019, que tirou a vida de 272 pessoas e gerou uma série de impactos sociais, econômicos e ambientais. Combinadas, as ações fazem parte de uma estratégia nacional resultado de uma parceria da Fiocruz, do WMP e do Ministério da Saúde contra as arboviroses. O Método Wolbachia está presente em cinco municípios brasileiros: Rio de Janeiro, Niterói, Campo Grande, Belo Horizonte e Petrolina (PE).

Segundo a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, “a ampliação do número de cidades utilizando o Método Wolbachia e a construção de novas fábricas, como esta de Belo Horizonte, são de grande importância para enfrentarmos as futuras epidemias e para protegermos mais ainda a população brasileira. Esta tecnologia é a prova de que a ciência tem que ser cada vez mais incentivada e valorizada”. Segundo a secretária, é mais uma etapa para levar mais saúde às pessoas. “A iniciativa da Fiocruz, que o MS financia desde 2013, será de extrema relevância para a saúde das comunidades do vale do Rio Paraopeba, o que resultará em muitos menos casos da doença e óbitos”. 

No Rio de Janeiro, a biofábrica recebe equipamentos para escalonar a produção de mosquitos wolbitos, como são chamados os Aedes aegypti com a bactéria wolbachia, para os novos municípios. Os mosquitos que fazem parte da colônia matriz, que produzem os ovos de Aedes com wolbachia, ficam em gaiolas. Antes da automação a capacidade de cada uma era de 32 mil mosquitos, hoje são cerca de 80 mil wolbitos em cada gaiola.

“Temos buscado soluções inovadoras para contribuir no esforço nacional de combate às arboviroses. A construção de novas biofábricas, bem como o aumento da produção nas biofábricas já existentes poderão garantir a expansão do Método Wolbachia segundo estratégia do MS e se somar às ações de preparação para as próximas epidemias”, explica o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Aurélio Krieger.

O World Mosquito Program (WMP) é uma iniciativa internacional sem fins lucrativos. Seu método consiste na liberação de mosquitos Aedes aegypti com a bactéria wolbachia, que impede que os vírus da dengue, da zika e da chikungunya se desenvolvam no inseto, impedindo assim a transmissão. Estes mosquitos wolbitos não são geneticamente modificados e não transmitem doenças.

Fábrica de mosquito

O Método Wolbachia já havia sido implementado em partes da cidade de Belo Horizonte, com a liberação dos mosquitos, em parceria com a prefeitura e financiamento do Ministério da Saúde. A implementação do Método Wolbachia na capital mineira foi feita em etapas. A primeira etapa, na Regional de Venda Nova, foi concluída em janeiro de 2021. Em 2022 uma nova expansão foi iniciada e as liberações foram encerradas no ano passado. Ainda está em andamento um estudo clínico randomizado controlado. Estudos randomizados são considerados padrão-ouro na área de epidemiologia e muito importantes para comprovação da eficácia e impacto para proteger a população.

Fachada da biofábrica, cuja produção deve chegar a 2 milhões de mosquitos por semana (foto: WMP)

 

Com o acordo de reparação, a Vale iniciou a construção de uma biofábrica em fevereiro de 2023, com 1.125 mil m2, em um terreno de 4 mil m2 no bairro Gameleira. Além da construção do prédio, a Vale equipou a unidade e deve custear as operações por cinco anos. Segundo o governo estadual, a construção do prédio teve um investimento de aproximadamente R$ 20 milhões e a etapa de operação prevê mais R$ 57 milhões, totalizando R$ 77 milhões. A biofábrica foi implantada em terreno do Estado de Minas Gerais. A manutenção ficará a cargo do WMP Brasil/Fiocruz, com recursos repassados pela Vale, como parte do acordo.

Na primeira fase do projeto, os mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia serão soltos em Brumadinho e em outros 21 municípios vinculados à Bacia do Rio Paraopeba. A expectativa da Secretaria de Saúde de Minas Gerais é que, posteriormente, ocorra a expansão da produção de mosquitos para todo o território estadual.

A biofábrica será responsável pela manutenção do ciclo completo dos wolbitos, desde a produção de ovos aos mosquitos adultos, além da distribuição destes materiais biológicos e a alocação de equipes administrativas. A estimativa é de que a produção semanal da biofábrica, depois do início das atividades, chegue a 2 milhões de mosquitos por semana. Uma vez inseridos no meio ambiente, vão se reproduzir com os Aedes aegypti locais e estabelecer uma nova população de mosquitos que não transmitam a dengue e outras doenças.

Após a conclusão das obras, serão concluídas também as tratativas de obtenção das licenças obrigatórias para funcionamento e a revisão de contratos com a Fiocruz. A previsão é de que a operação seja iniciada até janeiro de 2025.

Nova fase

Em Joinville, o programa, que começou em dezembro de 2023, entra na fase de engajamento comunitário nesta segunda-feira (29/4).  Haverá o início de ações de divulgação do Método Wolbachia, envolvendo as redes municipais e estaduais de ensino, incluindo a capacitação de professores, e as equipes de saúde.

Esta é a última fase antes do início da liberação dos mosquitos, prevista para julho. A etapa de engajamento comunitário abrange ações de comunicação e uma pesquisa, já realizada em Joinville, na qual mais de 80% dos consultados aprovaram o uso do método na cidade.

Após a liberação, os locais serão monitorados para avaliação de resultados por aproximadamente um ano. A escolha dos bairros levou em conta critérios como número de focos e de casos confirmados. Foram, então, escolhidos os bairros de Aventureiro, Boa Vista, Bom Retiro, Comasa, Costa e Silva, Espinheiros, Fátima, Floresta, Guanabara, Iririú, Itaun, João Costa, Morro do Meio, Paranaguamirim, Petrópoles, Ulysses Guimarães, e Vila Nova. Juntos, eles somam aproximadamente 60% da população de Joinville.

Para atender a essa demanda crescente, a biofábrica do Rio de Janeiro, instalada no Campus Maré da Fiocruz, passa por um processo de automação, com a importação de novos equipamentos. “Importamos equipamentos de última geração para automatizar a produção de mosquitos na biofábrica do Rio de Janeiro. Nós já fizemos as instalações dos equipamentos, algumas adequações e o treinamento de colaboradores para que possamos aumentar a capacidade produtiva na biofábrica e assim atender a demanda dos novos municípios junto ao Ministério da Saúde”, conta o líder do Método Wolbachia no Brasil, Luciano Moreira.

Como funciona? 

O método consiste na liberação de Aedes aegypti com wolbachia para que se reproduzam com os Aedes aegypti locais, estabelecendo uma nova população destes mosquitos, todos com Wolbachia. Os wolbitos não são transgênicos e não transmitem doenças.

A wolbachia é um microrganismo intracelular presente em 60% dos insetos da natureza, mas que não está presente no Aedes aegypti. Quando presente nestes mosquitos, ela impede que os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela urbana se desenvolvam dentro do mosquito, contribuindo para redução destas doenças.

Uma vez que os mosquitos com wolbachia são liberados no ambiente, eles se reproduzem com mosquitos de campo e ajudam a criar uma nova geração de mosquitos com wolbachia. Com o tempo, a porcentagem de mosquitos que carregam o microrganismo aumenta, até que permaneça alta sem a necessidade de novas liberações.

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