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Entrevista com Adriana Geisler


12/03/2024

Por: Alex Bicca

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1 - Como foi primeiro ciclo autoavaliativo, coordenado pela CPA e quais os principais desdobramentos?

Adriana Geisler: Como sabemos, a CPA é um órgão representativo que tem, dentre suas finalidades, a de coordenar e implementar o processo de autoavaliação institucional relacionada à oferta de cursos de pós-graduação lato sensu pelas unidades da Fiocruz. A autoavaliação é, portanto, uma das exigências para a manutenção dessa oferta. 

Trata-se de um modelo desenhado em torno da uma perspectiva pedagógica de reflexão/ação conjunta, que assumiu os princípios teórico-metodológicos da pesquisa-ação e que envolveu a comunidade acadêmica da Fiocruz (docentes, alunos, técnicos-administrativos e gestores) e instituições parceiras interessadas, de algum modo, com a formação em saúde. Ao longo de três anos, buscou-se garantir e aplicar, continuamente, um conjunto diversificado de instrumentos e métodos - tais como, oficinas, questionário de autoavaliação, entrevistas - que permitisse identificar as potencialidades e as fragilidades da instituição no triênio 2019-2021. A análise dos dados coletados durante a aplicação dessas técnicas se deu através da elaboração e aplicação de categorias analíticas e empíricas.

O levantamento e a revisão prévios da literatura científica sobre o tema e a validação desses referenciais teórico-metodológicos em oficinas - para as quais contribuíram representantes do público já mencionado e especialistas sobre o tema - consolidaram as bases conceituais que fundamentaram esse primeiro ciclo autoavaliativo e contribuíram na construção de categorias analíticas / eixos orientadores a serem utilizadas quando da leitura dos questionários de autoavaliação que foram aplicados aos segmentos. Os aportes formulados também contemplaram a identificação de modelos, desenhos e experiências avaliativas do funcionamento do ensino lato sensu em instituições congêneres. Já a experiência do Planejamento Integrado de Ensino da Fiocruz (PIEF) e o trabalho das CPAs itinerantes permitiram a construção de categorias empíricas. 

No quadro de referência, construído, foram resgatados alguns conceitos e consensos sobre o que se pode denominar de “avaliação institucional na Perspectiva da Educação”.  A estrutura matricial do modelo de autoavaliação da Fiocruz respeitou, assim, tanto a dimensão “regulatória” - que integra a avaliação do MEC, quanto a “emancipatória”/ “democrática” (SAUL, 2001) e “participativa” (LEITE, 2005) - característica da autoavaliação institucional. Vale dizer, em síntese, que construir um modelo de autoavaliação compatível com a complexidade institucional exige que se considere as orientações emanadas pelo MEC, como órgão regulador do ensino no Brasil, mas também o avanço do pensamento técnico científico sobre o tema. As “bases conceituais da autoavaliação da Fiocruz” nasceram, portanto, de um lastro regulatório exigido pelo MEC e das experiências de avaliação da própria Instituição. 

A avaliação externa, realizada pelo MEC visa ao criterioso ordenamento e desenvolvimento do conjunto das instituições de educação superior e escolas de governo. Tem, portanto, uma ação político-administrativa de Estado e objetiva a garantia da qualidade e da legitimidade social. Essa função não deve, no entanto, se esgotar em si mesma. Deve se articular com a função da Avaliação Educativa para que se desenvolva como prática social voltada à produção da qualidade das instituições de emancipação social. (DIAS SOBRINHO, 2003). Dessa forma, avaliações são sempre, como vimos, pedagógicas, estimulam os valores e podem dizer quais os conhecimentos que valem e de que forma são distribuídos socialmente. Elas podem ser emancipatórias na medida em que atenderem à autonomização dos sujeitos e das instituições. Assim é que a autoavaliação institucional conduzida pela CPA trouxe tanto os dados quantitativo como guia importante como também os dados qualitativos como elementos de aprofundamento da reflexão sobre as fragilidades e potencialidades da instituição.

Nesse norte, tomando como referência as dimensões que integram a avaliação do MEC e as bases conceituais da autoavaliação da Fiocruz, a CPA definiu uma “cesta de indicadores” e, com base nela, um questionário de autoavaliação produzido com base nos cinco eixos a seguir indicados, contemplando os quarenta e quatro indicadores do MEC e os requisitos legais e normativos observados no PDI da Fiocruz, a saber: eixo 1: planejamento e desenvolvimento institucional; eixo 2: gestão institucional; eixo 3: corpo social; eixo 4: desenvolvimento institucional; eixo 5: infraestrutura. Esse questionário foi validado em uma Oficina de Consenso que envolveu a CPA, especialistas no assunto “autoavaliação institucional” e representantes/lideranças das Unidades e Coordenações da Fiocruz mais afeitas ao tema. 

A coleta de dados envolveu, portanto, a aplicação desses questionários por segmentos (docentes, discentes, técnicos administrativos). As perguntas do questionário foram segmentadas em blocos e, ao todo, o instrumento trouxe sete blocos de cinquenta e quatro questões para docentes, cinquenta e quatro para discentes e cinquenta para técnicos administrativos. O bloco inicial (1) buscava a identificação dos respondentes do questionário. O último bloco (7) abordava questões atinentes aos requisitos legais constantes do PDI e que tocam nos temas de gênero, raça, meio ambiente e direitos humanos de um modo geral. As perguntas relacionadas a esses cinco eixos temáticos compuseram os blocos de 2 a 6.

Para a análise dos questionários os eixos orientadores elencados – como dissemos, sempre tomando como referência o levantamento prévio da literatura científica sobre o tema - foram: “potencialidades”, “oportunidade de melhoria”, “fragilidades” e “ameaças”. Esses eixos orientadores foram analisados e cruzados com o escore da Escala de Likert de 7 pontos, variando de 1 (discordo totalmente) a 7 (não sei avaliar). Desse modo, os entrevistados deveriam manifestar suas respectivas concordâncias ou discordâncias às afirmações feitas em cada questão, optando por um dos sete marcadores, a saber: “concordo totalmente”, “concordo parcialmente”, “indiferente”, “discordo parcialmente”, “discordo totalmente”, “não conheço” e “não sei avaliar”. 

Os resultados desse esforço coletivo e contínuo de autoavaliação podem ser visualizados nos relatórios produzidos a respeito e hospedados na plataforma ARCA e no e-book disponibilizado no Campus Virtual da Fiocruz em acesso aberto. Evidentemente, todo esse material será utilizado, como dissemos, no momento do recredenciamento institucional dos cursos de especialização da Fiocruz.  

2 - Como está a preparação para o recredenciamento da Fiocruz como Escola de Governo, que deverá ocorrer em 2025 (é isso mesmo?)?

Adriana Geisler: A nossa Comissão Própria de Avaliação foi criada como uma das exigências para o credenciamento institucional da Fiocruz como Escola de Governo, medida necessária para a regularização da oferta de seus cursos de pós-graduação lato sensu.
Como credenciamos nossos cursos em 2017, nosso recredenciamento está marcado para 2025. Mas há um longo caminho pela frente até a eventual visita dos avaliadores externos. Daí a necessidade de nos prepararmos bem até lá.

No momento, estamos empenhados na elaboração (e implementação) do nosso Plano de Recrendenciamento. Esse plano vai envolver uma série de ações que irão desde a prestação de informações ao MEC, através do site E-MEC até a mobilização da comunidade acadêmica da Fiocruz para que melhoremos nossos indicadores com vistas a essa avaliação externa. É aí que avaliação externa vai ser complementada com o que foi produzido no processo de autoavaliação. Em outros termos, avaliação externa e interna se complementam nesse modelo de avaliação.

Assim, dentre as exigências para o recredencimento está a própria autoavaliação. Nós já concluímos um ciclo avaliativo em 2022 e não faremos outro até 2025. Os dados coletados naquele momento foram - e continuam sendo - publicizados em uma iniciativa que denominamos de CPA Itinerante, além evidentemente, de uma oficina com essa finalidade, realizada virtualmente, e da produção de um relatório e do e-book já mencionados. A iniciativa da CPA Itinerante já foi realizada em outras oportunidades com outros objetivos. Agora, compõe uma das ações desse plano de recredenciamento. 

À grosso modo, na CPA Itinerante estamos visitando as Unidades da Fiocruz para conversarmos sobre os resultados desse primeiro ciclo na expectativa de melhorarmos nossos indicadores para 2025. Mas o Plano de Recredenciamento que estamos debatendo na CPA deve envolver outras ações.

3 - Qual é o atual perfil da composição da CPA? 

Adriana Geisler: A atual composição da CPA (para a gestão 2022 - 2025) conta com 3 (três) membros reconduzidos, incluindo a mim, como presidente, e 9 (nove) membros renovados. É uma composição muito feliz, pois conta com representantes bastante atuantes na instituição como um todo e com representantes externos de organizações parceiras igualmente ativas nos temas atinentes às atribuições da CPA. Destaque-se que na nova configuração se fazem representar negros e LGBTQIA+, o que permitiu, inevitavelmente, a construção de um plano de ação mais comprometido com a inclusão dos grupos subalternizados no que concerne ao ensino da instituição e, por conseguinte, mais ocupado com os temas relacionados às questões etnico-raciais, a história da cultura afro-brasileira, africana e indígena, à política de educação ambiental, à acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência e à educação em direitos humanos - temas constantes nos requisitos legais do MEC.

4 - Qual é o perfil de atuação da CPA, uma vez que, num primeiro momento, o objetivo era o credenciamento da Fiocruz como Escola de Governo?

Adriana Geisler: Podemos dividir a atuação da CPA em ações de duas ordens: i) ações ordinárias, isto é, do cotidiano de funcionamento permanente dessa Comissão; e) ii) (novas) ações estratégicas que complementem o bom desenvolvimento destas e de outras atribuições. As ações ordinárias envolvem a competência mais direta da presidência da CPA e de sua secretaria executiva e incluem a sistematização e envio de informações ao MEC, a participação em reuniões conduzidas pela CGE/ VPEIC e pela coordenação do Lato Sensu, na Câmara Técnica de Educação e no Fórum da Escola de Governo, e a própria atualização permanente do site da CPA. No que respeita às demais ações, denominadas de “estratégicas”, e após o momento inicial do credenciamento institucional, a CPA se lançou à elaboração e aplicação do modelo de autoavaliação, processo já detalhado em minha resposta anterior. Na sequência, a Comissão tem buscado uma interlocução com o MEC e a ENAP, retomou a ação da CPA Itinerante e procurou se articular e estreitar um importante diálogo com fóruns, espaços coletivos e Comitês internos e externos, como o Comitê Fiocruz pela Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência, o Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz e o próprio Grupo de Apoio ao Desenvolvimento Institucional da Educação (GADIE). Todas essas ações compõem o plano de recredenciamento recém-elaborado. 

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