22/01/2016
Por Nara Boechat (IFF/Fiocruz)
“O que posso comer durante a amamentação?”, “A doação pode interferir na amamentação do meu filho?”, “Será que o meu leite é fraco para a nutrição do meu bebê?”. Questionamentos como esses são comuns durante a amamentação do bebê, principalmente, no primeiro filho e podem pesar na decisão sobre a doação de leite materno. Porém, muitas das respostas popularmente dadas a essas perguntas são mitos.
Diante dessas questões, a psicóloga do Banco de Leite Humano (BLH), do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Eliane Caldas, esclarece alguns mitos e verdades sobre o tema e enfatiza a importância da doação de leite humano no período de férias – de dezembro a fevereiro –, quando as doações diminuem em cerca de 40%. A psicóloga ressalta que, nesse período, a queda no estoque é a nível nacional.
“A única exigência para doar leite é que a mãe esteja amamentando seu próprio filho. No caso de ela estar tomando algum medicamento, isso deve ser informado para que seja verificado se é possível fazer a doação. A mulher que procura o BLH também recebe orientações e, se necessário, tratamentos para solucionar alguma dificuldade que tenha em relação à amamentação”, explicou Eliane Caldas.
1 - O leite materno pode ser congelado?
Verdade. O leite materno pode ser congelado por até 15 dias, sem a perda de suas características e qualidade nutricional. A mãe pode ordenhar o leite na sua casa – tomando os devidos cuidados para manter a qualidade –, deixá-lo na geladeira e dar ao bebê enquanto estiver fora de casa. Caso o leite não seja consumido, pode doá-lo para um BLH. Além disso, o mesmo processo pode ser feito em um Banco de Leite Humano, onde o leite será coletado congelado para então ser processado e distribuído às crianças.
2 - A alimentação da mãe reflete no leite?
Verdade. O recomendado é que a mãe tenha uma alimentação saudável e equilibrada. Ela não deve ingerir bebida alcoólica, café em excesso e alimentos muito gordurosos, como o chocolate. No caso do café e do chocolate, a questão não é comer, mas a quantidade que se consome. Um café, pela manhã, faz parte do nosso hábito alimentar e isso não faz diferença ao bebê; porém, pode afetá-lo caso o consumo seja feito em maior quantidade.
3 - Quando a mãe produz muito leite, a doação pode interferir na amamentação do filho?
Mito. Pelo contrário, quanto mais a mãe estimular o peito a produzir leite, mais ela o terá e não faltará para o bebê. O leite é produzido na hora em que o bebê está sugando, mas se a mãe demorar muito tempo para ordenhar, ela vai sentir a mama mais cheia. O leite para de ser produzido, quando não há estímulo, quando o bebê não mama.
4 - Algumas mães produzem leite mais fraco.
Mito. Nenhum leite materno é fraco, nem de uma mulher desnutrida. A qualidade do leite da mulher desnutrida é tão boa quanto a de uma mulher nutrida. Há também a concepção de que o leite industrializado é mais forte porque o bebê dorme e engorda mais. O bebê acorda mais rápido quando toma o leite materno porque a sua digestão é mais rápida do que a do leite de vaca, mas isso não quer dizer que o leite materno é mais fraco.
5 – Se a mãe não estiver com muito leite, pode deixar outra mulher amamentar o seu filho.
Mito. Cada mãe tem que amamentar o seu bebê. O melhor leite para o filho é o da sua mãe. O leite carrega as características de quem amamenta. Assim a criança cria os anticorpos necessários para a sua saúde tomando o leite da mãe. Na amamentação cruzada há o risco de uma doença infecciosa ser transmitida pelo leite. A saída para a mãe que não consegue amamentar é procurar orientação no banco de leite humano.
6 - As fórmulas atuais são quase como o leite materno.
Mito. Leite materno é singular. O colostro que sai na primeira mamada pode considerado a primeira vacina do bebê. A fórmula atual tem suas qualidades, mas é feita com leite de vaca, que não traz os benefícios do leite materno, como o aumento da imunidade.
7 - Mamadeira e chupeta interferem no aleitamento.
Verdade. Mamadeira e chupeta interferem na amamentação pelo posicionamento da língua do bebê. A sucção do leite no peito requer um esforço maior do que a da mamadeira e da chupeta. Com isso, quando a mãe oferece o peito e os dois apetrechos, o bebê rapidamente descobre que a mamadeira é mais fácil do que o peito. Isso pode implicar na diminuição do estímulo da produção do leite e, consequentemente, a mãe pode não ter a quantidade necessária de leite para a nutrição do bebê.
8 - Estresse e nervosismo podem atrapalhar a produção do leite.
Verdade. O estresse e o nervosismo podem diminuir a quantidade de leite. Em momentos como este, a mãe modifica o seu sistema endócrino-imunológico e, com isso, a quantidade de leite pode diminuir. O recomendado é que a mãe descanse sempre que possível. Em caso extremo, para dormir bem uma noite, ela pode deixar que outro responsável dê o leite materno ao bebê em um copinho. Algumas pessoas acreditam que o estresse pode empedrar o leite, mas não é verdade. Isso acontece quando a quantidade de leite é maior do que o bebê necessita ou consegue sugar e se não for ordenhado, o leite fica alojado na mama e acaba empedrando ou até originando uma mastite.
9 - A compressa de água quente ajuda na situação do leite empedrado.
Mito. A indicação nesses casos é massagem e ordenha do leite. A compressa de água quente piora a situação, pois aumenta a quantidade de leite retido na mama. Consequentemente, a mãe terá mais leite empedrado.
A mãe que deseja doar leite humano deve entrar em contato pelo telefone gratuito 08000-268877 ou procurar o Banco de Leite Humano mais próximo da sua casa. A partir desse contato, é feito um cadastro e uma inscrição no BLH do IFF. Uma vez cadastrada como doadora, não há necessidade de ir ao Banco de Leite periodicamente. A coleta pode ser feita em casa, uma vez por semana. O leite, nesse caso, deve ficar armazenado no recipiente fornecido pelo próprio banco: pote de vidro com tampa de plástico. O leite materno coletado e processado é destinado a alimentar bebês prematuros e/ou de baixo peso internados em UTIs Neonatais durante seis meses.
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