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Workshop reúne Fiocruz e Pasteur para debater inovação


11/04/2022

Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)

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Teve início nesta segunda-feira (11/4) o workshop internacional Inovação por Empreendedorismo, promovido pela Fiocruz em parceria com o Instituto Pasteur. O objetivo do evento, que terá continuidade na terça-feira (12/4), é apresentar os resultados de iniciativas de empreendedorismo das duas instituições e fazer um debate entre os seus pesquisadores. O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, abriu o workshop e afirmou que “esta é uma grande oportunidade de discutir essas questões com um parceiro histórico da Fiocruz e que serviu de modelo para que a Fundação se tornasse uma instituição comprometida com a saúde e o enfrentamento de desafios”. Segundo ele, a gênese que criou o Pasteur também contribuiu para a formação da Fiocruz. “As iniciativas de sucesso do Pasteur vão nos ajudar a aperfeiçoar nosso sistema de inovação, permitindo que o conhecimento desenvolvido na Fundação continue chegando ao [Sistema Único de Saúde] SUS e à sociedade, além de incorporar tecnologias inovadoras ao nosso portfólio”. 

Intervindo em seguida, a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, recordou a histórica cooperação entre as duas instituições e disse que 2022 marca os 200 anos de nascimento de Louis Pasteur e os 150 de Oswaldo Cruz. “Esses dois homens deixaram como legado, em seus países, a noção da institucionalidade da ciência para resolver os desafios da saúde pública. Portanto, o sentido do debate que começamos a fazer hoje, neste workshop, é atualizar uma agenda comum que temos”. A presidente lembrou que a Fiocruz aprovou sua Política de Inovação em 2018 e que precisa avançar nas questões do empreendedorismo, por meio de uma ação institucional que vise o atendimento das demandas do SUS. “Nesse sentido, a troca de experiências com o Pasteur é fundamental”, afirmou.

Nísia também citou a publicação, em 2005, do livro Louis Pasteur & Oswaldo Cruz, que narra a trajetória de cooperação entre o Instituto Pasteur e a Fiocruz ao longo do século 20, considerada uma das mais bem sucedidas experiências da história das relações científicas entre o Brasil e a Europa. Ela organizou a obra, junto com a então secretária-geral honorária do Pasteur, Marie-Hélène Marchand.

O moderador do evento, o vice-presidente de Gestão e Desenvolvimento Institucional da Fiocruz, Mario Moreira, ressaltou que o SUS é singular por sua dimensão, pois se trata do maior serviço público de saúde do mundo para mais de 200 milhões de pessoas. “Cerca de 75% dos brasileiros dependem exclusivamente do SUS, o que revela a importância de ampliar a oferta de serviços e produtos a essa população. O SUS precisa estar dotado de autonomia e soberania, com uma forte base industrial e tecnológica. O empreendedorismo reforça essa capacidade de atendimento das demandas em várias áreas, como as de vacinas, medicamentos, testagem e outras”.

Para Marco Krieger, que abordou a estratégia de inovação da Fiocruz, o mote que levou à criação do Pasteur foi o mesmo que gerou a Fundação. Krieger fez um retrospecto do papel da Fiocruz frente ao enfrentamento das arboviroses ao longo da sua história e lembrou da atuação da instituição no combate à febre amarela, na produção do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) e do trabalho realizado no Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz). Segundo ele, esse sistema começou a ser elaborado no início do século 20, no então Instituto de Manguinhos, embrião da atual Fiocruz, com o enfrentamento de doenças como varíola, peste bubônica e febre amarela. Krieger afirmou que o enfrentamento da questão sanitária não foi o início da atividade científica no país, mas foi a primeira vez em que a sociedade percebeu os seus benefícios. “Naquele momento o Brasil passou a ter conhecimento científico tecnológico em favor da população. A inovação está no DNA desta instituição”, afirmou, em uma alusão a Oswaldo Cruz, Carlos Chagas e outros célebres pesquisadores da Fundação. De acordo com o vice-presidente, “estamos criando um ambiente que amplie o desenvolvimento interno de projetos de inovação tecnológica, sem esquecer de incentivar o caráter empreendedor dos pesquisadores”.

Krieger destacou os avanços obtidos por pesquisadores da Fiocruz no enfrentamento de doenças como zika, febre amarela, dengue e, mais recentemente, da pandemia de Covid-19, mostrando agilidade e capacidade de resposta. Em relação à pandemia ele citou ainda inovações tecnológicas como as plataformas de produção de vacinas genéticas, que levaram a Organização Mundial da Saúde (OMS) a selecionar o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) como um centro para o desenvolvimento e a produção de vacinas com a tecnologia de RNA mensageiro para a América Latina.

A coordenadora do Programa Fiocruz de Empreendedorismo, Maria Celeste Emerick, interveio em seguida. Segundo ela, grande parte do conhecimento gerado não é incorporado ao sistema de saúde. A pesquisa, por várias razões, não atrai um parceiro industrial ou um investidor, já que nem sempre é desenvolvida pensando na criação de um produto ou serviço. Portanto, o Programa Fiocruz de Empreendedorismo contribuirá para a maturação de projetos, visando superar o chamado “Vale da Morte”.

Os objetivos específicos do Programa foram destacados. São os seguintes: a disseminação da cultura de inovação e empreendedorismo na instituição; a capacitação em inovação e empreendedorismo para os colaboradores da Fiocruz; o apoio ao desenvolvimento de soluções em saúde; o incentivo à incorporação das soluções, geradas por intermédio das unidades da Fundação, de co-desenvolvimento com parceiros externos e de seu licenciamento para terceiros; e o apoio à criação de empresas de base científico-tecnológica em saúde, como mais um canal para fazer chegar à sociedade novos produtos e serviços.

Tudo isso tendo em vista dois eixos: apoio à maturação de projetos de inovação em saúde com base em empreendedorismo, visando sua incorporação ao sistema de saúde; e a disseminação de cultura de inovação e empreendedorismo na instituição. De acordo com a coordenadora, o Programa tem contribuindo para a aceleração dos projetos. A eficácia se deve à metodologia utilizada, combinando treinamentos para todos os grupos, com mentorias quinzenais com cada grupo individualmente.

Celeste citou três casos-piloto que estão servindo como modelo e aprendizado nesse processo. São três tecnologias desenvolvidas em diferentes unidades da Fundação: um biossensor para diagnóstico precoce de câncer de mama (Fiocruz Paraná); um equipamento para pesquisa e diagnóstico neurofisiológico (IFF/Fiocruz); e uma plataforma digital para cuidado ao idoso dependente (Fiocruz Ceará). Três pesquisadores, cada um de um dos projetos citados, fizeram um retrospecto dessas iniciativas.

Depois, a vice-presidente executiva de Transferência de Tecnologia e Parcerias Industriais do Pasteur, Isabelle Buckle, traçou um resumo das iniciativas históricas de empreendedorismo no Instituto. Fundado há 135 anos, o Pasteur, nas palavras de Isabelle, já era uma start-up naquela época. Com 10 Prêmios Nobel em suas fileiras ao longo da História, e atualmente com 2,8 mil funcionários de 70 países, o Pasteur é uma potência na inovação e no empreendedorismo, em especial nas áreas de vacinas, câncer, resistência antimicrobiana e doenças do cérebro, desde que desenvolveu suas primeiras vacinas contra a raiva, em 1888. A vice-presidente detalhou a atuação dos escritórios de Patentes e Invenções, de Desenvolvimento de Inovação e de Transferência de Tecnologia.

Entre as táticas do Pasteur para favorecer essas iniciativas estão o incentivo a um ambiente de pesquisa que permita o desenvolvimento tecnológico, a difusão da inovação, o favorecimento do empreendedorismo e a redução do gap entre o início da pesquisa e o produto final, que em média está entre 5 e 7 anos. No caso da Covid-19, a forte mobilização do Instituto frente a esse desafio levou ao envolvimento de mais de 500 pesquisadores e ao desenvolvimento de 25 patentes. Já são 107 contratos assinados.

A maturação dos projetos e as iniciativas para acelerar e alavancar projetos e suas aplicações estiveram presentes na intervenção do chefe do Escritório de Inovação do Pasteur, Michel Perez. Entre os critérios adotados, o estímulo a inovações que quebrem paradigmas, as necessidades do mercado de saúde e a competitividade da patente. O pesquisador Alexandre Batch concluiu o primeiro dia do workshop ao discorrer sobre o empreendedorismo na França.

O segundo dia do workshop será presencial, no auditório do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), para cerca de 70 profissionais ligados ao tema. Será a oportunidade para que as duas instituições aprofundem o diálogo em relação à inovação e ao empreendedorismo, aos pontos fortes dos dois programas e aos desafios que estão sendo enfrentados.

O Instituto Pasteur e Fiocruz são parceiros históricos. A Fundação é membro da Rede Pasteur, uma reunião científica global composta por 33 instituições ao redor do mundo e em todos os continentes. A Rede aprofunda as relações entre as instituições e aporta um suporte de peso para a discussão da questão do empreendedorismo na Fiocruz.

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