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Virologista da Fiocruz integra grupo da OMS que estuda a evolução do coronavírus

Marilda Siqueira

10/12/2021

Maíra Menezes (IOC/Fiocruz)*

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Quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu classificar a cepa Ômicron do coronavírus como uma variante de preocupação, a entidade considerou as recomendações de um comitê de especialistas. Chamado de Grupo Consultivo Técnico sobre Evolução do Vírus Sars-CoV-2 (TAG-VE), o seleto grupo de cientistas conta com uma virologista brasileira em sua composição: a pesquisadora Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

O comitê é composto por 25 cientistas de excelência em especialidades diversas, como virologia, bioinformática e epidemiologia. Também representam diferentes regiões do planeta. A pesquisadora do IOC representa a América Latina, ao lado de uma cientista do Chile.

O Grupo Consultivo Técnico foi oficializado pela OMS em outubro. Porém, desde junho de 2020, os cientistas vinham se reunindo a pedido da entidade para avaliar mutações no genoma e emergência de variantes do coronavírus, constituindo, informalmente, um grupo de trabalho sobre evolução viral. A partir da formalização, os especialistas passaram a se reunir regularmente, no mínimo, duas vezes ao mês, além de atender convocações extraordinárias, como vem ocorrendo após a detecção da Ômicron.

“Estamos em sistema de alerta, fazendo reuniões frequentes para acompanhar de perto todos os indicadores relacionados a essa variante. Até o momento, são conhecidas as mutações presentes no genoma da Ômicron, que sinalizam para o potencial de maior transmissibilidade, mas não sabemos o quanto isso vai impactar, principalmente, em hospitalizações e mortes”, relata Marilda.

O primeiro caso conhecido de infecção pela nova variante foi confirmado na África do Sul, em uma amostra coletada de um paciente em 9 de novembro. No dia 24, o país alertou a OMS sobre a detecção da cepa. Dois dias depois, ocorreu a reunião do Grupo Consultivo Técnico, que recomendou a classificação como variante de preocupação, considerando que as evidências indicam uma mudança prejudicial para a epidemiologia da Covid-19.

Segundo Marilda, as consequências da disseminação da Ômicron provavelmente serão mais graves nas regiões com baixa cobertura vacinal, como ocorre no continente africano. No entanto, ainda são necessários estudos para avaliar o grau de efetividade dos imunizantes atualmente disponíveis contra a nova variante, e medidas de proteção individual, como uso de máscaras, lavagem das mãos e distanciamento social, devem ser adotadas por todos.

“Temos cenários diversos no mundo. A África do Sul é um dos países africanos com maior taxa de imunização e tem cerca de 28% da população vacinada. É um cenário no qual uma nova variante, provavelmente, impacta mais do que onde há populações altamente vacinadas. No Brasil, temos grande parte da população já com duas doses e vários grupos de risco, como os idosos, com a terceira dose. Isso pode nos favorecer, mas tem que estar acompanhado de medidas de proteção individual, que não podem ser abandonadas nesse momento”, salienta a pesquisadora.

Vigilância genômica

O fato de a Ômicron ter sido detectada pela primeira vez na África do Sul não significa que a variante surgiu necessariamente nesse país. A cepa pode ter se originado em outro local. No entanto, pela capacidade de vigilância genômica, os sul africanos foram os primeiros a decodificar o genoma do vírus, identificando o grande número de mutações e alertando sobre o risco para a saúde pública.

A virologista enfatiza a relevância desse tipo de trabalho. Como Centro de Referência Nacional em Vírus Respiratórios para o Ministério da Saúde e Referência em Covid-19 nas Américas para OMS, o Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do IOC atua rotineiramente no sequenciamento genético de amostras e no acompanhamento da evolução do genoma do coronavírus, buscando identificar mutações com possível impacto para a saúde pública. O laboratório também integra a Rede Genômica Fiocruz, que reúne especialistas de todas as unidades da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e de instituições parcerias para gerar dados robustos sobre o genoma do Sars-CoV-2 no Brasil.

“Mutações no genoma podem sinalizar, por exemplo, maior capacidade de transmissão do vírus, possibilidade de causar doença grave ou potencial para escapar da resposta imune induzida pela vacinação ou por uma infecção natural anterior. Essas questões têm que ser acompanhadas de perto porque influenciam diretamente as estratégias utilizadas pelos ministérios da saúde dos países no controle da Covid-19”, declara Marilda.

“Esses dados também são importantes para que os produtores de vacinas, tratamentos e testes de diagnóstico possam fazer ensaios para verificar a efetividade dos produtos em relação às variantes. Estudos deste tipo estão ocorrendo neste momento em relação à Ômicron”, acrescenta a pesquisadora.

Nas reuniões do Grupo Consultivo, os especialistas discutem e analisam as informações disponíveis para avaliar o impacto das variantes do Sars-CoV-2 na transmissibilidade, gravidade, diagnóstico e tratamento da Covid-19. Cabe ao comitê, nomear as variantes virais e determinar sua classificação como variante de preocupação, de interesse ou sob monitoramento, considerando, sobretudo, o impacto para a saúde pública.

Entre as funções dos especialistas estão ainda alertar a OMS para mutações relevantes no genoma do coronavírus, sugerir pesquisas e aconselhar a entidade sobre medidas para fortalecimento dos mecanismos para identificação das alterações genéticas e sobre estratégias para mitigar o seu impacto.

*Edição: Vinicius Ferreira

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