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Violência contra a mulher com deficiência intelectual


22/03/2022

Fonte: Ensp/Fiocruz

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Eleita primeira repórter com síndrome de down no Brasil, Fernanda Honorato é atriz, digital influencer e ativista pela causa das pessoas com deficiência. O engajamento na luta em prol da inclusão dessas pessoas fez com que Fernanda recebesse o convite para escrever o capítulo Violência contra a mulher com deficiência intelectual, no instant book Itinerário de reflexões e práticas de acessibilidade e inclusão: a potência do Fórum Interinstitucional, produzido pela Rede PMA, por iniciativa de Projeto realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), IdeiaSUS e a Coordenação-Geral de Gestão de Pessoas (Cogepe/Fiocruz). A publicação é coordenada pelas pesquisadoras Laís Silveira Costa, Annibal Coelho de Amorim, Sônia Gertner, Kátia Machado e Gilvan Mariano. Em texto produzido para este 21/3, Dia Internacional da Síndrome de Down, Fernanda Honorato fala sobre o que é ser uma mulher com deficiência no Brasil, as formas de violência e a luta para dar voz às mulheres com deficiência. Confira.

Violência contra a mulher com deficiência intelectual

*Fernanda Honorato

No mês de março, que também é nosso mês de luta das mulheres, tem também o dia Internacional da Síndrome de Down. Hoje eu queria falar sobre o que é ser uma mulher com deficiência no Brasil. Principalmente de uma mulher como eu, com deficiência intelectual, que enfrenta mais estigmas e precisa ficar se provando o tempo todo. Muitas vezes as pessoas pensam que não percebo o preconceito, ou até mesmo, a forma como ignoram minha voz em debates importantes. Eu chamo isso de violência intelectual, que não é visível mas machuca de forma profunda. Mexe com a autoestima e a construção da autonomia, processos fundamentais para todas as pessoas, o que inclui nós também. Essa violência estabelece uma hierarquia em que a forma de pensar da pessoa sem deficiência parece superior a da pessoa com deficiência. Vejo que muitas pessoas falam por nós, mulheres com deficiência, e acham que sabem tudo sobre a nossa vivência, mas ninguém melhor para falar sobre isso que nós mesmas.

Penso também que em muitos casos nós mulheres com deficiência somos vistas de forma muito infantil, e isso é uma violência também. Eu achava que quando ficasse mais velha as pessoas iriam me tratar como a adulta que sou, mas infelizmente isso ainda não acontece. A violência também ocorre na internet. Além de ataques e mensagens maldosas, as campanhas publicitárias preferem representantes cada vez mais jovens. São poucas as mulheres com deficiência com mais de quarenta anos que estão sendo o rosto de alguma marca. 

Quando somos adultos as oportunidades para localizar agendas e ocupar espaços ficam cada vez mais diminuídas. Além do preconceito pela deficiência, e por ser mulher, agora experimento o preconceito geracional. Sei da importância dessa representatividade para outras mulheres não se sentirem tão diferentes nesse mundo preconceituoso. O projeto de pesquisa da Fiocruz, intitulado “O conhecimento da Atenção Primária sobre a Deficiência: caminhos de visibilidade ou de invisibilidade?, apoiado pela rede PMA, me convidou para escrever um capítulo do livro, organizado no âmbito do Fórum Interinstitucional, em que se vê muita gente com deficiência lá. Mas tem que fazer mais, avançar na escuta do que temos a falar. 

Nós, mulheres com deficiência, não somos menos capazes de entrar em debates complexos. É preciso ter um pouco mais de paciência e simplificar as informações, usar linguagem simples.  Se o esforço que se faz para aprender outro idioma fosse feito para usar linguagem simples, uma parcela expressiva da população se beneficiaria e conseguiria acessar conteúdos variados, assumindo maior protagonismo de suas vidas.

Meu esforço é para mudar o futuro e ,de alguma forma, dar voz às mulheres com deficiência.

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