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“Técnicas e métodos que promovem o protagonismo dos sujeitos de pesquisa” é tema de seminário


12/05/2023

Suzane Durães - SAS/VPAAPS/Fiocruz

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As técnicas e métodos que promovem o protagonismo dos sujeitos de pesquisa foi tema do quinto seminário realizado, em 10 de maio, no âmbito da pesquisa “Ecocídio e Globalização dos Cerrados Brasileiros: resistências e lutas dos povos e comunidades originários e tradicionais pelos direitos à saúde e à vida”, desenvolvida pela Fiocruz e o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. A moderação do seminário foi feita pelo coordenador da pesquisa e coordenador do Programa de Saúde, Ambiente e Sustentabilidade (FioPROSAS/Fiocruz), Guilherme Franco Netto.

Uma das palestrantes, a pesquisadora da Fiocruz/Ceará, Vanira Pessoa, relatou sobre a experiência em pesquisa com participação social. Segundo ela, o pensamento do educador e filósofo, Paulo Freire, contribuiu para sua reflexão sobre a importância da ação humana na transformação da própria realidade dos que residem nos territórios. 

Vanira coordena o projeto de pesquisa-ação Serpovos (Saúde, Cuidado e Ecologia de Saberes) da Fiocruz que aborda saberes e experiências inovadoras de cuidado em saúde desenvolvidas nos territórios. “O projeto é tecido à várias mãos. Já utilizamos ferramentas como mapas, rodas de conversa e plantação de árvores. Nesse processo coletivo de valorizar todos, muitas vezes é preciso diversificar as técnicas. Às vezes é melhor falar com um desenho, uma carta, ou outras técnicas. É importante que as técnicas sejam definidas pelo coletivo”, ressalta Vanira. 

Já a representante da Comissão Pastoral da Terra e da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, Valeria Pereira Santos, destacou um conjunto de reflexões sobre o processo de produção de conhecimento. Ela destacou a forma como são sintetizados os conhecimentos dos povos e as relações que eles possuem com a natureza, principalmente na ciência acadêmica. 

“Nos submetemos a muitos modelos de fazer ciência e muitos deles são cartesianos e verticais. Essa forma de sintetizar e que muitas vezes é generalista, reproduz uma ciência colonizadora que contradiz e enquadra os conhecimentos das comunidades. A partir desses modelos, produzem ou reproduzem novos conhecimentos com a compreensão que não está e não se relaciona com os conhecimentos dos povos”, ressaltou.

Em complemento às reflexões da Valéria, o professor do CES, João Arriscado, ressaltou o pensamento subjetivo. “Tem a ver com toda essa teia de relações que constituem as ecologias que ensinam maneiras de existir baseadas na interdependência, em existências, mas também na capacidade de pensar no presente, na vida cotidiana que está exposta às tentativas de destruição do território”, disse. 

Afirmou ainda a necessidade de reconhecer essas relações, pensar a subjetividade e o protagonismo dos sujeitos constituídos, como sendo mais do que sujeitos humanos identificados nas epistemologias convencionais e na ciência hegemônica.

A pesquisadora do Núcleo de Ecologias, Epistemologias e Promoção Emancipatória da Saúde (Neepes/Ensp/Fiocruz), Marina Fasanello, compartilhou experiências metodológicas do NEEPES que buscam produzir conhecimento inspiradas nas metodologias colaborativas não extrativistas das epistemologias do sul. “Nosso trabalho tem sido de reconhecer o conhecimento sensível como produção de conhecimento que temos desenvolvido no âmbito das nossas pesquisas, publicações,encontros em que participam pesquisadores acadêmicos e de territórios,  movimentos sociais, e também nas disciplinas que desenvolvemos”, destacou. 

Marina trouxe ainda a longa trajetória dos trabalhos do Neepes sintetizados na proposição de uma promoção emancipatória da saúde. Entre os projetos desenvolvidos pelo Neepes estão: o Mapa de Conflitos envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil; o projeto cooperação com os indígenas Munduruku do Médio Tapajós no Pará; e o projeto com os Sem Teto da Bahia.

“Nessas pesquisas são abordados o racismo, a concepção biomédica e capitalista da saúde e os modelos de desenvolvimento neoextrativista que envolvem essa desconexão entre a ciência e os saberes tradicionais. Além de enfrentar essas tensões e exclusões, buscamos transformar, conhecendo as necessidades, contextos concretos e reconhecendo as potencialidades emancipatórias que já estão em cursos nesses territórios. Nossa intenção é construir juntos”, destacou. 

Para o professor do Departamento de Ciências Sociais da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) e integrante da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030 (EFA 2030), a ciência é uma explicação de mundo que os humanos desenvolveram. "Por exemplo, a arte, a religião e a mitologias são outras formas de explicar o mundo. Todas têm valor intrínseco igual e essas diferentes formas de explicar o mundo estão em constante disputa por hegemonia explicativa do mundo. Não é uma disputa conjuntural que acontece somente em determinadas situações, ela é estrutural”, explicou.

Assista o vídeo do seminário. 

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