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Sarampo de volta ao mapa

Mulher aplicando vacina em uma criança

16/08/2018

Por: Luiz Felipe Stevanim (Ensp/Fiocruz)

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Depois de ser eliminado das Américas em 2016 segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o sarampo voltou a ser uma preocupação brasileira com a ocorrência de dois surtos em 2018 nos estados de Roraima e Amazonas, além de casos confirmados até o momento em São Paulo, Rio Grande do Sul, Rondônia e Rio de Janeiro. Como a única forma de prevenção é a vacina, a baixa cobertura vacinal é apontada como principal causa para a doença ter retornado ao país: a meta de vacinação contra o sarampo é de 95%, mas em 2017 a cobertura foi de 84,9% na primeira dose e de 71,5% na segunda, de acordo com o próprio Ministério da Saúde.

O sarampo é uma doença infecciosa aguda, transmissível e extremamente contagiosa, o que explica o número elevado de ocorrências nos dois estados: o Amazonas confirmou 444 casos e outros 2.529 permanecem em investigação, enquanto Roraima teve 216 confirmações e 160 ainda investigados, até o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde de 17 de julho. De acordo com o órgão, os surtos estão relacionados à importação de casos da Venezuela, onde a doença já atingiu nove dos 23 estados do país. Em fevereiro, a Secretaria de Saúde do Estado de Roraima notificou o primeiro caso suspeito de sarampo, em uma criança venezuelana de um ano de idade, que apresentou febre e manchas na pele, acompanhadas de tosse, coriza e conjuntivite. Atualmente, dos 216 casos confirmados no estado, 142 são de venezuelanos que residem no país e 72 de brasileiros, além de um procedente da Guiana e outro da Argentina. Outro dado relevante para a saúde pública é que 89 dos registros da doença no estado são entre indígenas.

Já o Amazonas também voltou ao mapa do sarampo — do qual já não fazia parte desde o ano 2000 — e registra o maior número de ocorrências este ano. Segundo o Ministério da Saúde, até o momento, todos os 444 casos confirmados no estado são de brasileiros e apresentam o genótipo D8, idêntico ao do vírus que circula atualmente em Roraima e na Venezuela. Mais de 85% das pessoas que tiveram a doença residem na capital, Manaus, e quase a metade dos registros se concentram em crianças menores de 5 anos de idade (48,7%). Já o Rio de Janeiro confirmou 7 casos da doença desde junho; de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, todos têm ligação com a Faculdade de Direito da UFRJ e estão relacionados ao episódio da estudante que foi diagnosticada com a doença em junho, depois de participar dos Jogos Jurídicos em Petrópolis, na Região Serrana. Até o momento, outros casos também foram confirmados em São Paulo (1), Rio Grande do Sul (8) e Rondônia (1).

Desde 2016, o Brasil possui o certificado da Organização Pan-americana da Saúde (Opas) como país livre do sarampo. Para Luiz Antonio Camacho, pesquisador do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz), o certificado de eliminação não significa erradicação. “Erradicação, podemos falar somente da varíola, pois erradicamos a espécie, e o vírus não circula em nenhuma parte do mundo. Sarampo nunca alcançou isso”, declarou ao Informe ENSP (10/7). Segundo ele, algumas regiões têm cobertura vacinal abaixo da média e isso possibilita que o sarampo se espalhe. “Basta vir um caso, atingir esses suscetíveis, e a doença se espalha rapidamente”, completou.

Também Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratório e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), explicou que o vírus que causa a doença possui alta capacidade de propagação, em matéria publicada no Portal Fiocruz (20/7). A transmissão acontece de uma pessoa para outra, por meio de secreções expelidas ao tossir, espirrar, falar ou mesmo respirar. De acordo com ela, é praticamente certo que todas as pessoas não imunizadas que entrem em contato com o vírus sejam infectadas. Por isso, como ela destacou, só há uma solução para conter o avanço dos surtos: a vacina, disponibilizada gratuitamente pelo SUS em duas doses — a tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), aplicada nos bebês aos 12 meses de idade, e a tetra viral (com reforço das anteriores, acrescida da catapora), aos 15 meses. Para alcançar aqueles que não se vacinaram nessa idade, o Ministério da Saúde convocou a Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e o Sarampo entre os dias 6 e 31 de agosto, com o dia D de mobilização nacional marcado para 18 de agosto (leia no quadro abaixo quem deve se vacinar).
Sarampo: preocupação de volta

O sarampo é uma doença causada por um vírus com elevado poder de contágio, transmitido por meio do contato direto (por tosse, espirros ou outras secreções) e pelo ar. Os principais sintomas são febre alta, dor de cabeça, manchas vermelhas na pele (que surgem primeiro no rosto e se espalham pelo corpo), tosse, coriza e conjuntivite. De acordo com a Opas, a doença é uma das principais causas de morte entre crianças pequenas, mesmo havendo uma vacina segura e eficaz para preveni-la. Em 2016, cerca de 85% das crianças receberam ao menos uma dose da vacina contra o sarampo — contra 70% em 2000. Segundo a OMS, a vacinação levou a uma queda de 84% nas mortes pela doença em todo o mundo entre 2000 e 2016 — neste último ano, ainda foram registradas 89.780 mortes, mas foi a primeira vez que esse número foi inferior aos 100 mil notificados a cada ano. A estimativa da organização é que, desde o ano 2000, a vacina tenha evitado mais de 20 milhões de mortes no mundo.

De acordo com a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Carla Domingues, os sinais do sarampo podem se confundir com outras doenças, como dengue; por isso, é importante procurar imediatamente um serviço de saúde para acompanhar o caso e fazer o diagnóstico laboratorial.

“Mesmo ainda diante de um caso suspeito, é importante que já se inicie a vacinação das pessoas que tiveram contato com esse caso”, afirmou em vídeo com orientações à população. “Nós tivemos mais de 100 mil casos de sarampo na década de 70. Essa situação não pode voltar a acontecer no nosso país, porque sarampo mata e era um dos principais indicadores da mortalidade infantil no país”, completou, ao destacar a necessidade de ampliar a cobertura vacinal.

Não existe tratamento antiviral específico contra o vírus. Geralmente é administrada vitamina A em crianças acometidas pela doença, para evitar complicações graves, como danos oculares e até mesmo cegueira. Segundo a OMS, os suplementos de vitamina A — em casos da doença — ajudam a reduzir em 50% o número de mortes por sarampo. Outro fator que contribui no tratamento é a boa nutrição. A eliminação do vírus nas Américas — certificada pela OMS em 2016 — foi, de acordo com a organização, resultado de 22 anos de esforços que incluiram a vacinação em massa contra o sarampo, a caxumba e a rubéola em todo o continente. No entanto, grandes surtos ainda ocorrem na Ásia e na África principalmente.
Saiba quem deve se vacinar

Crianças (12 meses a 5 anos):

    Uma dose aos 12 meses (tríplice viral: contra sarampo, rubéola e caxumba)
    Reforço aos 15 meses (tetra viral: com as anteriores, mais a catapora)

Crianças e adultos

    (5 a 29 anos de idade que ainda não se vacinaram)
    Duas doses da tríplice,com intervalo de 30 dias

Adultos (de 30 até 49 anos)

    Uma dose da tríplice

Onde

    Postos de saúde do SUS

Quem não deve se vacinar

    Casos suspeitos de sarampo
    Menores de 6 meses
    Grávidas
    Pessoas imunocomprometidas
    Acima de 49 anos

Algumas dúvidas comuns

“Não lembro se me vacinei. O que fazer?”

De acordo com o Ministério da Saúde, se não há comprovação de vacinação nas faixas indicadas, há necessidade de o adulto receber a vacina. Não há riscos para a saúde. O órgão ainda lembra que a caderneta de vacinação é um documento pessoal e deve ser guardado por toda a vida.

“Recebi no whatsapp que a vacina provoca efeitos colaterais ainda desconhecidos e de longo prazo. É verdade ou mito?”

Mito. É preciso estar atento e “vacinado” contra boatos, como Radis abordou na edição 189. As vacinas oferecidas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) são consideradas seguras. Segundo o Ministério da Saúde, a maioria das reações são geralmente pequenas e temporárias, como braço dolorido ou febre ligeira.

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