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Reciis aborda papel da comunicação em crises sanitárias


22/03/2023

Roberto Abib (Reciis)

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Médico mostrando uma ampola de medicamento para uma pessoa que faz uma foto da ampolaUma emergência pode ser atribuída a algo que estava submerso e, de repente, aparece abruptamente, sendo nomeada como uma crise e exigindo das organizações públicas e do Estado ações rápidas, articuladas e resolutivas. Na contemporaneidade, esse fenômeno tem ocorrido com frequência, como epidemias, a pandemia de Covid-19 e, recentemente, a desassistência ao povo Yanomami. No primeiro número de 2023, a Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde (Reciis) procura discutir como a Informação e a Comunicação são fundamentais para compreender os sistemas complexos geradores das emergências a partir das interações e conexões dos atores sociais, proporcionadas por gerências comunicacionais, particularmente, no âmbito da Saúde Pública. Essa questão perpassa toda a edição, principalmente, a coletânea de artigos originais que compõe o dossiê Gestão da Informação e Comunicação em Saúde.  

Emergências: seculares e urgentes

Em Nota de Conjuntura, Christovam Barcellos e Nathália Saldanha analisam a atual crise humanitária no Território Yanomami como reveladora de uma grave condição secular de desamparo e invasões de atividades de garimpo que afetam esse povo indígena. No âmbito da Informação, apontam inconsistência e divergência das informações epidemiológicas e demográficas entre as fontes do governo e entidades representantes dos povos indígenas. Assim, propõem um desenvolvimento de sistema estatístico integrado e contínuo a fim de tornar visível as reais condições dos povos tradicionais, em particular, do povo Yanomami, e com isso, propiciar uma assistência mais qualificada. Alertam também sobre a consideração de uma enorme produção científica de décadas sobre o território Yanomami para evitar o ‘começar do zero’ diante de uma situação paradoxal: secular e urgente. 

No Dossiê Gestão da Informação e Comunicação em Saúde, editado pelos editores convidados da Universidade de Barcelona, Mario Pérez-Montoro e J. Antônio Cirino, há artigos que versam sobre os sistemas de informação e epidemiológicos diante da pandemia de Covid-19. A autora Ariane Barbosa Lemos faz um estudo sobre os boletins epidemiológicos da Prefeitura de Frutal (MG), refletindo sobre o acesso à informação e o monitoramento epidemiológico de covid-19. Já Ana Paula Novaes da Nóbrega e Liráucio Girardi Júnior analisam o Sistema de Informações e Monitoramento Inteligente de São Paulo (Simi-SP) no enfrentamento da pandemia. 

Os canais de comunicação e fontes oficiais relacionados à desinformação também são analisados nos artigos publicados. Carolina Toscano Maia e Kenia Maia discutem a desordem informacional a partir do canal do Ministério da Saúde Saúde sem Fake News. Christine Conceição Gonçalves e Ricardo Rodrigues Barbosa analisam como a sociedade considerou algumas fontes de informação sobre a covid-19 durante a pandemia, constatando a relevância dada a alguns canais institucionais; Adriana Rodrigues da Cunha e Thereza Maria Magalhães Moreira avaliam a relevância de fontes na mídia local da Universidade Estadual do Ceará para a disseminação de informações baseadas em estudos científicos em detrimento das desinformações. Por fim, Eduarda Endler Lopes e Cristiane Finger Costa fazem uma reflexão crítica sobre os efeitos à saúde das formas de comunicação da mídia sobre o tema feminicídio seguido de suicídio.

Afeto e cuidado para não esquecer

Por meio de submissão em fluxo contínuo, este número apresenta ainda artigos originais que versam sobre a comunicação, a informação e a saúde. A saúde mental é abordada em dois artigos, ligada a um grupo etário, o de idosos na série televisiva Unidade Básica, e a um grupo profissional, o de jornalistas atuando na comunicação de riscos. Na seção Resenha, Fernando Seffner analisa o filme Os primeiros soldados, de Rodrigo de Oliveira. O autor discorre sobre algumas abordagens originais sobre a epidemia da Aids no cinema, como a construção da narrativa a partir de três sujeitos marginalizados que não estão nas grandes metrópoles: um jovem branco gay, um jovem negro gay e uma travesti branca, localizadxs na capital e no interior do estado do Espírito Santo. Destaca também a resposta aos primeiros casos da epidemia no Brasil por meio de uma rede de afeto/cuidado entre as personagens, diferentemente da maioria dos filmes sobre o tema que são atravessados por ações dos movimentos sociais: “Eles não chegam a liderar um movimento social, não fundam um Grupo de Apoio à Prevenção da Aids (APA), não saem nas capas de jornais, não encabeçam marchas de reivindicação. Mas se associam, resistem à doença, registram suas experiências, e depois as comunicam para além de seu grupo” com a intenção de não serem esquecidos, sendo os primeiros soldados dessa permanente resistência e luta à aids. 

Em entrevista, Rudimar Baldissera fala sobre suas reflexões acadêmicas no campo da comunicação organizacional construídas por um caminho vivido de funcionário a gestor de uma empresa. O pesquisador observa o tecer e o retecer da imagem da Ciência e do Sistema Único de Saúde (SUS) que é constituída com os diversos públicos que participam dessa construção. Em editorial, a coordenadora da Reciis, Maria Elisa Luiz da Silveira, apresenta as concretizações de ações sonhadas ao longo de 15 anos de existência da primeira revista totalmente eletrônica e de acesso aberto da Fiocruz. 

A Reciis é editada pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz). 

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