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'Radis' divulga novas ações de prevenção contra a febre amarela


18/04/2018

Fonte: Ensp/Fiocruz

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Apesar de ser uma doença conhecida, prevenível por vacinação, as abordagens contra a febre amarela não evitaram o aumento de 50,8% no número de casos em 2018, em relação a 2017. Some-se a isso o risco confirmado de reurbanização da doença, que mobiliza ativistas e especialistas para a divulgação de informações confiáveis e a necessidade de convencer a população a se vacinar. Radis apresenta, a seguir, um guia atualizado sobre a febre amarela, com base em orientações fornecidas por pesquisadores em oficina ministrada para jornalistas, no mês de março (veja abaixo). Na pauta, os estudos sobre o novo medicamento, avaliações sobre a eficácia da vacina e a defesa da imunização - medida comprovada de prevenção do retorno da doença às cidades. Leia a reportagem completa da Radis, n° 187.

Expansão geográfica

“O que está acontecendo é absolutamente previsível”, explicou Akira Homma, presidente do Conselho Político e Estratégico do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz). A curva epidemiológica da febre amarela silvestre, conforme explicou o pesquisador, tem alguns “anos silenciosos”, em que não ocorrem novos casos, e isso levou ao negligenciamento da vacinação. “Em 2017, durante o inverno, o ministro da Saúde ‘decretou’ o fim da epidemia, mas era apenas a diminuição sazonal do número de casos com a queda das temperaturas”, criticou o pesquisador. Ele lembra que está havendo, ao longo dos anos, uma expansão geográfica da doença em direção ao litoral do país devido ao desequilíbrio do ecossistema, e a população mais suscetível é a de adultos, geralmente trabalhadores ou quaisquer pessoas que entrem nas florestas para desempenhar atividades durante o dia, uma vez que o mosquito é diurno. “Calor, chuvas, explosão da população de mosquitos migrando para o Sul e buscando primatas não humanos sensíveis é o contexto em que essa expansão geográfica ocorre”, explicou.

Novo medicamento

Das pessoas que se infectam com o vírus da febre amarela, a maior parte (até 80%) fica assintomática ou apresenta sintomas leves que podem se confundir com uma gripe comum. No entanto, os pacientes que geralmente chegam aos hospitais são os casos graves, com o que o infectologista André Siqueira, pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) descreve como “sintomas trágicos”, com alto grau de mortalidade. Para tentar salvar a vida desses pacientes, um novo estudo vai avaliar o uso do medicamento sofosbuvir contra a febre amarela. Originalmente indicado para hepatite C, o protocolo do medicamento está sendo desenvolvido em um ensaio clínico em parceria com diversos hospitais do país. Estudos preliminares em laboratório demonstraram a eficácia do sofosbuvir contra o vírus em células de camundongo. “A droga foi escolhida para o estudo porque é a primeira já testada em modelos in vivo. Até agora, fizemos uso off-label [fora da indicação original da bula] do medicamento em pacientes graves, e a nossa observação é que a administração precoce tem resultados promissores”, explicou André, na oficina sobre o tema.

Reurbanização: como prevenir

Existe o risco real de reurbanização da febre amarela? Segundo estudo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) em parceria com o Instituto Pasteur, na França, infelizmente, a resposta é sim. A pesquisa mostrou que diferentes espécies de mosquitos dos gêneros Aedes, Haemagogus e Sabethes são capazes de transmitir o vírus. “Os dados indicam que, na hipótese de o vírus ser introduzido na área urbana do Rio de Janeiro por um mosquito infectado, existem múltiplas oportunidades para o início da transmissão local”, afirmou Ricardo Lourenço de Oliveira, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC. Para prevenir o chamado transbordamento da doença do ciclo silvestre para o urbano, o estudo, publicado na revista internacional Scientific Reports, em julho de 2017, ressalta que é essencial que as pessoas que entrem em contato com as áreas de mata onde há circulação da forma silvestre sejam imunizadas. O Aedes aegypti não é um vetor altamente competente para a transmissão da febre amarela, diferentemente de outras doenças, como a dengue, zika e chikungunya. No entanto, a presença de muitos mosquitos em locais com alta densidade populacional - não vacinada - e a introdução de uma pessoa com alta viremia (um recém-chegado de viagem, por exemplo, com muitos vírus circulando no sangue, nos primeiros três a cinco dias após a infecção pelo vírus), é um quadro que pode favorecer a transmissão dentro das cidades.

Cobertura vacinal baixa

Ainda em 2016, durante o surto de febre amarela no estado de Minas Gerais, que é endêmico para a doença, o porcentual da população vacinada era de 40%. Esse número é considerado baixíssimo pelo epidemiologista Akira Homma. O porcentual da população vacinada contra a febre amarela no Estado do Rio de Janeiro até fevereiro de 2018 era de apenas 7%, e de São Paulo, 15%. “Há doses suficientes sendo distribuídas pelo SUS para toda a população, e é absoluta a segurança da vacina. O que é necessária é uma estratégia de comunicação mais eficaz”, afirmou Akira Homma. Em fevereiro, dois turistas chilenos morreram de febre amarela após visita à Ilha Grande, distante 100 quilômetros da capital do Rio de Janeiro, fato que ele considera alarmante.

Macacos sentinelas

A doença em seu ciclo silvestre não é erradicável, pois o vírus permanece nos mosquitos, que vivem nas copas das árvores dentro das florestas, e nos macacos. Os animais, quando adoecem e morrem dão o alerta de que o vírus está circulando e atingindo animais sem imunidade em áreas de transição entre a zona rural e a urbana. Por isso, os macacos são os chamados “sentinelas”, já que alertam de que é hora de reforçar a vacinação de toda a população em torno de um caso de animal doente.

Doses fracionadas

A vacina (e a dose que vem sendo aplicada no SUS na campanha atual) é segura e eficaz, e deve ser tomada por todos aqueles que nunca foram vacinados, salvo algumas exceções como gestantes e imunodeprimidos. A vacinação de mulheres que estejam amamentando e pessoas maiores de 60 anos deve ser feita sob recomendação médica. “As pesquisas indicam que, mesmo com a aplicação da dose reduzida em um quinto da dose padrão, a vacina produzida por Bio-Manguinhos/Fiocruz sustenta a proteção similar por pelo menos oito anos a partir do momento da vacinação”, reforçou Tatiana Noronha, médica e pesquisadora de Bio-Manguinhos. A vacina, que é do tipo de vírus atenuado, induz a produção de anticorpos em 95% das pessoas. 

Mapa do sudeste mostrando o número de casos por estados. 415 em MG, 376 em sp, 123 no RJ e 5 no ES

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