22/03/2022
Erika Farias (CCS/Fiocruz)
“Não podemos esperar tanto tempo para que passos tímidos sejam dados. Porque quem tem fome, tem pressa; e quem tem vida espera vivê-la plenamente”. Essa foi uma das frases proferidas durante a roda de conversa Trajetórias Negras na Fiocruz, promovida pelo Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz. A oitava edição do evento foi realizada no dia 17 de março, a fim de celebrar o Dia Internacional da Mulher e integrar a campanha 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo.
Foram convidadas para o encontro a assistente social e coordenadora adjunta da Fiocruz Piauí, Elaine Nascimento; e a assistente social do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) e integrante da Coordenação Colegiada do Comitê, Roseli Rocha. A mediação ficou por conta da jornalista do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e integrante da Coordenação Colegiada do Comitê, Marina Maria.
A 8ª edição do Trajetórias, que contou com tradução para a Língua Brasileira de Sinais (Libras), foi aberta pela coordenadora da Seção de Formação do Serviço de Educação do Museu da Vida, da Casa de Oswaldo Cruz (COC), e coordenadora colegiada do Comitê, Hilda Gomes. Hilda iniciou o evento com a exibição do vídeo produzido pela Coordenação de Comunicação Social da Fiocruz (CCS), em parceria com o Comitê, para a campanha dos 21 Dias de Ativismo contra o Racismo.
Homenageadas
“Tive uma mãe solo, fundamental no meu crescimento”, contou Elaine Nascimento. A assistente social da Fiocruz Piauí revelou que sempre quis ser alfabetizada, já que sua mãe lia muito e, ainda pequena, queria poder ter mais esse vínculo com ela. “Em todos os aspectos eu sou filha da minha mãe e contar essa história me emociona, porque essa não é uma história só minha. Essa é a história de muitas mulheres brasileiras”, afirmou.
- As histórias das mulheres negras são histórias solitárias, de resistência e luta. Ser mulher é muito difícil no Brasil, ser mulher negra é desbravar todos os dias formas de sobreviver. E apesar de tudo isso, além da minha mãe, eu sou a única, de cinco filhos, com nível superior. Isso mostra como é difícil romper um conjunto de barreiras, de opressões estruturais. E a mais forte delas é o racismo. O racismo é um dos grandes obstáculos que nos impede de lidar com todos os outros –, explicou.
Elaine finalizou, afirmando que a trajetória da instituição que ela escolheu estar precisa ser mais brasileira. “Para isso, ela precisa ser mais preta, porque nós somos a maioria da população brasileira; e ela precisa ser mais feminista, um feminismo que seja negro, que seja interseccional. É urgente, porque só assim vamos avançar como uma sociedade democrática”.
Assim como Elaine, a segunda homenageada do evento, Roseli Rocha, também elegeu a educação como grande âncora para sua trajetória. Segundo ela, em famílias empobrecidas e de origem popular, a única herança é o acesso à educação pública. “Este é o único recurso para a mobilidade e ascensão social”, enfatizou.
Roseli contou que, na época da escola, tinha muita dificuldade com matemática, e isso a fazia se sentir insegura, apesar de ser uma excelente aluna em todas as outras matérias. A grande “virada” veio quando passou a participar de movimentos comunitários e integrar o movimento negro. “Fiquei tão fortalecida que entrei para o grêmio estudantil, participei de movimentos pelos direitos de crianças e adolescentes, entre muitos outros movimentos”, revelou.
A assistente social do IFF também fez uma reflexão sobre sua trajetória na Fiocruz. Para ela, o “orgulho de ser Fiocruz”, lema de muitos que trabalham na instituição, só funciona “se a Fundação for para ‘todes’; e se ela continuar defendendo e se dedicando à luta contra todas as formas de opressão, discriminação e racismo”, afirma. “Talvez não precisemos viver mais 100 anos para ter uma nova presidenta na Fiocruz, e nem esperar mais 200 para termos uma mulher negra no mesmo lugar”, concluiu.
Quatro anos sem Marielle
Os quatro anos do assassinato da vereadora do município do Rio, Marielle Franco, e de seu motorista, Anderson Gomes, no dia 14 de março, não passaram em branco durante o Trajetórias Negras. Sinônimo de resistência e representação de minorias, Marielle tornou-se um símbolo de luta contra o racismo, a homofobia e o machismo. “Ela era parceira da Fiocruz, dos Comitês e de nossas lutas. Marielle presente, hoje e sempre”, reforçou a mediadora do evento, Marina Maria.
Conheça as ações do Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz em https://bit.ly/comiteproequidade