10/11/2021
Bel Levy (Icict/Fiocruz)
As taxas de aleitamento materno vêm crescendo no Brasil e uma pesquisa inédita coordenada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostra como a amamentação está presente na vida de crianças de até dois anos e suas mães. O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI-2019), encomendado pelo Ministério da Saúde, mostra que metade das crianças brasileiras são amamentadas por mais de 1 ano e 4 meses. E, também, que no Brasil quase todas as crianças foram amamentadas alguma vez (96,2%), sendo que dois em cada três bebês são amamentados ainda na primeira hora de vida (62,4%). A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendam manter o aleitamento materno até os dois anos de idade ou mais, oferecendo só leite do peito até o sexto mês de vida. Os resultados do ENANI-2019 serão apresentados em webinário dia 10 de novembro, às 14h (veja abaixo).
O ENANI-2019 descreve o cenário brasileiro, com recortes por macrorregiões, situação do domicílio (urbana ou rural), quintos do Indicador Econômico Nacional (IEN), sexo e cor ou raça. São 14 indicadores sobre práticas de aleitamento materno, com dados inéditos sobre amamentação cruzada, doação de leite e uso de mamadeiras, chuquinhas e chupetas. "O elenco de indicadores é pautado pelas recomendações da OMS e do Ministério da Saúde e traz informações novas para o contexto nacional, como a prática do aleitamento materno cruzado e a doação de leite humano", informa o coordenador nacional do ENANI-2019, Gilberto Kac, que é professor titular do Instituto de Nutrição Josué de Castro, da UFRJ.
"As prevalências de aleitamento materno são expressivas..Observamos o aumento de mais de 12 vezes da prevalência de amamentação exclusiva entre crianças menores de quatro meses, em relação a 1986. Mas ainda estamos distantes das metas da OMS para 2030: 70% na primeira hora de vida, 70% nos primeiros seis meses, de forma exclusiva, 80% no primeiro ano e 60% aos dois anos de vida. No Brasil, chegamos a 62,4% de amamentação na primeira hora de vida, 45,8% de aleitamento exclusivo nos primeiros seis meses, 52,1% aos 12 meses e 35,5% aos 24 meses de vida. Também percebemos que metade das crianças brasileiras de até dois anos usa mamadeiras, chuquinhas e chupetas, o que pode prejudicar a continuidade do aleitamento materno. A expectativa é que os novos dados possam pautar políticas públicas para o fortalecimento do aleitamento materno no Brasil", resume Kac.
Amamentação cruzada
Um dado chama atenção: uma em cada cinco mães brasileiras amamentou o filho de outra pessoa ou deixou seu filho ser amamentado por outra mulher. Essa é a primeira vez que uma pesquisa de representatividade nacional aborda a chamada amamentação cruzada. A prática - contraindicada pelo Ministério da Saúde devido ao risco de transmissão de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) - é mais frequente na região Norte (34,8%) e entre mulheres pretas (24,8%) e pardas (23,7%). A prevalência dessa prática é de 21,3% no Sudeste, 20,3% no Nordeste, 18,7% no Centro-Oeste, 12,5% no Sul e de 15,5% entre mulheres brancas. Por outro lado, a doação para bancos de leite humano (BLH) é relativamente baixa: apenas 4,8% das mães de crianças com menos de dois anos de idade aderiram à prática.
Sobre o ENANI-2019
O ENANI-2019 é a primeira pesquisa com representatividade nacional a avaliar, simultaneamente, em crianças menores de 5 anos, práticas de aleitamento materno, alimentação complementar e consumo alimentar individual, estado nutricional antropométrico e deficiências de micronutrientes, incluindo as deficiências de ferro e vitamina A. Foram realizadas visitas domiciliares em 123 municípios brasileiros entre fevereiro de 2019 e março de 2020, totalizando 14.558 crianças menores de 5 anos. O ENANI-2019 foi encomendado pelo Ministério da Saúde e coordenado pelo Instituto de Nutrição Josué de Castro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade Federal Fluminense (UFF), com financiamento da Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
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