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Pesquisa aponta relação entre biodiversidade, agricultura e dispersão de doenças

13/07/2021

Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços

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A dispersão de doenças na Amazônia está diretamente relacionada à trajetória de desenvolvimento agrícola dos municípios e à perda de biodiversidade. Malária prevalece em municípios com perfil agroextrativista e com cobertura florestal, ou seja, metade do território amazônico. A dengue e chikungunya ocorrem com mais frequência em municípios de expansão urbana recente, como no limite sul da Amazônia em transição para o Cerrado. A leishmaniose cutânea prevalece em municípios com grandes rebanhos onde há maiores taxas de desmatamento e perda de biodiversidade. Já a Covid-19 se espalhou com facilidade em todos municípios, pois relaciona-se com o tráfego de pessoas. É o que aponta o estudo Epidemiology, Biodiversity, and Technological Trajectories in the Brazilian Amazon: From Malaria to COVID-19, publicado nesta terça-feira (13/7) na revista Frontiers in Public Health, de autoria dos pesquisadores do projeto Trajetórias, do Centro de Síntese em Biodiversidade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Os municípios da Amazônia convivem atualmente com elevadas taxas de desmatamento, perda de biodiversidade e alta carga de doenças tropicais negligenciadas. Aproximadamente dois terços desse bioma estão localizados em território brasileiro. Lá, as transformações socioeconômicas e ambientais da paisagem estão ligadas à dinâmica da economia agrária regional. Buscando integrar abordagens da economia, epidemiologia e de biodiversidade, os autores do estudo identificaram duas perspectivas principais de se relacionar com a terra e que se subdividem. 

O primeiro conjunto de práticas (chamadas pelos pesquisadores de “trajetórias técnoprodutivas”) se enquadram no modelo agropecuário, associado à intensa mudança da paisagem, homogeneizador e promotor de grande perda da cobertura florestal. A lógica envolvida nessas trajetórias tem como foco a eficiência do capital, orientada pelo lucro. O segundo conjunto de trajetórias é relacionado ao modelo agroextrativista que se apoia no acúmulo de conhecimento local e na histórica adaptação ao bioma, descrevendo sua realidade rural a partir de referências históricas e de ocupação da terra. 

As trajetórias agroextrativistas são dominantes em metade do território Amazônico e estão concentradas em áreas cobertas por floresta contínua, nas quais a malária é uma doença importante e causa de grande mortalidade. A criação de gado e plantio de grãos, por outro lado, tem associação com altas taxas de desmatamento e tem se tornado trajetórias dominantes nos últimos anos. Essas trajetórias agropecuárias estão associadas com grande perda de biodiversidade e o aumento das doenças tropicais negligenciadas, como a leishmaniose, doença de Chagas e aquelas relacionadas à transmissão pelo mosquito Aedes.    

A trajetória da Covid-19 iniciou nas cidades, porém se espalhou rapidamente pelas comunidades rurais, ribeirinhas e que vivem nas florestas. Esse fluxo se deu pela cadeia de contatos que envolveu os profissionais de saúde e assistentes sociais que transitam entre as regiões, assim como pelos moradores que saíram das grandes cidades rumo às áreas mais remotas. A Covid-19 foi agravada pela desigualdade de acesso a serviços básicos de saúde e de bens e serviços que assola a região. Além de abrir horizontes para monitorar o potencial avanço de doenças nos municípios amazônicos, o estudo inova com uma abordagem sistêmica na qual as perspectivas epidemiológicas, econômicas e ambientais são consideradas em conjunto. 

O estudo foi elaborado pela equipe do projeto Trajetórias, vinculado ao Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose) do CNPq e conta com pesquisadores cientistas sociais, naturais, da computação, da saúde e economia. Neste estudo colaboraram pesquisadores da Fiocruz, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), Universidade do Acre (Ufac), Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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