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Palestra debate hepatite aguda grave, vírus monkeypox e dengue


30/05/2022

Max Gomes (IOC/Fiocruz)

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Para dar início ao último dia de atividades em comemoração dos 122 anos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), completados em 25 de maio, foi promovida na sexta-feira (27/5) a apresentação Hepatite aguda grave em crianças e aumento dos casos de dengue: cenários atuais, ministrada pelo coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio da Cunha. Participaram da mesa Thayssa Maluff e Sandra Leon, do escritório regional da Fiocruz no Mato Grosso do Sul (Fiocruz MS).

Realizada de forma remota, e com transmissão ao vivo pelo Canal do IOC no YouTube, a sessão integrada, em parceria com o 3º Webnário VigiEpidemia, foi organizada pelo Programa Educacional em Vigilância e Cuidado em Saúde no Enfrentamento da Covid-19 e de Outras Doenças Virais da Fiocruz MS e pela Secretaria De Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.

“Faz parte do nosso compromisso, enquanto trabalhadores da área da saúde, amenizar os sofrimentos das pessoas, em qualquer lugar do mundo”, introduziu Rivaldo ao falar sobre os recentes casos de hepatite aguda grave de causa ainda indeterminada que tem afetado crianças saudáveis ao redor do mundo.

O pesquisador ressaltou que a situação foi notificada pela primeira vez no dia 5 de abril por autoridades sanitárias do Reino Unido. “Durante o alívio com a redução do número de casos de Covid-19 em muitos países, surgem casos de uma hepatite em crianças cuja etiologia ainda é desconhecida”, apontou Rivaldo.

Testes laboratoriais desempenhados para identificar o agente causador desses agravos excluíram a possibilidade de infecção por hepatites tradicionalmente conhecidas (hepatites A, B, C, D e E) e de outros prováveis vírus, como o citomegalovirus. Até o momento, foram notificados 614 casos de crianças menores de 10 anos em 34 países. No Brasil, 69 casos estão sob investigação. “Não é um surto pontual em um único país. Tem que haver uma explicação para a ocorrência em tantos países em um curto espaço de tempo”, reiterou o pesquisador.

Rivaldo destacou que, no momento, há mais dúvidas do que certezas e que diversas equipes buscam uma resposta para o agravo. Entre as hipóteses, estão possíveis relações com adenovírus e SARS-CoV-2, detectados em diagnósticos laboratoriais desses pacientes.

Na sequência, outro assunto de importância atual para a saúde pública mundial entrou em foco: a circulação incomum do vírus monkeypox, causador da infecção popularmente chamada de “varíola dos macacos”. Tradicionalmente restrita à África, a infecção provocou um número expressivo de casos em outros continentes, principalmente na Europa.

“O mundo está vivendo uma emergência de casos de monkeypox fora do continente africano e em pessoas que não estiveram nessa região recentemente. A infecção possui várias características clínicas específicas, como o surgimento de lesões bolhosas”, explicou Rivaldo.

A transmissão da doença – que já teve 239 casos confirmados em 21 países – foi um dos pontos enfatizados pelo pesquisador. Geralmente transmitida pelo contato com secreções das lesões cutâneas, gotículas por via respiratória, fluidos corporais ou animais contaminados, os casos atuais de monkeypox tem gerado debates sobre a possibilidade de uma transmissão via relação sexual.

“São observações muito novas que precisamos ter muita cautela, pois não há, definitivamente, uma associação causa-efeito para etiquetar o vírus monkeypox como um vírus de transmissão sexual”, enfatizou. O pesquisador lembrou dos estigmas iniciais em relação ao vírus HIV assim que foi descoberto. “Demoramos décadas para superar aquele preconceito que surgiu incialmente. É importante que tenhamos cautela e fé na ciência para encontrar quais são os elos de ligação entre esses casos de monkeypox que nós temos observados e os principais mecanismos de transmissão para o surto que está acontecendo agora”, concluiu.

O último bloco da palestra foi dedicado a discutir os cenários atuais da dengue, bem como os desafios no enfrentamento da doença e as premissas para reduzir sua letalidade. Espalhada por todo o Brasil e transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, a dengue provoca frequentes epidemias há décadas no Brasil e, por isso, o pesquisador acredita que o assunto não deveria ser mais tratado como novidade.

“Absolutamente todas as epidemias de dengue são previsíveis ou passiveis de previsão com vigilância. Conseguimos identificar no início a partir de exames sorológicos e também pelos níveis de infestação dos mosquitos. Depois de quase 40 anos, não era para ser mais surpresa”, reiterou.

Atualmente, cidades brasileiras enfrentam surtos da doença. No entanto, em 2021, os casos de dengue tiveram uma grande redução em comparação com os números do ano anterior. Segundo Rivaldo, a oscilação pode ter relação com uma redução natural da doença que ocorre em tempos, ou também por uma subnotificação devido ao cenário de isolamento social provocado pela Covid-19.

“As epidemias de dengue continuarão acontecendo, a menos que tenha uma tecnologia sendo usada em larga escala”, declarou utilizando como exemplo a técnica de enfrentamento com a bactéria Wolbachia, capaz de reduzir a transmissão de doenças pelo Aedes aegypti.

Outros debates

Na parte da tarde, a programação do evento contou com uma mesa-redonda integrada ao Centro de Estudos do IOC com o tema: “Financiamento da ciência e da saúde: situação e possibilidades” Na sequência, foi realizada a assinatura do termo de cooperação IOC-VPPIS para o Programa Inova IOC Redes de Pesquisa e Inovação. A cobertura jornalística completa dessas atividades será publicada na próxima segunda-feira (30/5).

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