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OMS recomenda melhor uso das vacinas para combater a resistência antimicrobiana

Mulher tomando vacina no braço

28/07/2022

Paulo Schueler (Bio-Manguinhos/Fiocruz)

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou no último dia 12 o documento Uma análise de vacinas bacterianas em desenvolvimento pré-clínico e clínico: 2021, seu primeiro relatório de pipeline apresentando as vacinas em desenvolvimento tecnológico para a prevenção de infecções causadas por patógenos resistentes a antimicrobianos (AMR, na sigla em inglês).

Majoritariamente bacterianas, estas infecções também podem ocorrer por fungos e parasitos que mudam com o tempo e não respondem mais aos medicamentos existentes. “Quando um indivíduo é infectado com esses micróbios, diz-se que a infecção é resistente a medicamentos antimicrobianos. Estas infecções são muitas vezes difíceis de tratar”, exemplifica a OMS, que pede a aceleração dos testes de vacinas relacionadas à AMR em estágio avançado de desenvolvimento e maximizar o uso das vacinas existentes.

“A silenciosa pandemia de resistência antimicrobiana é uma grande e crescente preocupação de saúde pública. As infecções com bactérias resistentes aos antibióticos existentes estão associadas a quase 4,95 milhões de mortes por ano, dos quais 1,27 milhão são óbitos diretamente atribuídas à AMR”, ressalta a Organização. “As vacinas são ferramentas poderosas para, em primeiro lugar, prevenir infecções. Portanto, têm o potencial de conter a propagação de infecções por AMR. O relatório do pipeline de vacinas visa orientar os investimentos e pesquisas em vacinas viáveis para mitigar esta resistência”, complementa a OMS.

O documento identifica 61 vacinas candidatas em vários estágios de desenvolvimento clínico e 94 candidatas em desenvolvimento pré-clínico. O projeto de vacina conjugada de Bio-Manguinhos contra Acinetobacter baumannii e Streptococcus agalactiae, atualmente em estágio pré-clínico, consta do levantamento.

A maioria destas vacinas candidatas, entretanto, não estará disponível tão cedo. “Prevenir infecções por meio da vacinação reduz o uso de antibióticos, um dos principais impulsionadores da AMR. No entanto, dos seis principais patógenos responsáveis por óbitos, apenas um, a doença pneumocócica (Streptococcus pneumoniae), dispõe de vacina já registrada”, afirmou a diretora-geral assistente da OMS para resistência antimicrobiana, Hanan Balkhy. “O acesso equitativo à vacinas contra pneumococos é urgentemente necessário tanto para salvar vidas quanto mitigar o aumento da resistência antimicrobiana”, acrescentou.

Esta solicitação por acesso equitativo e global às vacinas já existentes, “especialmente entre as populações que mais precisam delas e em ambientes com recursos limitados”, é direcionada para quatro patógenos bacterianos que a OMS classifica como prioritários: doença pneumocócica (Streptococcus pneumoniae), Hib (Haemophilus influenzae tipo b), tuberculose (Mycobacterium tuberculosis) e febre tifoide (Salmonella Typhi). No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) disponibiliza de forma gratuita, para a população, as vacinas Pneumocócica 10-valente e Hib produzidas por Bio-Manguinhos. 

“As vacinas atuais de Bacillus Calmette-Guérin (BCG) contra a tuberculose (TB) não protegem adequadamente contra a tuberculose, portanto o desenvolvimento de vacinas mais eficazes contra a tuberculose deve ser acelerado. As três vacinas restantes são eficazes e é necessário aumentar o número de pessoas que as recebem, para contribuir para a redução do uso de antibióticos e evitar mais mortes”, ressalta comunicado da OMS sobre o lançamento do relatório.

Por ser improvável que as 61 vacinas candidatas descritas no relatório estejam disponíveis a curto prazo, a OMS solicita dos desenvolvedores “abordagens disruptivas” tanto para enriquecer o pipeline quanto acelerar o desenvolvimento de cada um dos projetos já existentes.

A Organização indica as lições do desenvolvimento de vacinas para Covid-19, como as vacinas de mRNA, como uma oportunidade única para o desenvolvimento de vacinas contra bactérias. “O desenvolvimento de vacinas é caro, cientificamente desafiador e está associado a altas taxas de falha. Para as candidatas bem-sucedidas, existem requisitos regulatórios e de fabricação complexos. Temos que aproveitar as lições do desenvolvimento de vacinas Covid-19 e acelerar nossa busca por vacinas para lidar com as AMRs”, complementou a diretora do Departamento de Imunização, Vacinas e Biológicos da OMS, Kate O'Brien.

No caso da resistência antimicrobiana, um desafio adicional – apontado no relatório – é a escolha de patógenos associados a infecções adquiridas em hospitais. “Estes incluem a dificuldade em definir as populações-alvo dentre todos os pacientes internados no hospital; o custo e a complexidade dos ensaios clínicos e a falta de precedentes regulatórios para as vacinas contra estas infecções hospitalares”, indica o documento.

Acesse o relatório Uma análise de vacinas bacterianas em desenvolvimento pré-clínico e clínico: 2021.
 

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