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É preciso vacinar: o risco representado pela queda da cobertura vacinal contra meningite

Imagem de frascos da vacina meningocócica AC

16/11/2022

Luana Dandara (Portal Fiocruz)

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O registro de três surtos de meningite meningocócica tipo C em 2022 na capital paulista, e o crescimento recente de casos e óbitos pela doença em outras localidades do país, acendem um alerta sobre a necessidade de redobrar os esforços de prevenção. A queda da cobertura vacinal contra a doença nos últimos anos foi drástica: a aplicação da vacina meningocócica C (conjugada) em menores de um ano de idade caiu, em apenas cinco anos, de 87,4% para 47% no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde (MS). A meningite é uma doença grave, que pode levar à morte e deixar diversas sequelas, e melhor forma de evitá-la é a vacinação. 

Como parte do Calendário Nacional de Vacinação do MS, a vacina contra a meningite meningocócica C deve ser aplicada nos bebês em três doses: aos 3, 5 e 12 meses de idade. Até fevereiro de 2023, crianças de até 10 anos não vacinas também podem receber o imunizante, em uma dose. 

Já a vacina meningocócica ACWY deve ser aplicada em adolescentes de 11 e 12 anos de idade, em uma dose. Contudo, até junho de 2023, também pode ser aplicada em adolescentes entre 13 e 14 anos que não se vacinaram. Conhecida como vacina conjugada quadrivalente, ela protege contra os sorogrupos A, C, W e Y, responsáveis pelas doenças meningocócicas. Os dois imunizantes (contra a meningite C e ACWY) estão disponíveis gratuitamente nos postos de saúde do país durante todo o ano. 

Marcio Nehab, infectologista pediátrico do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), explica que as meningites, de forma geral, são classificadas pelo seu agente causador. “A meningite é uma inflamação das meninges, que são as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. No caso da meningocócica C, ela é causada pelo meningococo do sorotipo C, por isso o nome. É uma doença com um quadro de evolução rápido e, em horas, o paciente pode morrer. Mesmo com todo o tratamento moderno, a taxa de mortalidade da meningite meningocócica C permanece praticamente estável, em torno de 20%. É um índice bem alto. A única maneira de reduzir isso é através da vacinação”, destaca ele. 

Baixa vacinação pode levar a novos surtos

A doença, que já registrou 69 casos e ao menos dez mortes na capital paulista desde o início do ano, pode atingir qualquer faixa etária. Entretanto, crianças de até cinco anos, principalmente no primeiro ano de vida, e pessoas com problemas de imunidade são mais suscetíveis às formas graves. A meningite meningocócica C, além do risco de óbito, pode deixar graves sequelas no paciente, como problemas neurológicos, surdez, déficit visual, motor e cognitivo, e até necrose de extremidades, que pode levar a amputação de membros.

"A causa mais provável dos surtos na capital paulista é a queda da cobertura vacinal contra a doença. Se não conseguirmos aumentar essa taxa, podemos ter novos surtos e até maiores”, explica Marcio Nehab. A especialista Eliane Matos dos Santos, médica de Bio-Manguinhos/Fiocruz, também destaca a importância da vacinação: “É a forma mais eficaz na prevenção da doença. As vacinas são seguras e utilizadas na rotina para imunização e para controle de surtos”, pontua.

Na década de 1970, a capital paulistana foi cenário da maior epidemia de meningite da história do Brasil. Só no ano de 1974, estima-se ao menos 2500 mortes na cidade, por meningite meningocócica dos tipos A e C, ambas bacterianas. A epidemia também se espalhou por outros locais do país, e só foi interrompida após uma vacinação em massa de cerca de 80 milhões de pessoas. O evento histórico, inclusive, deu origem ao Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz). Entenda mais aqui.

Transmissão e tratamento da doença

A transmissão da meningite meningocócica C acontece através de contato direto com a pessoa infectada, por meio de secreções respiratórias. Geralmente, o período de incubação da doença é, em média, de sete dias. Em bebês, os sintomas mais comuns são sonolência, irritabilidade, febre, vômito e mal-estar geral. Em outras faixas etárias, febre, dor de cabeça, rigidez de nuca, vômito, dor nas articulações, pressão alta e convulsões podem aparecer. Além disso, manchas arroxeadas podem aparecer nos pacientes infectados. O diagnóstico da doença é feito a partir da suspeita clínica e confirmado através de exames de sangue e da análise do líquido cefalorraquidiano, um fluído biológico retirado do interior da coluna no exame de punção lombar. 

“A evolução do quadro pode ser muito rápida. Por isso, é essencial procurar imediatamente uma unidade de saúde para que possa ser feito o diagnóstico, e, se a doença for confirmada, começar rapidamente o tratamento com antibiótico. Além disso, todo paciente infectado com doença meningocócica deve ser internado em uma unidade de terapia intensiva e isolado”, detalha o especialista do IFF, Marcio Nehab.

Meningite pneumocócica também preocupa

Outro tipo de meningite, a pneumocócica, também preocupa. Enquanto a meningocócica C é causada por uma bactéria do tipo C, a pneumocócica se trata de um tipo de meningite bacteriana causada pela bactéria Streptococcus pneumoniae, que também é o agente infeccioso responsável pela pneumonia. A doença tem maior incidência entre crianças pequenas.
Em Minas Gerais, por exemplo, houve um aumento de 40% nos óbitos registrados de janeiro a outubro, em comparação a todo o ano de 2021, quando 15 pessoas faleceram em decorrência da doença. Só neste ano, foram 21 mortes por meningite pneumocócica no estado mineiro, incluindo um bebê de três meses.

“A apresentação clínica da meningite pneumocócica é muito similar à meningite meningocócica, os sintomas são os mesmos, assim como as orientações e prevenção. Porém, ela é menos transmissível, o que não quer dizer que é menos preocupante”, afirma o pediatra e infectologista Marcio Nehab. De acordo com a médica Eliane Matos, de Bio-Manguinhos, a taxa de letalidade da pneumocócica é ainda maior do que a meningocócica C: no período de 2007 a 2020, a média foi de 29%.

A especialista esclarece que no Calendário de Vacinação do Ministério da Saúde é oferecida a vacina pneumocócica 10-Valente (conjugada), em esquema de duas doses e um reforço, sendo administradas aos dois e quatro meses de idade, com um reforço aos 12 meses de idade. 

“Já nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), são oferecidas, para grupos especiais, a vacinas pneumocócica 13-Valente, além da vacina pneumocócica 23-Valente (polissacarídica), para os povos indígenas a partir de 5 anos de idade e para pessoas com 60 anos e mais, não vacinados que vivem acamados e/ou em instituições fechadas, como casas geriátricas, hospitais, unidades de acolhimento/asilos e casas de repouso”, diz ela. 

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