18/01/2022
Cooperação Social da Fiocruz
A 14ª edição do Radar Covid-19 Favela traz como tema o resgate dos mutirões e campanhas históricas da Rocinha, localizada na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, com informações sobre a construção de movimentos populares, registros de boletins informativos dos anos 80 e o fortalecimento das narrativas da memória territorial da favela. Também é destaque desta edição a mobilização contra a Covid-19, a luta da vigilância popular em saúde, os impactos da pandemia na atuação de instituições e no trabalho de articulação em espaços vulnerabilizados.
A seção Megafone traz informações sobre o aumento da procura aos serviços de saúde por pacientes com síndrome gripal e aumento de casos de Covid-19 no Centro Municipal de Saúde do Catiri, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O Relatório Anual do Instituto Fogo Cruzado, divulgado no dia 12 de janeiro de 2022, também é tema na seção e aponta o aumento do número de mortos em chacinas na região metropolitana do Rio de Janeiro. São classificados como chacina os episódios em que três ou mais civis são assassinados em uma mesma situação.
Em O que tá pegando nas favelas?, o texto Rocinha pela Vida apresenta o projeto realizado pelo Museu Sankofa Memória e História da Rocinha com objetivo de resgatar a memória das campanhas por direitos humanos e bem-estar social, com foco na saúde e na vacinação. O museu apresentará documentos de seu acervo, composto por fotos, notícias e músicas. O projeto Rocinha Pela Vida, promovido pelo museu em parceria com o Centro de Criação de Imagem Popular (CECIP), trabalha a memória como uma forma de informação com comunicação e tem por objetivo contribuir para uma campanha de esclarecimento sobre a Covid-19, através da promoção de debates virtuais mensais.
Na mesma editoria, Patricia Ramalho, da Redes da Maré, aborda os efeitos da pandemia que afetaram a sociedade, intensificando o impacto desigual e injustiças no contexto de favela que resultaram no cenário de falta de investimento em saúde pública, desemprego e dificuldade de acesso a direitos indispensáveis para o controle da pandemia. Em seu texto, Lembrar é preciso: preservação e valorização da memória das vítimas da Covid-19 no conjunto de favelas da Maré, a autora destaca a potência do trabalho coletivo nas ações relacionadas à prevenção, no combate ao vírus e à insegurança alimentar. No artigo, a autora também apresenta a produção do Memorial Maré, iniciativa de luto e memória no contexto das perdas por Covid-19 no território popular, localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro.
A seção também apresenta o texto de Djefferson Amadeus, pesquisador do Projeto de Promoção de Territórios Sustentáveis e Saudáveis em Centros Urbanos da Cooperação Social da Fiocruz, que trata das operações realizadas no Complexo de Manguinhos em 5 de novembro de 2021, Dia da Favela. Na ocasião, diversos moradores, instituições, coletivos, movimentos sociais e defensores de direitos humanos se juntaram para buscar soluções pacíficas a fim de acolher as demandas da população local.
Encerrando a editoria O que tá pegando nas favelas?, texto de Fábio Monteiro, membro do Conselho Comunitário de Manguinhos, apresenta o impacto do estande de tiros da Cidade da Polícia (Cidpol) na vida de moradores e no desenvolvimento escolar em Manguinhos, na Zona Norte do Rio de Janeiro. A falta de um isolamento acústico afeta diretamente as aulas do Colégio Clóvis Monteiro e no cotidiano dos habitantes do território.
Novas editorias
A 14ª edição do informativo apresenta a nova seção Memórias dos territórios, territórios de memórias. A seção foi composta pela íntegra da entrevista com Anazir Maria de Oliveira - Dona Zica, natural da Cidade de Manhumirim (MG), moradora da Vila Aliança desde 1964, Graduada em Pedagogia pela Universidade Cidade e em Serviço Social pela PUC-RIO, militante e integrante de movimentos sociais. A entrevista aborda a memória da construção do território da Vila Aliança, a mobilização na luta por serviços públicos e as articulações com outras favelas. Além disso, Anazir aborda os impactos da pandemia na região, o cenário dos serviços de saúde e a questão da vacinação contra a Covid-19.
A seção Debates apresenta o texto de Beatriz Brandão, pós-doutoranda em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) na pesquisa sobre metodologias de cuidado a usuários de drogas (2019-2020), sobre a pandemia e a nova gestão das urgências nos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPS AD) do Rio de Janeiro. Beatriz aborda a mudança de cenário imposta pela pandemia com relação às emergências cotidianas em complexos de favelas e a reformulação das condições de trabalho para promoção de saúde nos contextos afetados.
O texto Cadê autores e autoras indígenas na XX Bienal de Livros do Rio de Janeiro?!, de Marize Vieira de Oliveira (nome Guarani: Pará Rete), debate sobre a presença/ausência de autoras e autores indígenas no evento literário que movimenta grande parte da rede educativa do estado. A autora defende a diversidade étnico-racial e a necessidade do fortalecimento de narrativas e políticas de pertencimento às etnias indígenas, que seguem invisibilizadas e com pouco espaço de circulação. Marize é professora de História, Mestre em Educação pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e Doutoranda em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), presidente da Associação Indígena Aldeia Maracanã (AIAM) e coordenadora do Instituto dos Saberes Dos Povos Originários-Aldeia Jacutinga (ISPO - Aldeia Jacutinga).
Encerrando a edição, a seção Mobilizações sociais traz o texto de Wanessa Afonso de Andrade que conta a história de construção do Coletivo Martha Trindade, a partir de um programa de vigilância popular em saúde, e sua luta ambiental e pela saúde, diante dos impactos da instalação de uma empresa siderúrgica em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio de Janeiro. O outro texto da seção, é assinado pelo Fórum de Pré-Vestibulares do Rio de Janeiro (FPVP-RJ) e discute a participação dos coletivos de pré-vestibulares em ações autogeridas para o fortalecimento de territórios periféricos durante a pandemia e apoio aos estudantes e a luta pelo cancelamento do Enem 2020.
O Radar Covid-19 Favela usa como base de coleta dos relatos as mídias sociais de coletivos de favelas cariocas, o contato direto com moradores, lideranças e movimentos sociais e busca sistematizar, analisar e disseminar informações sobre a situação de saúde nos territórios em foco em cada edição. Lideranças e comunicadores populares podem enviar sugestões de pauta, matérias e crônicas sobre a Covid-19 em seus territórios para o e-mail radar.covid19@fiocruz.br. O Radar Covid-19 Favelas e o Boletim Socioepidemiológico nas Favelas são iniciativas da Sala de Situação Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro e podem ser acessados na página do Observatório Covid-19 da Fiocruz.