20/02/2018
Por: Graça Portela (Icict/Fiocruz)
Complementando a série Clima e Saúde, veiculada no site do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), Fábio Evangelista, consultor de Desenvolvimento Sustentável da representação da Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS/OMS, no Brasil, falou sobre um dos temas abordados na série – a seca na região Nordeste e seus impactos na saúde. Para ele, os efeitos na saúde podem ser potencializados diante de várias condições já existentes como condições de nutrição e socioeconômicas da população.
O consultor da OPAS também falou sobre as iniciativas de monitoramento do clima e saúde na América Latina e a necessidade de integração da Saúde Pública com outros setores, para garantir o processo de desenvolvimento sustentável.
A seguir, a íntegra da entrevista com Fábio Evangelista:
Quais as possíveis consequências da seca prolongada sobre as condições de saúde da população do semiárido brasileiro?
As implicações da seca para a saúde humana são muitas. Alguns efeitos na saúde podem ser diretos, sentidos em curto prazo, a exemplo de doenças infecciosas gastrointestinais. No entanto, alguns impactos são indiretos e com efeitos em longo prazo, muitas vezes sentidos meses ou anos após a ocorrência do evento, a exemplo da desnutrição e dos transtornos mentais. Os efeitos na saúde podem ser potencializados diante de várias condições já existentes como condições de nutrição e socioeconômicas da população, caracterizando cenários de suscetibilidades individuais e coletivas e de vulnerabilidades socioambientais.
Como estes problemas podem ser monitorados?
É preciso promover a conscientização dos riscos à saúde e identificar a vulnerabilidade social e ambiental de diferentes áreas e comunidades, visando estabelecer mecanismos para aumentar a resiliência dessas comunidades e dos serviços de saúde local. Mais importante ainda, o setor saúde deve garantir que as lições aprendidas a partir de cada evento sejam implementadas nas ações de adaptação. O setor da saúde deve garantir que todos os riscos para a saúde, desde os impactos mais imediatos e visíveis (por exemplo, as doenças diarreicas infantis), e dos impactos visíveis mais de longo prazo (por exemplo, a desnutrição), até os menos visíveis (por exemplo, as condições de saúde mental), estejam totalmente incluídos nas avaliações e na gestão de resposta.
Existem outras experiências de monitoramento de saúde e clima nas Américas?
A OPAS está apoiando o Ministério da Saúde do Brasil no desenvolvimento do curso de análise de situação de saúde relacionada ao clima e ao ambiente. Esse curso terá como objetivo capacitar as equipes técnicas para análise de situação de saúde frente aos eventos climáticos e exposição ambiental.
Qual a importância do Observatório Nacional de Clima e Saúde, da Fiocruz, para se trabalhar o tema clima e saúde?
O número de desastres de origem natural no mundo tem crescido expressivamente nas últimas décadas, causando milhares de danos e mortes todos os anos e prejudicando, principalmente, a saúde física e mental de milhões de pessoas. A seca apresenta-se como uma das principais ameaças dos desastres naturais, com maiores impactos em regiões pobres ou em desenvolvimento. Impacta, em especial, as populações que vivem em locais de risco e sob condições de subsistência e socioeconômicas mais vulneráveis, onde os determinantes de saúde já são comprometidos. A cada ano, esse tipo de desastre afeta dezenas de milhões de pessoas mundialmente, contribuindo para a fome, a pobreza, a desnutrição, causando ainda surtos de doenças infectocontagiosas e respiratórias, além de transtornos psicossociais e migração de populações. O Observatório do Clima e Saúde da Fiocruz é uma ferramenta importantíssima para apoiar o desenvolvimento de políticas e a tomada de decisões como forma de reduzir e, de preferência, eliminar os impactos do clima na saúde.
O que ainda falta fazer em relação às mudanças climáticas e saúde no Brasil e na América Latina?
São muitos os desafios, a saúde pública precisa fortalecer sua integração com outros setores, para garantir o processo de desenvolvimento sustentável. A Saúde precisa integrar suas respostas aos determinantes sociais, ambientais e econômicos, para a redução das vulnerabilidades socioambientais e os riscos decorrentes de desastres naturais, assim como de adaptação às mudanças climáticas no Brasil e no mundo.
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