20/12/2016
Fonte: Ensp / Fiocruz
A edição de dezembro de 2016 (vol.21 n.12) da Revista Ciência & Saúde Coletiva, disponível on-line, enfoca os desafios para as políticas públicas, de vigilância e de prevenção dos eventos acidentais. Segundo as pesquisadoras Adalgisa Peixoto Ribeiro, Edinilsa Ramos de Souza e Camila Alves Bahia, os acidentes afetam direta e indiretamente as condições de saúde dos indivíduos e dos grupos populacionais, constituindo um conjunto diverso de eventos que reduzem os anos de vida produtiva, gerando lesões e sequelas, muitas vezes irreversíveis, e produzindo elevado número de mortes que poderiam ser evitadas. No Brasil, desde 2010 os acidentes têm representado, aproximadamente, 80% das internações realizadas no SUS por causas externas, dentre as quais sobressaem as quedas, com cerca de 45% das hospitalizações, seguidas pelos acidentes de transporte, que perfazem 22%. Além dos custos sociais e individuais, esses eventos têm exigido do setor saúde uma gama de recursos, das mais diversas ordens, em todos os níveis da atenção e da reabilitação; e investimentos em vigilância para o diagnóstico das demandas cada vez maiores, tanto em termos quantitativos como de complexidade. Esta edição da revista apresenta estudos envolvendo os principais acidentes (transporte e quedas) e vai além da atuação tradicional do setor saúde. Após 15 anos de criação da Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências, pelo Ministério da Saúde, é importante identificar sua conexão com as orientações atuais das duas Conferências das Nações Unidas sobre segurança no trânsito.
No artigo Atendimento de urgência e emergência a pedestres lesionados no trânsito brasileiro, Liana Wernersbach Pinto e Adalgisa Peixoto Ribeiro, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz); Camila Alves Bahia e Mariana Gonçalves de Freitas, do Ministério da Saúde, descrevem o perfil epidemiológico de pedestres que sofreram lesões no trânsito, atendidos em unidades de urgência e emergência participantes do VIVA Inquérito de 2014 e a caracterização desses eventos e de suas consequências para essas vítimas. Trata-se de um estudo transversal realizado no período de setembro a novembro de 2014 em 24 capitais brasileiras e no Distrito Federal. Foram analisadas variáveis que caracterizam a vítima, o acidente e sua gravidade e a evolução do caso. Foram calculadas frequências simples e relativas. Em todos os grupos etários a maior parte dos casos evoluiu para a alta, mas 41,6% dos idosos (60 anos ou mais) necessitaram de internação hospitalar. Destaca-se a necessidade de investimentos públicos priorizando a circulação de pedestres no planejamento do trânsito e da infraestrutura das vias.
Análise dos fatores associados aos acidentes de trânsito envolvendo ciclistas atendidos nas capitais brasileiras, artigo de autoria de Carlos Augusto Moreira de Sousa e Patrícia Constantino, da Ensp; e Camila Alves Bahia, da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, relata que o Brasil possui a sexta maior frota de bicicletas do mundo, sendo esta o veículo de transporte individual mais utilizado no país, porém, poucos estudos abordam a temática envolvendo os acidentes com ciclistas, bem como os fatores que colaboram ou evitam essa ocorrência. As razões de chance apontaram maiores chances de ocorrência de acidentes envolvendo ciclistas em indivíduos do sexo masculino, de menor escolaridade e que residem em área urbana e periurbana. Pessoas que não estavam utilizando a bicicleta para ir ao trabalho apresentaram maior chance de acidente. O perfil encontrado no estudo corrobora com os achados de outros estudos, os quais consideram que a coexistência de ciclistas com os demais meios de transporte, no mesmo espaço urbano, acarreta em maior chance de acidentes. A construção de espaços exclusivos à circulação de bicicletas e a realização de campanhas educativas são preconizadas.
O artigo Mortes por batida de caminhão e moto: uma perspectiva evolucionista, dos pesquisadores André Luís dos Santos Medeiros, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; e Paulo Nadanovsky da Ensp, avalia as diferenças entre homens e mulheres na probabilidade de exposição ao tráfego como condutores de automóveis e motocicletas, e no risco de morrer de um carro ou de um acidente de moto, a fim de verificar em que medida a da Teoria de Darwin da seleção sexual poderia ter previsto os resultados e pode ajudar a interpretá-los. Mais homens se expõem ao e morreu no tráfego do que as mulheres, especialmente os jovens. A sociedade deve ter uma atitude especialmente vigilantes em relação aos homens no volante devido à sua maior tendência inata a exposição ao risco.
Quedas acidentais nos atendimentos de urgência e emergência: resultados do VIVA Inquérito de 2014 é o título do artigo de Adalgisa Peixoto Ribeiro, Edinilsa Ramos de Souza e Carlos Augusto Moreira de Sousa, da Ensp; e Mariana Gonçalves de Freitas, do Ministério da Saúde, cujo objetivo foi analisar os casos de quedas atendidos em unidades de urgência e emergência de 24 capitais e Distrito Federal participantes do VIVA Inquérito de 2014. Buscou-se descrever o perfil epidemiológico das vítimas, caracterizar o evento e a gravidade das lesões dele decorrentes e realizar estudo de associação. Os resultados mostram que no perfil das vítimas de quedas predomina o sexo masculino; a faixa etária de 0 a 9 anos e de 20 a 39 anos; a cor da pele parda. 56% caiu da própria altura, a via pública foi o local mais frequente de ocorrência; 92,7% das pessoas atendidas sofreram algum tipo de lesão física, entre elas, as mais comuns foram contusão, entorse e luxação, seguidas pelo corte/laceração. A chance de ocorrência de quedas na escola é 14% maior que no domicílio, mas nas áreas de recreação, nas vias públicas e em outros locais é menor se comparados ao primeiro.
A ocorrência de causas externas na infância em serviços de urgência: aspectos epidemiológicos, Brasil, 2014 é o artigo de Deborah Carvalho Malta, da Universidade Federal de Minas Gerais; Márcio Dênis Medeiros Mascarenhas, da Universidade Federal do Piauí; Marta Maria Alves da Silva, da Universidade Federal de Goiás; Mércia Gomes Oliveira de Carvalho e Laura Augusta Barufaldi, do Ministério da Saúde; Jovina Quintes Avanci, da Ensp; e Regina Tomie Ivata Bernal, da Universidade de São Paulo, que analisa os atendimentos de emergência referentes às causas externas, na infância, de 0 a 9 anos, nas capitais brasileiras, coletados no inquérito Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA), em 2014. Foi feita análise de dados do VIVA realizada nas emergências públicas em 24 capitais brasileiras. Foram 8.588 atendimentos entre crianças, 8.164 vítimas de acidentes e 424 violências. Os meninos sofreram mais acidentes, a maioria das ocorrências foi no domicílio e a alta foi o desfecho mais frequente. As quedas foram os acidentes mais frequentes, seguidas de outros, como no transporte e por queimaduras. Dentre as violências, a negligência prevaleceu, seguida da agressão física. O provável autor da violência em 72% dos casos foi um familiar da criança, sendo a mulher a mais frequente para menores de 1 ano e o homem de 6 a 9 anos. Os acidentes na infância ocorreram principalmente no domicilio, sendo as quedas as ocorrências mais frequentes. As violências contra crianças foram praticadas por familiares e conhecidos. Os dados apoiam a implementação de políticas públicas de prevenção e proteção.
No artigo Acidentes envolvendo indígenas brasileiros atendidos em serviços de urgência e emergência do Sistema Único de Saúde, de Edinilsa Ramos de Souza e Kathie Njaine , da Ensp; Márcio Dênis Medeiros Mascarenhas , da Universidade Federal do Piauí; e Maria Conceição de Oliveira, da Universidade Federal da Fronteira Sul foram analisados os acidentes ocorridos com indígenas brasileiros atendidos em serviços de urgência e emergência do Sistema Único de Saúde (SUS). Os dados provêm do Viva Inquérito de 2014, que incluiu 86 serviços de 24 capitais e do Distrito Federal. Caracterizou-se o perfil sociodemográfico dos indígenas, o evento e o atendimento. A maioria dos atendidos era do sexo masculino e tinha entre 20-39 anos. Acidentes de transporte e quedas foram os principais motivos dos atendimentos. O uso de bebida alcoólica foi informado por 5,6% dos atendidos. Nos acidentes de transporte esse uso sobe para 19,1%; 26,1% entre condutores e 22,8% nos motociclistas. Destaca-se a importância de dar visibilidade aos acidentes com indígenas e de envolvê-los na prevenção desses eventos.
Confira na íntegra a edição de dezembro de 2016 (vol.21 n.12) da Revista Ciência & Saúde Coletiva.
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