26/08/2021
Guilherme Costa (WMP Brasil)
A liberação de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia em Niterói, que começou com uma ação piloto em Jurujuba em 2015, e cobriu cerca de 75% do território municipal, já surtiu efeitos. Dados divulgados nesta quinta-feira (26/8) pelo Método Wolbachia, iniciativa do World Mosquito Program (WMP) conduzida no Brasil pela Fiocruz, apontam redução de cerca de 70% dos casos de dengue, 60% de chikungunya e 40% de zika nas áreas onde houve a intervenção entomológica.
O prefeito de Niterói, Axel Grael (à direita), o coordenador de Relações Interinstitucionais da Fiocruz, Valcler Rangel, e o pesquisador Luciano Moreira na reunião desta quinta-feira (Foto: Flávio Carvalho, WMP Brasil/Fiocruz)
“Esses números estão publicados em artigo científico e corroboram os dados do World Mosquito Program em outros países, como na Indonésia, onde houve redução de 77% dos casos e 86% das hospitalizações. Estamos muito satisfeitos em poder comemorar, agora com a população de Niterói, o sucesso dessa iniciativa”, destacou o líder do Método Wolbachia no país e pesquisador da Fiocruz, Luciano Moreira.
Na manhã desta quinta-feira, Moreira esteve com o prefeito de Niterói, Axel Grael, o coordenador de Relações Interinstitucionais da Fiocruz, Valcler Rangel, a diretora do Departamento de Ciência e Tecnologia, Alessandra Siqueira, o diretor substituto do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis, Cássio Peterka, ambos do Ministério da Saúde, e o consultor da Organização Panamericana de Saúde (Opas), Carlos Melo, para apresentação dos dados. Na ocasião, também foi assinada uma carta de intenção entre a Prefeitura de Niterói, a Fiocruz e o WMP Brasil para que a metodologia seja aplicada em todo o município.
A Wolbachia é um microrganismo intracelular presente em 60% dos insetos da natureza, mas que não estava presente no Aedes aegypti. Quando presente nestes mosquitos, ela impede que os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela se desenvolvam dentro do mosquito, contribuindo para redução destas doenças. O Método Wolbachia consiste na liberação de Aedes aegypti com Wolbachia para que se reproduzam com os Aedes aegypti locais e seja estabelecida uma nova população destes mosquitos, todos com Wolbachia. Não há modificação genética neste processo. Com o tempo, a porcentagem de mosquitos que carregam a Wolbachia aumenta, até que permaneça alta sem a necessidade de novas liberações, como é o caso das áreas de intervenção em Niterói.
Método Wolbachia no município
Em Niterói, a implementação do Método Wolbachia começou por Jurujuba, em 2014. Até o momento, foram contemplados 33 bairros, alcançando 373 mil habitantes. Esta área corresponde a cerca de 75% do município. Nesta área, os mosquitos com Wolbachia estão estabelecidos, não havendo mais previsão de novas liberações. Cerca de 750 voluntários participaram diretamente do Método Wolbachia, hospedando uma armadilha de mosquitos em sua residência ou estabelecimento comercial. Os agentes comunitários de saúde, agentes de combate às zoonoses, além das demais equipes do Programa Saúde da Família, foram essenciais para a implementação do Método Wolbachia em Niterói.
Também participaram do engajamento da população, professores e lideranças sociais do município. Grupos comunitários de referência, que são comitês consultivos locais, foram estabelecidos desde o início da implementação para acompanhar o projeto. Estes grupos reuniram representantes da sociedade civil, da academia e de diferentes órgãos governamentais.
“Todo nosso trabalho foi acompanhado de perto por estes grupos e ao longo de todos esses anos contamos com a participação valiosa das equipes de saúde, da rede de ensino e das lideranças sociais do municípios que nos auxiliaram a explicar o Método para a população e dialogar com os diferentes setores da sociedade. Nós somos muito gratos e eu gostaria de agradecer a cada um dos parceiros”, enfatizou Moreira. É possível acompanhar o Método Wolbachia e acessar a publicação científica com os resultados detalhados de Niterói. Basta seguir @wmpbrasil, no Instagram.
Para entrevistas sobre o Método Wolbachia
Guilherme Costa (guilherme.costa@worldmosquito.org / 21 99643 4805).