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Livro analisa a institucionalização da profissão farmacêutica no início do século 20

Livro | Profissão Farmacêutica em São Paulo: prática científica, ensino e gênero, 1895-1917

08/12/2020

Marcella Vieira/Editora Fiocruz

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A importância do papel das mulheres para a institucionalização da profissão farmacêutica no início do século 20. Essa é uma das principais premissas levantadas pela historiadora Isabella Bonaventura em Profissão Farmacêutica em São Paulo: prática científica, ensino e gênero, 1895-1917. O título, que integra a coleção História e Saúde, será lançado pela Editora Fiocruz nesta quarta-feira (9/12), e estará disponível nos formatos impresso - via Livraria Virtual da Editora - e digital, por meio da plataforma SciELO Livros       

Oriunda da dissertação de mestrado defendida pela autora, em 2018, no Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade de São Paulo (PPGHS-USP), a obra analisa o processo de institucionalização da profissão farmacêutica em São Paulo, ressaltando - a partir da perspectiva de estudos de gênero - a presença feminina, principalmente após a fundação da Escola de Farmácia de São Paulo, em 1898 (à época, a grafia do nome era Escola de Pharmacia). No período analisado, as mulheres compuseram 25% dos formados na instituição; um número que, embora não fosse majoritário, era bastante relevante por se tratar de um órgão de ensino superior do início do século 20.   

Em suas pesquisas, a autora percebeu que, nos discursos de fundação da Escola, essas mulheres eram chamadas a compor o corpo discente, ocupando espaços secundários e de auxiliares dentro da profissão. Entretanto, ao analisar as carreiras de algumas das formadas, foi possível identificar que elas superaram o local coadjuvante que lhes era relegado, e ocuparam distintos espaços dentro da profissão, tornando-se donas de farmácias, produzindo seus próprios medicamentos e anunciando-os na imprensa de época.

Outras formadas atuaram também como preparadoras da Escola (uma espécie de cargo de professora substituta), conseguindo, posteriormente, ascender ao corpo docente da instituição. "Assim como os saberes e práticas da farmácia tiveram que vencer, com suas químicas e técnicas ainda instáveis, o lugar periférico a eles relegado pela medicina estabelecida, também as mulheres criaram fissuras na comunidade acadêmica masculina para que se fizessem presentes", ressalta, na orelha do livro, o professor de Antropologia Stelio Marras, do Instituto de Estudos Brasileiros da USP.   

Em três capítulos, Bonaventura mostra como a circulação dessas mulheres nos permite perceber que elas atuaram, no período abordado, de maneira bastante contundente na institucionalização da profissão na cidade de São Paulo. O livro acompanha também como farmacêuticas e farmacêuticos criaram espaços de fala, atuação e ensino separados da Medicina, criando uma identidade profissional específica, na qual se esperava separar o farmacêutico de qualquer relação com práticas comerciais e também da antiga ideia de serem somente auxiliares dos médicos. "A aposta dos profissionais nesse período era aproximar a profissão farmacêutica da imagem do cientista visando à contribuição dessa profissão para o progresso no período Republicano", destaca a historiadora.   

Farmácias: híbrido de ciência e comércio
Isabella Bonaventura afirma, porém, que esse processo de institucionalização se fez por meio de diversas controvérsias e também da necessidade de alianças com agentes humanos, como os próprios médicos, e não humanos, como os objetos utilizados para a atuação na área. Ao mesmo tempo em que os farmacêuticos queriam criar uma identidade profissional separada da Medicina, os médicos também foram aliados importantes na fundação da Escola de Farmácia.

E, apesar de criticarem o viés comercial da profissão, os objetos presentes no balcão, como caixas e pesos e medidas, compunham o cotidiano das farmácias de maneira tão importante quanto vidrarias e compostos químicos, que estavam presentes nos laboratórios que ficavam nos fundos dos estabelecimentos. "Por meio desse mapeamento de controvérsias, foi possível observar como os estabelecimentos farmacêuticos eram um híbrido de ciência e comércio", analisa a pesquisadora. 

Sobre a autora
Isabella Bonaventura de Oliveira é graduada em História pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. É mestre e doutoranda em História Social pela USP, onde também integra o Laboratório de História das Ciências, Tecnologia e Sociedade (Labcite).   

Livro Profissão Farmacêutica em São Paulo: prática científica, ensino e gênero, 1895-1917
Editora Fiocruz
Primeira edição: 2020
236 páginas
Preço de capa (versão impressa):  R$ 55,00
Preço SciELO Livros (versão digital): R$ 33,00

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