09/03/2018
Por: Eliane Bardanachvili (CEE-Fiocruz)
A prospecção tecnológica voltada a compreender que forças conformam o futuro das ciências e da tecnologia, de modo a antecipar e direcionar mudanças, esteve em pauta na palestra do diretor executivo do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), Marcio de Miranda Santos, realizada em 23/2/2018. Convidado pelo Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE-Fiocruz), como parte de sua política de investir em estudos de futuro e intensificar relações com outros centros de prospecção, Marcio abordou o tema Inteligência Tecnológica em CTI: modelagem e automação de processos na era do BigData e compartilhou, com explicações e exemplos, a experiência do CGEE, organização privada criada em 2001, ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC).
"O CGEE já nasceu com uma visão de Estado, mais do que uma visão de governo, concebido com a orientação de dedicar-se cem por cento a pensar de forma estratégica a alocação de recursos voltados à inovação, de modo a possibilitar que a sociedade se beneficie dos investimentos em ciência e tecnologia", observou Marcio, destacando que o centro que dirige relaciona-se com o governo por meio de contrato de gestão, tendo realizado trabalhos para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Exército Brasileiro, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o CNPq.
Assista abaixo o vídeo em que Marcio Santos fala sobre prospecção tecnológica:
Lidando com universos gigantescos de informação, que se encontram em fontes diversas – de artigos científicos a matérias jornalísticas – e utilizando perguntas norteadoras para orientar o trabalho, o CGEE gerencia esse conjunto de informações para disponibilizá-las de forma amigável a especialistas que buscam interpretar o presente e prospectar o futuro. Para isso desenvolve ferramental capaz de organizar os dados levantados, bem como metodologias de monitoramento, subsidiando demandas diversas das organizações atendidas. "É preciso compreender com clareza em que etapa o processo em análise está e poder fazer frente às mudanças drásticas que, por vezes, ocorrem no ambiente em análise, ao final de um estudo", explicou Marcio.
Entre os exemplos de estudos que o CGEE desenvolve, ele apresentou o que vem sendo realizado para a Capes, que busca se renovar, com ferramental mais adequado a gerenciar as 49 áreas de pesquisa com as quais lida. "Buscou-se responder à pergunta: para onde deve ir a pós-graduação no Brasil?", relatou. O estudo contemplou um mapa com conexões no qual é possível acessar as 49 áreas da Capes, e, clicando-se nos temas, chegar a metadados relativos àquele tema e a como este se relaciona com os demais. "Estamos dotando a Capes de um ambiente analítico de monitoramento. Podemos gerar recursos nesse ferramental de exploração de dados, para nos conectar com a produção científica, de modo a enxergarmos para onde a agenda nacional de pós-graduação deve ir", explicou o pesquisador. Para a Capes, ainda, foi produzido estudo para indicar para onde se dirigiram os egressos dos cursos de pós-graduação.
O CGEE realizou também um trabalho de inteligência tecnológica para a Finep, de modo a dar suporte à análise de projetos que buscam fomento. "Há alguém financiando esse tipo de projeto, dentro ou fora do Brasil? A Finep já financia algo do gênero? Os especialistas são bons? O timing de desenvolvimento está razoável? São algumas das perguntas a serem respondidas na avaliação", apontou Marcio. "É preciso dotar o analista dos instrumentos de que ele precisa para fazer a apreciação. Posicionamos o analista em relação à produção científica e tecnológica e também com notícias relativas àquele empreendimento, no Brasil e no mundo", diz Marcio.
Ele relatou, ainda, a experiência de uma apresentação que o CGEE organizou no final de 2017, para um evento na Rússia, reunindo dirigentes dos países que compõem o Brics, no qual se trataria das realizações do Brasil com esses países. As informações levantadas organizadas por grupos de afinidades impressionaram positivamente os participantes, conforme Marcio relata. "Com base em informação qualificada e organizada é possível surpreender".
A partir das experiências levadas à frente pelo CGEE, Marcio observa que a o Brasil tem capacidade de interagir com qualquer centro de pesquisa do mundo, em qualquer área de atuação. "Precisamos fazer encaminhamentos para que essa expressão resulte em algo concreto".
Com o ferramental desenvolvido, o CGEE realiza, ainda, um trabalho de contrainteligência, como o que busca saber o que se fala sobre o Brasil, "com razão ou sem razão", em nível mundial. Com uso de robôs, são varridas todas as notícias que saem em veículos de todo o mundo, atualizadas em tempo real. O sistema pode indicar a fonte da informação, o país, a organização e os indivíduos relacionados à notícia. "Mas nenhum ferramental substitui a inteligência humana na interpretação de evidências", destacou Marcio.
Estiveram presentes à palestra o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, a professora Maria da Graça Derengowski Fonseca, do Instituto de Economia, a coordenadora de Gestão Tecnológica da Fiocruz, Celeste Emerik, e o coordenador das Ações de Prospecção da Fiocruz, Carlos Gadelha, entre outros.
Interlocução e diálogo na consolidação dos estudos prospectivos
Na abertura da palestra de Marcio Santos, o coordenador do CEE-Fiocruz, Antonio Ivo de Carvalho, destacou que a palestra fazia parte de uma proposta de interlocução do Centro com outras instituições dedicadas aos estudos prospectivos e de fortalecimento de uma rede com o mesmo propósito.
Essa é a terceira iniciativa levada à frente pelo CEE-Fiocruz. Em 2017, foi realizado um curso de Foresight para trabalhadores da Fiocruz, em parceria com o Grupo de Estudos sobre Organização da Pesquisa e da Inovação da Universidade de Campinas (Geopi/Unicamp), e, em 2016, foi convidado também para uma palestra o pesquisador Édson Bolfe, coordenador de Inteligência Estratégica da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Antonio Ivo explicou que o CEE-Fiocruz, ligado à presidência da instituição, é uma iniciativa recente voltada a suprir uma demanda da Fiocruz pelos estudos de futuro. "Há uma preocupação de convergência de esforços e capacitação interna com vistas a qualificar a Fiocruz para o futuro. E isso é feito também por meio de parcerias", observou Antonio Ivo.
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