23/03/2023
Cooperação Social da Fiocruz
A 17ª edição do Radar Covid-19 Favela – renomeado Radar Saúde Favela no final de 2022 – trouxe em destaque o tema “Violência policial, direitos humanos e direito à memória” com relatos públicos e depoimentos de estudantes e professores coletados durante o ato por memória e justiça após um ano da chacina do Jacarezinho, favela localizada na Zona Norte do Rio de Janeiro. O especial também trouxe a discussão sobre a letalidade de operações policiais, violação de memoriais de vítimas e as consequências da violência em territórios de favelas e periferias. Acesse a edição aqui.
Sobre o tema desta edição, Fábio Araújo, sociólogo e coordenador do Radar Saúde Favela, destacou a importância de o campo da saúde coletiva incluir de forma mais intensa a pauta da letalidade policial em territórios populares como também pertinente à sua reflexão e ação.
“Essa é uma grande provocação que a gente tem feito a partir do Radar. Entendemos a saúde como direito humano e o principal direito humano é o direito à vida. Nesse sentido, é imprescindível incorporarmos o combate à violência estatal que mata negros, pobres, periféricos, todo dia e que naturaliza chacinas como forma de governo. Essa matança cotidiana e a resistência por parte do Estado de proteger a vida e a saúde dessa população são partes fundamentais do racismo brasileiro", ponderou.
A seção Megafone registrou informes sobre a Audiência Pública na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), organizada pelas comissões de Trabalho e de Direitos Humanos da Alerj e mobilizada por lideranças sociais diante das denúncias de operações com elevada letalidade; sobre o VI Seminário de Educação Popular e I Encontro Regional de Pré-Vestibulares Populares do Sudeste, ocorrido em julho de 2022 na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Campus Maracanã; bem como sobre o 2º Festival de Graffiti em Manguinhos também são temas na seção.
A editoria O que tá pegando nas favelas e periferias? é aberta com o texto de Ana Cristina da Silva e Carolina Vaz, publicado originalmente no Jornal O Cidadão, sobre a importância de leis como Aldir Blanc 2 e Paulo Gustavo para artistas periféricos e para fomento de projetos culturais e apoio aos profissionais da área. O texto também conta com os depoimentos de Fernando Leão e Izabel Camargo, casal de artistas moradores do Parque União.
Veronica Cunha, professora na educação básica de Queimados e Nova Iguaçu e especialista em Educação de Jovens e Adultos (EJA), descreve a trajetória do coletivo Mulheres do Ler, que discute a importância da escrita feminina, arte literária e o fortalecimento das ações em rede. O terceiro e mais recente volume do livro realizado pelo coletivo reuniu cerca de 80 mulheres autoras da Baixada Fluminense, do Rio de Janeiro, e de outros estados do Brasil.
O Especial “Violência policial, direitos humanos e direito à memória” apresenta quatro textos. “Ato por memória e justiça em Paracambi: um ano da chacina do Jacarezinho”, de Diogo Pimentel, Estudante de Ensino Médio/Técnico Integrado em Eletrotécnica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro - Campus Paracambi (IFRJ/CPar) e Diretor Geral do Jornal INFORMA CPar; “Às mães foi negado até o direito à memória”, de Heitor Silva, professor, economista e doutor em Planejamento Urbano pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Djefferson Amadeus, advogado e então membro do projeto de Promoção de Territórios Saudáveis e Sustentáveis em Centros Urbanos da Cooperação Social da Fiocruz; e “A morte oferece carona”, assinado por Samuel Lourenço Filho, ex presidiário, autor de livros, poetas e gestor público formado pela UFRJ.
A seção Memórias dos territórios, territórios de memórias do informativo apresenta a entrevista com Sílvia de Mendonça, formada em jornalismo e produção cultural, atriz, professora e integrante do Movimento Negro Unificado (MNU) e do Movimento de Mulheres Negras. A entrevista aborda a participação popular na política e a luta pela eliminação do racismo, do sexismo, da intolerância e racismo religioso, da transfobia e lesbofobia e o fim de todas outras formas de discriminação para a preservação da vida.
A seção Debates desta edição é composta pelo texto “Um voto na terra do medo e da desinformação” de Silvia Baptista, mulher negra e pesquisadora militante. A autora analisa o cenário de devastação social marcado pelas crises sanitária, política e econômica que têm afetado a vida de trabalhadoras e trabalhadores brasileiros. Encerrando a seção, o engenheiro ambiental e integrante do Conselho Comunitário de Manguinhos, Fábio Monteiro, analisa o Projeto de Lei n. 5684/10 que segue tramitando na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e trata da cobrança de uma tarifa social referente ao serviço de fornecimento de água e manutenção da rede de esgotamento sanitário.
Encerrando a 17ª edição, a seção Mobilizações tematizou a Conferência Livre, Democrática e Popular, em torno do direito à saúde, realizada em julho de 2022, em Bonsucesso, zona norte do Rio de Janeiro, com o texto da jornalista do Portal Favelas, Renata Dutra. A conferência foi resultado da convergência da articulação nacional da Frente Pela Vida e de coletivos e organizações populares da região da Leopoldina.
NOVO SITE
O Portal Radar Saúde Favela foi lançado em fevereiro deste ano e reúne as narrativas de lideranças populares sobre saúde em diferentes formatos: textos avulsos, o arquivo fechado das edições (PDF), podcasts, vídeos, entre outros. Lá, é possível encontrar todas as edições publicadas desde agosto de 2020.
O informativo Radar Saúde Favela (originalmente, Radar Covid-19 Favela) foi concebido no âmbito do Observatório Fiocruz Covid-19 e atualmente está alocado na Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz. Estruturado com base no monitoramento ativo de fontes não oficiais, o antigo Radar Covid-19 Favela trouxe análises populares e científicas sobre a situação de saúde em territórios periféricos, visibilizando iniciativas populares de enfrentamento à pandemia.
Em sua nova fase, o Radar Saúde Favela tem agora foco em produzir e difundir informações sobre a situação de saúde e da sua determinação social em favelas e periferias de centros urbanos, lançando luz sobre as diversas dimensões de precariedade que afetam de forma diferenciada as populações que habitam em territórios socioambientalmente vulnerabilizados. Não mais centrado apenas no Rio de Janeiro, o novo informativo ampliou seu escopo, contemplando relatos, textos, entrevistas e material audiovisual dos quatro cantos do país, a partir da ampliação da rede de ativistas, movimentos e lideranças sociais atuantes nestes territórios.
Lideranças e comunicadores populares podem enviar sugestões de pauta, matérias e crônicas sobre a saúde em seus territórios para o e-mail radarsaudefavela@fiocruz.br.