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Fitoterápicos: pesquisa, inovação e produtividade discutidos em Farmanguinhos

Imagem de pessoas reunidas em círculo

03/11/2014

Por Alexandre Matos/Farmanguinhos

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Criar um medicamento de origem vegetal e lançá-lo no mercado não é tarefa simples. Desde a investigação de plantas que possam ter potencial efeito terapêutico, até um produto propriamente dito, é necessário compreender a complexidade de todas as etapas. Com o objetivo de criar um portfólio de medicamentos fitoterápicos, o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) promoveu a primeira Roda de Conversa das Redesfito, a fim de debater o papel de pesquisa e desenvolvimento em rede na inovação de medicamentos da biodiversidade.

Organizado pelo Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde (NGBS) da unidade, o evento ocorreu no dia 30/10, no Complexo Tecnológico de Medicamentos (CTM), em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, e reuniu pesquisadores, estudantes, empresários e representantes de laboratórios, indústrias farmacêuticas e de associações de diferentes regiões do Brasil.

Criada em 2006 por 12 ministérios, pela Casa Civil e pela Fiocruz, a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF) possui um capítulo especificamente sobre inovação de fitoterápicos. Mas poucas foram as iniciativas neste segmento, desde então. Segundo o coordenador do NGBS, Glauco Villas Boas, o papel da indústria é fundamental para a inovação e esta não pode esperar que o país crie as estratégias. “Se ficarmos parados não vamos acompanhar a evolução do mundo. Portanto, o objetivo deste encontro é colaborar com um projeto, que vem sendo pensado há tempo, para criar um portfólio de medicamentos da biodiversidade”, ressaltou.

Neste sentido, foram discutidos temas como prescrição de fitoterápicos, listas de plantas medicinais no Sistema Único de Saúde (SUS), complexidade das etapas de produção, práticas comerciais das indústrias farmacêuticas, capacitação de agricultores, testes clínicos e pré-clínicos, fragmentação da cadeia produtiva, trabalho em redes, disciplinas acadêmicas, legislação dentre outros. Os participantes concordam que a cadeia produtiva é desorganizada, desde o estudo até as negociações para o produto final.

Neste cenário, Ana Cláudia Oliveira, especialista em Propriedade Intelectual da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e Suas Especialidades (Abifina), disse que a maior dificuldade está no mapeamento de espécies estudadas, mas afirmou que o momento é favorável à criação desse portfólio. “A própria Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já se mostrou disponível e está aberta ao diálogo”. Em relação à prescrição, a especialista disse que o engajamento de profissionais deve começar pela raiz. “Este trabalho não pode ir para os médicos. Será mais eficaz se for feito com os estudantes de medicina”, observou.

Colaboração – O diretor de Farmanguinhos, Hayne Felipe, destacou a importância de somar experiências relacionadas a este tema tão recorrente que é a criação de fitoterápicos e torná-los uma realidade ao alcance das pessoas. “Esta roda de conversa vai nos ajudar a entender essas idas e vindas e nos possibilitar avançar nesta questão. Temos conversado com o Departamento de Assistência Farmacêutica do Ministério da Saúde e com a Abifina a fim de avançar a criação de uma PDP (Parceria de Desenvolvimento Produtivo). O objetivo hoje é extrair um plano de ação para sair deste ponto inicial”, destacou o diretor.

O diretor destacou ainda que a indústria privada é que vai transformar em produto o conhecimento científico da Academia. “É fundamental saber se a indústria privada está interessada neste mercado e, com isso, ela entrar nessa discussão. A partir do desenho do portfólio é preciso fazer um recorte e apostar. Isso não elimina que tracemos um plano de ação”, incentivou.

Professor de farmacotécnica da Universidade do Amazonas (UFAM), Schubert Pinto faz parte da Redefito Amazônia. Ele criou uma empresa, a Pharmakos, e, atualmente, trabalha com fitocosméticos e biocosméticos. Ele explica que já produziu quatro colônias, dois protetores solares e um produto que retarda o envelhecimento. Todos frutos da biodiversidade. “Eu não produzo fitoterápicos, mas pretendo produzir. Fitoterápico é o sonho de todo brasileiro que tem conhecimento na área. Por isso, trouxe para o evento o meu conhecimento no desenvolvimento de fitocosmética, e, assim, poder contribuir para a discussão. A cadeia produtiva envolve um processo complexo que passa por fatores sociais, políticos, econômicos e científicos. É preciso trabalhar em rede. Aqui, encontram-se atores de todos os biomas brasileiros com o objetivo de chegar a um portfólio e, com isso, articular-se politicamente para disponibilizar esses fitoterápicos no Brasil”, disse.

Está agendada para dezembro uma reunião na Abifina, na qual serão apresentados os modelos de sucesso no desenvolvimento de produtos. “A ideia é usar esses modelos e aplicá-los na lógica de fitoterápicos e levá-los ao Ministério da Saúde”, explicou Ana Cláudia.

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