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Fiocruz debate no BNDES a produção estratégica de insumos na América Latina


14/09/2023

Camila De’Carli (Agência Fiocruz de Notícias)

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A integração das cadeias produtivas de insumos farmacêuticos na América Latina pode ser uma estratégia eficiente para reduzir a dependência e catalisar a internalização de insumos críticos nos países da região. Esse foi um importante ponto de convergência entre os participantes da mesa-redonda Reorganização das cadeias globais de valor e as possibilidades de adensamento das cadeias produtivas da saúde, realizada no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na última terça-feira (12/9). O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, representou a instituição no evento.


O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, representou a instituição no evento (foto: BNDES)

"Se considerarmos que a internalização de insumos críticos não tem uma solução fácil, estamos propondo uma solução regional. Podemos pensar em uma organização regional entre países do Mercosul, utilizando o modelo do Complexo Econômico Industrial da Saúde do Brasil, para induzir o que é estratégico. Podemos usar o poder de compra dos Estados e fomentar a produção regional, em vez de ser só local", sugeriu Krieger. 

"Já tivemos algumas reuniões, principalmente no comitê ad hoc do Mercosul, levamos essa discussão também para a [Organização Pan-Americana da Saúde] Opas e temos o apoio do Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação e Complexo da Saúde", detalhou Krieger. "É importante que a gente consiga se unir com os países da região, definir o que é estratégico e buscar suporte", acrescentou. 

Segundo Norberto Prestes, da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi), somente 7% dos insumos produzidos globalmente são consumidos na América Latina e 1,7% da indústria farmacêutica mundial encontra-se instalada no Brasil. "Nossa situação de vulnerabilidade é grande. Organizações como a Opas estão super interessadas em ampliar a autonomia na região", apontou. 

Para Prestes, a América Latina gera negociações interessantes e pode ser também um parceiro estratégico de insumos farmacêuticos. "Já há parcerias de produção em conjunto entre empresas de Brasil e Argentina. Menos de 10% dos insumos produzidos lá e aqui são iguais. Então, temos um portfólio que pode ser ampliado, pensando inclusive no Mercosul", afirmou. Ele também citou o Paraguai como um potencial parceiro no bloco, na medida em que o país tem feito um investimento maciço em química fina para a produção de agrotóxico. "Podemos pensar em um possível investimento em materiais de partida a partir do Paraguai".

Terapias avançadas

Em outra frente, Krieger mencionou o desafio das terapias gênicas para o Sistema Único de Saúde (SUS) pelo altíssimo custo dos tratamentos. Ele lembrou, no entanto, que a tecnologia empregada nessas terapias é muito semelhante às usadas em vacinas de nova geração, como as de Covid-19, que a Fiocruz já domina.

"Nós, na Fiocruz, dominamos essas tecnologias. Temos uma planta já certificada, colocamos no nosso portfólio a produção de vetores virais. Estamos negociando agora com quem está desenvolvendo novos produtos com essas tecnologias", disse Krieger. "Em vez de termos aquela tradicional posição de esperar que a indústria farmacêutica de fora negocie com a academia enquanto ficamos numa segunda posição, estamos agora dizendo 'nós temos esse domínio tecnológico' e negociamos com a academia local e internacional, utilizando um ativo tecnológico". 

Krieger ressaltou que tanto as terapias avançadas quanto os insumos biológicos "estão perto da fronteira, da descoberta" que podem trazer competitividade e, diferentemente do que ocorre na indústria de medicamentos sintéticos, nessas duas áreas as patentes não estão concentradas na indústria farmacêutica. "Na indústria de medicamentos sintéticos, 90% das patentes estão na indústria farmacêutica. Nos biológicos, 70% estão na academia. Nas terapias avançadas, 95% estão na academia. Há uma chance de se apropriar da tecnologia muito mais próximo da fonte se você tiver domínio da cadeia produtiva. E nós temos. É preciso aproveitar essa oportunidade de usar nossa política do complexo econômico para ganhar um protagonismo que pode ser global", finalizou Krieger. 

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