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Fiocruz comemora 80 anos do Posto Avançado Emmanuel Dias


18/10/2023

Fiocruz Minas

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Com relevantes contribuições para o controle da doença de Chagas, o Posto Avançado Emmanuel Dias (Paed), situado em Bambuí (MG), está completando 80 anos. Para celebrar a data, a Fiocruz promove, nos dias 23 e 24 de outubro, uma série de atividades das quais participam pesquisadores, gestores da área de saúde e outros envolvidos no enfrentamento da doença. Entre os destaques do evento será a realização do 20º Encontro Anual do Programa Translacional da Doença de Chagas da Fiocruz, o Fio-Chagas. Pesquisadores das diversas unidades da Fundação farão um balanço sobre as ações desenvolvidas no último ano e discutirão as metas e objetivos para o próximo exercício. Os participantes também vão elaborar uma carta de intenções, bem como um plano de trabalho para o ano de 2024.


Embora o Posto Avançado Emmanuel Dias tenha sido criado em 1943, sua história começa a ser escrita em 1907, quando o Instituto Oswaldo Cruz (IOC), na época Instituto Manguinhos, fundou uma filial em Belo Horizonte, que viria a chamar-se Instituto Ezequiel Dias

“A reunião anual do Fio-Chagas ocorre, tradicionalmente, no Rio de Janeiro, já que a maior parte dos pesquisadores que integram o programa atua em unidades do campus de Manguinhos. Mas, nesta edição, estamos levando o evento para Bambuí, que é uma forma de comemorar os 80 anos do Paed e reconhecer a sua importância no combate à doença, ao longo de sua trajetória”, afirma a vice-diretora de Ensino da Fiocruz Minas, Rita de Cássia Moreira de Souza, que integra a coordenação do Fio-Chagas.

Outro importante acontecimento será uma reunião que contará com a presença de prefeitos e secretários de Saúde de municípios da região, com o intuito de refletir sobre os 80 anos da pesquisa em doença de Chagas em Bambuí e os resultados gerados para o município e cidades do entorno. Além disso, pretende-se propor desdobramentos no campo da educação patrimonial e cultural e sua relação com a educação em saúde. Ao final das discussões, está prevista a assinatura de uma carta de intenções, visando à construção de uma aliança estratégica. Organizada pela Prefeitura de Bambuí e pelas diretorias do Instituto René Rachou (IRR/Fiocruz Minas) e Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a reunião contará também com a participação de universidades, representantes da Secretaria da Saúde de Minas Gerais, Fundação Ezequiel Dias (Funed), Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) e Instituto Estadual do Patrimônio Histórico Artístico de MG, entre outros.

Ainda dentro da programação do evento em comemoração aos 80 anos, também está prevista uma palestra ministrada pela pesquisadora Simone Kropf, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). Especialista em história da medicina tropical, em particular da doença de Chagas, Simone abordará, em sua apresentação, o papel exercido pelo PAED para dar visibilidade à doença e ampliar as discussões sobre o tema.

Origens e atuação

Embora o Posto Avançado Emmanuel Dias tenha sido criado em 1943, sua história começa a ser escrita em 1907, quando o Instituto Oswaldo Cruz (IOC), na época Instituto Manguinhos, fundou uma filial em Belo Horizonte, que viria a chamar-se Instituto Ezequiel Dias. Porém, em 1936, essa filial mineira seria estadualizada, deixando de pertencer ao IOC. Quatro anos depois, em 1940, o pesquisador Amílcar Vianna Martins, que atuava no Instituto Ezequiel Dias, recebeu a informação de que havia muitos casos suspeitos da doença de Chagas no município de Bambuí e, para lidar com a situação, entrou em contato com o IOC, pedindo apoio nas investigações, pois segundo ele, “embora o Instituto agora fosse estadual, ainda tinha muita ligação com Manguinhos”. Amílcar não daria continuidade às pesquisas, pois, algum tempo depois, partiu para a Europa para servir como médico na Segunda Guerra Mundial. Mas o IOC seguiu com os estudos e, em 1943, convidou o pesquisador Emmanuel Dias para assumir a direção do Centro de Estudos e Profilaxia da Moléstia de Chagas (CEPMC), com sede em Bambuí, vinculado à Divisão de Estudos de Endemias do IOC.

Na cidade, Emmanuel Dias e equipe se depararam com uma situação bastante complicada, com 45% de crianças do município infectadas com a doença de Chagas antes dos dez anos de idade e mais de 90% dos domicílios infestados por barbeiros. Teve início, então, um vasto trabalho de combate aos focos da endemia e, a partir daí, partiu-se para a etapa da profilaxia e dos estudos clínicos que buscaram compreender os aspectos crônicos da patologia, instaurando um processo de validação da doença de Chagas como fato científico inquestionável e como questão de saúde pública.

Em 1970, o IRR, na época Centro de Pesquisas René Rachou, foi incorporado à Fiocruz, criada, naquele ano por meio de um decreto federal. Tendo em vista a racionalidade administrativa, o CEPMC passou para a responsabilidade da unidade mineira e, em 1980, passou a se chamar Posto Avançado de Pesquisas Emmanuel Dias, em homenagem ao pesquisador que esteve à frente de suas atividades desde a fundação até 1962, ano de sua morte, quando seu filho João Carlos Pinto Dias assumiu o comando.

Durante a gestão de João Carlos Pinto Dias, houve um aprofundamento de estudos clínicos, além da realização de testes de inseticidas contra os barbeiros. Houve ainda a implementação do primeiro programa de vigilância epidemiológica com participação comunitária para o controle da Doença de Chagas, por meio do engajamento das escolas rurais da região que se tornaram polos aglutinadores da mobilização da comunidade no combate à doença. O programa foi replicado por todo o Brasil e serviu de modelo para outros países da América Latina.

O Paed também teve importante papel para o desenvolvimento do Projeto Bambuí: estudo longitudinal da saúde dos idosos de Bambuí, iniciado em 1997, sob coordenação da pesquisadora Maria Fernanda Lima e Costa, do IRR. O estudo, finalizado em 2014, investigou a incidência e os determinantes de eventos em saúde da população idosa, resultando em diversas publicações e na realização de outras pesquisas sobre a saúde dos idosos em âmbito nacional. O estudo continua produzindo resultados e suas metodologias construíram parâmetros para investigações semelhantes em todo o Brasil.

Nos últimos anos, por meio de convênio de cooperação técnica com a Prefeitura de Bambuí, o Paed executou um projeto que envolveu o levantamento das situações de saúde da cidade, o estabelecimento de um programa de capacitação de profissionais locais no âmbito das doenças infecciosas e parasitárias, bem como a elaboração conjunta de políticas de saúde para o município. Essas ações mostram que o Paed, ao longo de sua trajetória, atuou como polo fortalecedor da política institucional descentralizadora da Fiocruz, que estimula produções científicas originais, alinhadas à realidade das diversas regiões do país.

*Com informações dos textos publicados pelo projeto Memória: trajetória histórica e científica do Instituto René Rachou

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