06/03/2023
Maíra Menezes (IOC/Fiocruz)
A partir de capacitação promovida pelo Laboratório de Vírus Respiratórios, Exantemáticos, Enterovírus e Emergências Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o Haiti passa a ter capacidade local para realizar o sequenciamento do genoma do coronavírus e o diagnóstico molecular do sarampo e da rubéola. As conquistas contribuem para a resposta à pandemia e para o esforço de eliminação das infecções por sarampo e rubéola no país e nas Américas.
No Haiti, Ito Journel (à direita) treinou a equipe do Laboratório de Biologia Molecular do Instituto Nacional de Saúde para realização do sequenciamento genético do Sars-CoV-2 (foto: acervo)
As metodologias foram implantadas em janeiro e fevereiro, após treinamento realizado pelo chefe do Laboratório de Biologia Molecular do Instituto Nacional de Saúde do Haiti, Ito Journel. Desde dezembro de 2021, o especialista cursa o mestrado em Medicina Tropical no Instituto, com orientação da chefe do Laboratório, Marilda Siqueira, e coorientação da virologista Paola Resende.
“Agradeço muito à Fiocruz, à equipe do laboratório e à [Organização Pan-Americana da Saúde] Opas por essa oportunidade. A pandemia mostrou a importância do sequenciamento genético dos vírus. Com a metodologia implantada, poderemos detectar mutações rapidamente e produzir informações para ajudar a equipe de epidemiologia a atuar da melhor forma contra a Covid-19”, declarou Ito.
“É uma grande conquista para um país como o Haiti, que tem muitos desafios, e também para a região”, comemorou Marilda, reforçando a importância da descentralização das metodologias moleculares. “Isso é muito importante porque as estratégias de saúde pública para controle de surtos e epidemias têm que ser decididas em tempo real. Se os países dependem de enviar amostras para serem processadas em outros países, esse tempo não ajuda na tomada de decisões”, explicou a especialista.
Designado como referência em Covid-19 nas Américas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Laboratório integra a rede estabelecida pela Opas, braço da OMS nas Américas, que recebe amostras e realiza o sequenciamento de vírus na região em apoio aos países que não contam com a metodologia. Dos 643 genomas referentes a vírus do Haiti depositados no banco de dados internacional Gisaid até agosto de 2022, 338 foram sequenciados no IOC/Fiocruz. A maior parte das amostras foi recebida e sequenciada após o ingresso de Ito no mestrado.
Com supervisão de Paola Resende, o pesquisador foi treinado para realizar todas as etapas do processo, desde a extração dos genomas até a análise filogenética e depósito das sequências na plataforma. “O acesso a gelo seco é muito difícil aqui, por isso, não conseguimos enviar todas as amostras para análise no exterior. Temos mais 300 amostras que já foram processadas e que serão sequenciadas agora que temos a capacidade local instalada”, pontuou Ito.
Durante o primeiro ano no Brasil, o pesquisador também recebeu treinamento para realizar a detecção dos vírus do sarampo e da rubéola através da metodologia de PCR em tempo real, que identifica o genoma dos patógenos nas amostras. A capacitação foi solicitada pela Opas com o objetivo de reforçar a vigilância das doenças, que foram declaradas eliminadas nas Américas em 2016, mas têm alto risco de reintrodução em diversos países por causa da queda nos índices de vacinação (no Brasil, devido à baixa cobertura vacinal, o vírus do sarampo voltou a circular em 2018).
Depois de um ano no Brasil, Ito retornou ao Haiti em dezembro passado, para treinar a equipe do Laboratório de Biologia Molecular do Instituto Nacional de Saúde para aplicar as metodologias. Os primeiros genomas do Sars-CoV-2 foram sequenciados no país no final de janeiro e os ensaios de detecção molecular para rubéola e sarampo foram estabelecidos este mês.
Em março, ele voltará ao Brasil para continuação da pesquisa de mestrado, que tem como tema a análise genômica e epidemiológica sobre a circulação do coronavírus no Haiti. Além do avanço no combate à Covid-19, a introdução do sequenciamento no país abre portas para a aplicação da metodologia na vigilância de outras infecções com alto impacto na saúde pública.
“Temos um Centro Nacional de Influenza e precisamos ter o sequenciamento do vírus influenza no país. No futuro, os planos são também para HIV e malária”, pontuou Ito, que atua como coordenador do centro haitiano.
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