27/07/2018
Erika Farias (Agência Fiocruz de Notícias)
Durante a tarde, a Tenda Cecília Donnangelo do 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva recebeu a mesa-redonda Olhares Femininos sobre o Cárcere, coordenada pela pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Alexandra Sanches. A mesa contou com a participação da fotógrafa Nana Moraes, que inaugurou a exposição Ausência durante o evento, e da também pesquisadora da Ensp/Fiocruz Maria do Carmo Leal. O debate uniu o estudo científico de Maria do Carmo, uma das coordenadoras do estudo Nascer nas Prisões, com o olhar artístico de Nana Moraes, para tratar da destruição que acontece em um núcleo familiar, quando uma mulher é presa.
Ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet esteve na abertura da exposição 'Ausências', de Nana Moraes (foto: Peter Ilicciev)
Nana Moraes passou quatro anos percorrendo sistemas prisionais brasileiros para realizar o projeto Travessia, que deu origem à exposição. Nana levaria até a família das detentas uma foto atual delas e uma carta, e traria de volta uma foto da família e uma resposta à carta. Mas antes, precisava que os familiares dessas presas autorizassem a ação. Das 18 famílias contatadas, apenas seis deram o aval. O material deste “reencontro” serviu de bordado para cobertores, toalhas e lençóis. “Essas famílias foram rasgadas e descosturadas. Por isso, uni os retalhos com fotos, cartas e algumas palavras que li com frequência nas mensagens, como ausência, perda e violência”, contou a fotógrafa.
Nana conta que, diferentemente dos homens presos, que sempre recebem visitas, mulheres presas tendem a ser trocadas por seus companheiros e, ainda, rechaçadas pela família. “Essas mulheres são punidas duplamente – como mães e como criminosas”.
Já a pesquisadora Maria do Carmo comparou números das pesquisas Nascer nas Prisões e Nascer no Brasil para entender a realidade da mulher que dá a luz enquanto está presa. Segundo a pesquisadora, o número de mulheres presas cresceu 698% nos últimos 16 anos. Desse total, 80% são mães. “Diferentemente das mulheres que dão a luz pelo [Sistema Único de Saúde] SUS, 1/3 das mulheres que têm filhos no sistema prisional são chefes de família”, afirmou.
A pesquisadora também revelou que 60% dessas mulheres têm três ou mais filhos, fato capaz de gerar uma grande devastação no momento em esta mãe é presa. “Quando isso acontece, o filho não perde apenas ela. Perde também os irmãos, que muitas vezes são separados, indo parar em diferentes abrigos ou famílias”, completou.
Clique aqui para assistir aos vídeos Nascer nas Prisões – Gestar, nascer e cuidar e Nascer nas Prisões – Impacto Social, ambos da VideoSaúde.
Ausência
Pouco antes da mesa-redonda, foi inaugurada na Cavalariça, no Centro Histórico da Fiocruz, em Manguinhos, a exposição Ausência, de Nana Moraes. Na ocasião, a fotógrafa recebeu a ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet; a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima; o presidente da Abrasco, Gastão Wagner; além de Maria do Carmo Leal, Keneth Camargo, o Instituto de Medicina Social (Uerj); do ex-presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha; Andrea da Luz, representando o Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz, entre outros convidados.
Após a visita, Michelle Bachelet comentou a exposição. “Me impressiona muito que as mulheres presas, quando se trata de gênero, são um grupo pouco considerado. Então gostaria de parabenizar a Nana por colocar não apenas em evidência esse problema social, mas por fazê-lo dessa forma maravilhosa”, afirmou a ex-presidente.
A exposição fica em cartaz até dezembro, na Cavalariça. A entrada é gratuita.
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