18/06/2018
Por: Maira Baracho (VPEIC/Fiocruz)
O evento “Abertura de dados para pesquisa na Fiocruz: perspectivas de um novo paradigma da Ciência” reuniu, na última sexta-feira (15), pesquisadores, gestores e estudantes e marcou o início das discussões sobre Ciência Aberta com a comunidade da instituição. Durante o encontro, que aconteceu no auditório do Museu da Vida, no campus Manguinhos, no Rio de Janeiro, foi apresentado o Termo de Referência, documento produzido pelo Grupo de Trabalho em Ciência Aberta (GTCA) com objetivo de subsidiar o debate sobre o tema e orientar o processo que resultará na implementação de uma nova política de abertura de dados para pesquisa na Fiocruz.
“Essa é uma discussão que está na porta e o que temos que fazer é ter uma discussão madura do nosso papel nesse processo”, explicou o Vice-Presidente de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC), Manoel Barral, que conduziu a abertura do evento a partir da visão estratégica da Fiocruz sobre a abertura de dados para pesquisa.
Coordenadora de Informação e Comunicação da VPEIC e também do GTCA, Paula Xavier apresentou um panorama da abertura de dados, conceitos, desafios e seus impactos no processo científico. “Alguns estudos comprovam que 80% do tempo da pesquisa é dedicado a organização dos dados. Essa capacidade de reuso em novos contextos e pesquisas futuras é profundamente importante”, apontou Paula, que defendeu ainda que o debate aconteça de forma ampla na Fiocruz.
Paula lembrou que a Política de Acesso Aberto ao Conhecimento, em vigor na Fiocruz desde 2014, significou um salto na sistematização da produção científica da instituição. “Fomos desafiados a pensar na ampliação do acesso aberto agora também com a abertura de dados”, pontuou, lembrando da realização do Livro Verde, pelo GTCA, publicação que mapeou países protagonistas na discussão e apresenta um amplo panorama sobre o assunto. “A gente não quer se posicionar só por pressões externas, é importantes sermos propositivos. Nenhuma outra instituição no Brasil está pensando numa política como essa”, afirmou Paula, que apresentou ao público as diretrizes presentes no Termo de Referência.
Palestras
O Diretor de documentação da Universidade do Minho (Portugal) e referência mundial no assunto, Eloy Rodrigues iniciou as apresentações que tinham como objetivo abordar as dimensões da abertura de dados em saúde. Rodrigues falou sobre dados abertos no Horizonte 2020 e das estratégias da União Européia para o assunto, além de apresentar alguns documentos do contexto europeu para financiamentos. “Não há Ciência Aberta sem acesso aberto universal e sem dados FAIR”, afirmou.
Eloy Rodrigues apresentou um panorama da ciência aberta no âmbito da União Européia (Foto: Pedro Linger)
Rodrigues explicou também como funciona o Projeto Foster, iniciativa realizada em Portugal, Holanda, Reino Unido, Espanha, Dinamarca e Alemanha, sob o objetivo de investir em capacitação e contribuir para uma mudança real na prática dos pesquisadores europeus, no sentido de promover uma transformação cultural e tornar a Ciência Aberta uma norma no continente. “É necessário aplicar essa metodologia no dia a dia”, defendeu.
O potencial do uso de dados administrativos com finalidade de pesquisa, a partir da perspectiva da produção de conhecimento em saúde, foi apresentado pelo Coordenador do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) Maurício Barreto, que abordou o uso de dados coletados sem finalidade de pesquisa no Sistema de Saúde e a mudança veloz no cenário de investigação. “Hoje grande parte de nossas pesquisas tem etapas de produção de dados muito grande e é comum ver as pesquisadores se sobrepondo em suas pesquisas”, comentou. “Esse novo modelo vai ser cada vez mais intersetorial e compartilhado”, defendeu.
A abertura de dados no contexto de emergência sanitária foi o tema abordado pela pesquisadora do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde da Fiocruz (INCQS/Fiocruz) e do Grupo de Trabalho em Ciência Aberta, Vanessa Arruda. Ela compartilhou os resultados preliminares do trabalho de Doutorado em Ciência da Informação no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), no qual ouviu pesquisadores atuantes durante a epidemia do Zika Vírus, uma reflexão sobre a abertura de dados nesse cenário e experiências como a do Reino Unido, com o ebola, em 2014.
Especialista em proteção de dados e privacidade e assessor jurídico do GTCA, o advogado Danilo Doneda encerrou a programação das palestras do evento. Membro da equipe que incide sobre os marcos regulatórios no contexto da Ciência Aberta, ele falou sobre ausência de leis e princípios que abordem especificamente este tema e mostrou como as normas já existentes ou em andamento (como o PLC 53/2018) sobre a proteção dados pessoais podem influenciar na abertura de dados para pesquisa.
Debate
Após as apresentações, o público presente aproveitou o espaço de fala para elogiar a iniciativa do GTCA, trocar experiências, fazer sugestões e tirar dúvidas com os palestrantes.
“Adorei a discussão e o fato da Fiocruz estar se organizando para entrar nessa frente, que é mundial, de compartilhamento de dados de informações para aumentar a capacidade de análise na área científica, para a gente dar respostas melhores para necessidades da humanidade”, elogiou a pesquisadora da Fiocruz, Maria do Carmo Leal.
“Não é um caminho que a gente vai trilhar de um dia para o outro, nós devemos enfrentar algumas incompreensões de pesquisadores, devemos ter também outro conjunto de pesquisadores que vai aderir facilmente porque já sabem da discussão e já compartilham dessa ideia de democratizar ao máximo todo conhecimento científico. Espero que a gente construa essa condição que vai implicar em uma série de questões de infraestrutura, repositório das pesquisas, por exemplo, e também criar essas condições como se falou hoje, de harmonização institucional em relação a questão, compartilhando o que tem de mais atual e avançado do ponto de vista da ciência em benefício da humanidade”, complementou.
Próximos passos
Após a abertura do diálogo firmada nesta sexta, os próximos três meses serão marcados por ampla divulgação e circulação em canais de comunicação. Em seguida, o debate será levado para grupos, Câmaras Técnicas, Fórum das Unidades Regionais, Acervos, Redes de Pesquisa e outros espaços, onde o diálogo será amadurecido e o Termo de Referência aprimorado. No final de agosto, uma consulta pública será realizada para receber contribuições da sociedade. A última etapa é a apreciação do documento pelo Conselho Deliberativo, em novembro.