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Evento alerta para subnotificação de casos de leptospirose no Brasil


27/12/2021

Fiocruz Amazônia

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A leptospirose, infecção febril aguda causada pela urina contaminada de animais, sobretudo ratos, ainda é uma doença negligenciada e subnotificada no Brasil. Os baixos índices de prevalência de casos e óbitos levam pesquisadores e autoridades de saúde a se preocuparem em definir estratégias de atuação que permitam combater de modo eficaz e mais rápido o avanço da doença e os riscos de contaminação pela bactéria causadora, a leptospira. Esse foi um dos alertas feitos no I Congresso Nacional de Leptospirose – One Health, realizado pela Fiocruz Amazônia, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Amazonas (Fapeam), e que reuniu mais de 500 inscritos.


A leptospirose é uma infecção humana resultante da exposição direta ou indireta à urina de animais infectados, por meio do contato com água, solo ou alimentos contaminados

O evento contou com palestras de autoridades renomadas em saúde pública do país e do exterior. De acordo com a pesquisadora da Fiocruz Amazônia Luciete Almeida, que coordenou a iniciativa, a proposta do congresso foi a de reunir estudos e pesquisas que permitam aprofundar os métodos de diagnóstico, tratamento e prevenção da doença, contribuindo para reduzir o problema da subnotificação e fornecendo os subsídios necessários para a criação de um núcleo de pesquisa de epidemiologia molecular em leptospirose na região amazônica, mais especificamente em Manaus. Luciete, que é bióloga e especialista em biotecnologia, com doutorado em medicina tropical, destacou o esforço da Fiocruz em pesquisas sobre a doença e o pioneirismo na realização de um congresso nacional sobre a doença.

“Entre outras pesquisas, é da Fiocruz, por exemplo, o kit de teste rápido para diagnóstico da leptospirose, em uso hoje no SUS. A pesquisa foi desenvolvida pelo Instituto Gonçalo Muniz (Fiocruz Bahia)”, afirmou a bióloga. No primeiro dia do evento ficou evidenciado que a leptospirose é uma doença ainda negligenciada por se confundir com outras viroses e estar associada às condições precárias de saneamento básico observadas em vários estados brasileiros, especialmente na nossa região. A subnotificação, segundo a bióloga, afeta diretamente as populações vulneráveis que convivem com o lixo nas ruas e bueiros a céu aberto, propiciando a contaminação.

“Se analisarmos as séries históricas de casos, veremos que a cada dez anos é muito pouco o número de notificações de leptospirose e óbitos pela doença no Brasil e no mundo, daí a importância de se discutir políticas públicas de saneamento básico, campanhas de conscientização, coleta diária e destinação correta de lixo. Essas são questões presentes em todos os espaços urbanos”, explicou. Para se ter uma ideia da subnotificação, o  número de casos de leptospirose registrados na última década no Amazonas é de 422, sendo 9% desse montante correspondente ao óbitos notificados pela doença. O acesso aos diferentes métodos de diagnóstico da leptospirose é outro importante passo para o controle da doença.

O número de inscritos do evento, mais de 500, superou a expectativa dos organizadores. “O I Congresso Nacional de Leptospirose é o momento de gritarmos para o Mundo sobre a importância dos estudos científicos em torno da doença e chamarmos a atenção das várias entidades da área da saúde do Amazonas para a situação crítica”, afirmou Luciete. O evento teve como público-alvo a comunidade acadêmica, instituições de pesquisa, secretarias municipal e estadual de Saúde, Sistema Integrado nos Hospitais de Manaus, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, biomédicos, biólogos, comissão de infecção hospitalar, Vigilância Epidemiológica, além de pesquisadores e alunos dos diversos centros de pesquisa da área microbiológica e epidemiológica.

Números

De acordo com o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, no período de 2010 a 2020, foram confirmados 39.270 casos de leptospirose (média anual de 3.734 casos) no Brasil, variando entre 1.276 (2020) a 4.390 casos (2011). No mesmo período foram registrados 3.419 óbitos, com média de 321 óbitos/ano. A letalidade média no período foi de 8,7% e o coeficiente médio de incidência de 2,1/100 mil habitantes. Em 2019 o Amazonas registrou 162 casos suspeitos da doença, 52 confirmados e 7 óbitos

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