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Especialistas falam sobre técnicos da atenção básica na pandemia


22/03/2021

Por: Viviane Tavares (EPSJV/Fiocruz)

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Os trabalhadores técnicos em saúde estão na linha de frente do enfrentamento à pandemia em diferentes níveis de atenção, inclusive na primária. No total, como informa o sistema E-gestor Atenção Básica, do Ministério da Saúde, existem mais de 1,8 milhão de técnicos e auxiliares de enfermagem no Brasil e cerca de 260 mil Agentes Comunitários de Saúde (ACS), além de outras categorias profissionais de nível médio que contribuem para o diagnóstico, acolhimento, tratamento e recuperação da saúde das pessoas acometidas por Covid-19.

Rosicleia Borges, do município de Rurópolis, exemplifica a importância na atuação no combate à pandemia contando que, em sua localidade, há lugares sem acesso a celulares ou internet e a ação dos Agentes Comunitários de Saúde foi essencial para a conscientização dessa população. “Os profissionais ficaram responsáveis por monitorar e informar aos pacientes seu quadro clínico. Além disso, os ruropolenses que residem longe do centro receberam apoio de uma equipe volante. Esses profissionais deram um suporte grande, porque a equipe da cidade não conseguia auxiliar a zona rural”, conta.

Mariana Nogueira, professora e pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), mostra que essas ações no combate à Covid-19 não deveriam ser exclusividade de um ou outro município. “Os ACS possuem complexas atribuições que perpassam a escuta dos usuários, o trabalho territorializado através de ações individuais e coletivas e a realização de visitas domiciliares. Eles têm um papel importante na promoção de ações educativas em saúde sobre a Covid-19 e sobre medidas de prevenção ao novo coronavírus junto aos usuários, assim como sobre a importância da adesão da população à imunização contra a Covid-19. Outro importante papel dos ACS é o registro e a produção de informação em saúde, diagnóstico demográfico, social, epidemiológico e sanitário do território em que atuam, o que pode e deve subsidiar o planejamento de estratégias locorregionais de controle e enfrentamento da pandemia”, descreve.

A pesquisadora, que é uma das responsáveis pelo estudo Monitoramento da saúde e contribuições ao processo de trabalho e à formação profissional dos Agentes Comunitários de Saúde em tempos de Covid-19, chama a atenção, no entanto, para as condições de trabalho que esses profissionais encontraram na pandemia.

“É fundamental a garantia de condições de trabalho para que o ACS atue tanto dentro das unidades de saúde quanto nos territórios. Os resultados da nossa pesquisa revelam insuficiência na quantidade e qualidade de EPIs, desigual distribuição de EPI no âmbito das unidades de saúde entre os trabalhadores das equipes, sendo os agentes preteridos no recebimento desse material; dificuldade de acesso ao teste para detecção de Covid-19; dificuldade de garantir o direito ao afastamento do serviço nos casos de agentes com comorbidades ou idosos que são do grupo de maior risco para Covid-19 e até mesmos no caso de adoecimento por Covid-19”, exemplifica. 

E completa: “Além disso, houve dificuldades em relação à ausência de protocolos definidos para atuação do ACS e ao não fornecimento de aparelhos telefônicos e internet para a modalidade de trabalho remoto que ocorreu em diversas regiões”. A pesquisa tem como objetivo principal analisar os impactos da Covid-19 na saúde  e condições de trabalho e de formação dos  agentes comunitários de saúde durante a pandemia em capitais do país que apresentam elevado número de casos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza, além de três cidades das regiões metropolitanas das respectivas capitais: Guarulhos, São Gonçalo e Maracanaú.

Ronaldo Zonta, de Florianópolis, enfatiza também a importância dos técnicos em enfermagem e de laboratório [técnicos de análises clínicas] no enfrentamento dos casos de pessoas contaminadas pela Covid-19. “Os técnicos de enfermagem fazem um papel importante, tanto na questão de ajudar nesse atendimento de urgência e emergência, como auxiliar no processo de avaliação dos sinais vitais e executar testagem rápida. Isso foi de extrema importância para a triagem dos casos. E, no caso do nosso município, a gente viu o quanto é importante técnico de laboratório formado e qualificado para fazer a coleta e processamento dos exames. Com esses profissionais, a gente pode ter o serviço de drive-thru de coleta de testes e de exames para situações como contato de casos. Sem contar com esse novo momento, que é o da vacina, que quem realiza é o profissional técnico, e os vínculos que eles têm com os pacientes por estarem mais próximos da população... Essa proximidade ajudou demais a monitorar os casos”, avalia.

Para Márcia Teixeira, do Conasems, o papel dos trabalhadores técnicos, como os agentes comunitários de saúde, ajudou a garantir a diversidade e a resposta rápida à pandemia. “Quem faz o SUS são os trabalhadores. Acho que precisamos viver uma nova fase de reconhecimento dos profissionais, não como esse herói de capa e espada, com cara marcada, com máscara e tudo, como vimos aos montes e que ficou muito centrado no médico. Mas, para além disso, é preciso dar qualificação, educação permanente, garantia de seu papel na estratégia [saúde da família], oportunidades de boa qualidade e carreira sólida”, avalia.

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