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EPSJV/Fiocruz promove terceira edição do Sankofa


03/07/2023

Julia Neves (EPSJV/Fiocruz)

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A Saúde da população negra e dos povos indígenas. Este é o tema que irá nortear a edição 2023 do Projeto Sankofa, que acontece nos dias 4 e 6 de julho, na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). Com o objetivo de potencializar a importância dos ensinamentos africanos, afro-brasileiros e indígenas nas escolas, o evento já teve duas edições anteriores – em 2017 e 2018. 

Segundo a professora-pesquisadora Valéria Carvalho, que coordena o projeto com as também professoras-pesquisadoras Jéssica Lima, Nathalia Barros e Fernanda Martins, após as duas edições anteriores, a ideia agora é avançar, instituir e tornar orgânico os estudos, pesquisas, atividades escolares e extraescolares sobre as questões e relações étnico-raciais. “O Sankofa tem contribuído para avançarmos no projeto de formação humana que a EPSJV anuncia no seu Projeto Político Pedagógico e que apresenta como uma de suas propostas fundamentais formar a classe trabalhadora para dirigir este país – classe essa formada, majoritariamente, pela população negra. Essa avaliação parte do pressuposto de que não é possível uma educação que se pretenda emancipadora, sem ter a luta e a educação antirracista como estrutural na sua base político-teórico-pedagógica”, aponta Valéria.

Para Fernanda, trazer o debate racial para o ambiente escolar é reafirmar uma formação que paute como aspecto fundamental o entendimento da questão racial como central no fortalecimento e na formação da classe trabalhadora. "O Sankofa se coloca também como um projeto de formação continuada dos professores com a produção do conhecimento e, sobretudo, no avanço do processo de reeducação das relações étnico-raciais, visando à ruptura com a estrutura racista que constitui a formação social brasileira e o combate ao racismo institucional”, destaca.


Foto: Artes produzidas pela artista visual, ativista e educadora Rusha

Segundo Jéssica, reforçar a população negra e indígena como protagonista dos seus próprios processos de conhecimento é fundamental para promover uma projeção de sociedade contra colonial. “Principalmente na promoção de saúde desses povos, visto que são os que mais sofrem no regime hegemônico no qual nós encontramos. Abordar saúde é também entender que esse corpo é produzido socialmente, então, em nossas salas de aulas, como estamos abordando e promovendo a saúde dos nossos?”, questionou, acrescentando: “Esse diálogo na educação básica e técnica é política essencial para o acesso ao cuidado mais humanizado dessas pessoas".

Na visão de Nathalia, o Sankofa possibilita despertar nos estudantes, educadores e demais trabalhadores da EPSJV a luta antirracista e ampliar a formação dos trabalhadores em saúde por meio da problematização do racismo e seus efeitos em nossa sociedade. “Nesse contexto, o projeto oportuniza o acesso a produções de conhecimentos de matriz africana e indígena que foram apropriados e, consequentemente, desvalorizados pelo pensamento moderno-europeu e historicamente excluídos do currículo escolar”, complementou.

Valéria destacou ainda a importância da contribuição que o acesso às narrativas e aos conhecimentos dos povos africanos, afrodescendentes e indígenas podem proporcionar à compreensão das práticas de saúde, fortalecendo e dando maior visibilidade aos conhecimentos sobre o cuidar da saúde, assim como avançando na efetivação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) e na Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI). “O processo de formação dos profissionais da saúde nessa perspectiva é fundamental e estratégico para o avanço das propostas da Reforma Sanitária, dos princípios e diretrizes do SUS [Sistema Único de Saúde], para garantir a equidade no setor da saúde e a promoção da igualdade racial”, completou.

Programação

Na terça-feira, 4 de julho, o Sankofa acontece durante todo o dia com rodas de diálogo e oficinas. As rodas de conversa terão a participação de Ionara Magalhães de Souza, professora adjunta e coordenadora de políticas afirmativas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB); e Itaynara Rodrigues Silva, psicóloga e militante do povo Tuxá, da Articulação Brasileira de Indígenas Psicólogas(os) (Abipsi); que falarão da saúde da população negra e da população indígena, respectivamente.

Na parte da tarde, acontecem as oficinas com diversos temas. São eles: Ervas tradicionais, Bonecas Abayomis, Tranças africanas, Dança Charme, Dança Jongo, Promoção de Saúde Integral: cuidado coletivo, Rap, Contação de histórias negras, Pinturas indígenas, Dança Afro e Músicas Funk.

Na parte da noite, as convidadas Ionara Magalhães e Itaynara Rodrigues voltam para uma segunda edição da roda de diálogo.

Já na quinta-feira, 6 de julho, as atividades ocorrem na parte da tarde com um sarau. A DJ Bieta Edi é presença confirmada.

Durante todo o evento, que é aberto ao público, também haverá duas exposições e uma feira de artesanato indígena.

A “Negras Marés”, tem como curadora a gestora cultural Pâmela Carvalho. Promovida pela Casa Preta da Maré, a exibição é dividida em quatro núcleos, que poderão ser explorados pelos visitantes, e será guiada por dois educadores que irão mediar as visitas. Um dos núcleos mostra a conexão Brasil-África e o outro a Maré-Negra, com obras de artistas da Maré (região da cidade do Rio de Janeiro onde está localizada a Fiocruz) que destacam as relações raciais. A exposição também traz a relação da Maré com a água, em obras de arte destacando esse elemento. Os afetos, a sexualidade e a relação com o gênero e as vivências LGBTQIAP+ também serão abordados como fios condutores da mostra.

Outra exposição é “Semeando saberes e fazeres ancestrais”, da artista visual, ativista e educadora, que também é responsável pela arte do cartaz do evento, Rhaianny Silva Pinto, mais conhecida como Rusha. “A exposição busca nesse passado, nessa riqueza de tradição, simbologia, histórias, memórias, mitos, práticas, identidades, culturas, religiões e toda a ancestralidade presente no nosso povo, reimaginar, reconectar e ressignificar, criar caminhos e imagens de pertencimento e cura para nosso povo, manipulando conceitos, revendo significados, subvertendo e desconstruindo imaginários eurocêntricos, coloniais, patriarcais e racistas, para assim pintar um outro mundo para o nosso povo”, afirma Rusha. 

Nas obras, a artista utiliza diversas técnicas, sobrepondo tinta acrílica, tinta relevo, tecido e miçanga sobre colagem. “Trazendo marcas, identidades e olhares que contam histórias que constroem memórias carregadas de muita sabedoria e observação da vida”, destaca.

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