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Dia Mundial das Hepatites: pesquisadoras destacam importância do diagnóstico precoce


29/07/2021

Por: Maíra Menezes (IOC/Fiocruz)*

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Causa de milhares de mortes e problemas crônicos do fígado, as hepatites virais podem ser controladas com diagnóstico precoce, tratamento e medidas de prevenção, incluindo vacinas para alguns tipos do vírus. No entanto, o desconhecimento sobre o agravo faz com que muitas pessoas só sejam diagnosticadas quando apresentam complicações, como cirrose e câncer de fígado.

Para chamar atenção para o problema, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declara o 28 de julho como Dia Mundial das Hepatites. Em 2021, a campanha da entidade tem como tema, As hepatites não podem esperar, destacando que, mesmo em meio à pandemia de Covid-19, é preciso manter as ações contra a doença.

“Um dos grandes problemas para o diagnóstico das hepatites virais é que muitas pessoas não sentem nada na fase inicial da infecção. Principalmente nos casos de hepatite B e C, que causam o maior número de mortes e complicações, os sintomas só costumam aparecer quando a doença está avançada. Por isso, é importante fazer o teste, que está disponível gratuitamente nas unidades básicas de saúde”, ressalta a médica Lia Lewis Ximenez, chefe do Ambulatório de Hepatites Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

“Apesar da pandemia, não podemos esquecer das hepatites virais. O Dia Mundial foi criado para conscientizar as pessoas, para que busquem o teste, o tratamento e a vacinação. Todas as pessoas podem se vacinar contra hepatite B pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Para as crianças, é oferecida ainda a vacina da hepatite A”, reforça a pesquisadora Livia Melo Villar, chefe do Laboratório de Hepatites Virais do IOC, que atua como serviço de referência para o agravo junto ao Ministério da Saúde.

Busca por inovações

Para avançar ainda mais na luta contra as hepatites, o Laboratório de Hepatites Virais do IOC trabalha no desenvolvimento de testes para as hepatites B e C em amostras de sangue seco, obtidas com a coleta de apenas três gotas de sangue em papel filtro. De acordo com a pesquisadora Livia Villar, a metodologia já é autorizada pelo Ministério da Saúde para gestantes, mas sua aplicação em outras populações depende de padronização e validação.

“O uso do sangue seco facilita o diagnóstico para pessoas em que existe dificuldade de coletar sangue, como pacientes com doença renal crônica, idosos e crianças. Também pode ser útil em áreas distantes dos grandes centros urbanos, já que as amostras podem ser armazenadas e transportadas até o laboratório em temperatura ambiente”, explica Livia.

Em um estudo publicado recentemente na revista científica World Journal of Hepatology, os pesquisadores observaram bom desempenho do exame em pessoas com HIV, distúrbios da coagulação e doença renal crônica. No trabalho, as amostras de sangue seco de 430 indivíduos foram analisadas em equipamentos automatizados de larga escala, que podem acelerar o diagnóstico. Considerando os resultados positivos, os cientistas já iniciaram testes em um grupo maior de voluntários, incluindo pessoas portadoras ou não de outros agravos.


Metodologia pode facilitar diagnóstico das hepatites B e C em pessoas com coleta de sangue difícil e em áreas distantes dos grandes centros urbanos (Foto: Gutemberg Brito)

“Atualmente, para diagnóstico das hepatites B e C, é indicada a realização do teste rápido e, nos casos positivos, tem que ser feita a coleta de sangue, para que sejam analisados diferentes marcadores da doença e a carga viral. No papel filtro, já conseguimos padronizar a detecção dos diferentes marcadores e da carga viral. Então, esta pode se tornar uma alternativa para a triagem da doença em algumas populações, realizando uma coleta só de amostra”, aponta a pesquisadora, que coordenou a pesquisa.

Liderado pelo Laboratório de Hepatites Virais, o estudo foi realizado em parceria com Laboratório de Aids e Imunologia Molecular do IOC, Instituto de Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT/Fiocruz), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade de Fortaleza (Unifor), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e Hospital Geral de Nova Iguaçu.

Caminho para a eliminação

Quase 690 mil casos de hepatites virais foram registrados no Brasil entre 1990 e 2020, com 78 mil mortes ligadas ao agravo no período de 2000 a 2019. A doença pode ser provocada pelo vírus A, B, C, D e E, sendo que os três primeiros são os mais frequentes no Brasil.

Transmitido por água e alimentos contaminados por fezes de pessoas infectadas, o vírus da hepatite A causa principalmente quadros agudos da doença. Já os vírus da hepatite B e C são os mais associados aos casos crônicos e complicações. O tipo B é transmitido sobretudo por relações sexuais e o C, pelo sangue.

Considerando a transmissão sanguínea, transfusões de sangue realizadas antes de 1993 são um fator de risco para as infecções, pois os testes para a triagem das hepatites B e C ainda não estavam disponíveis nos bancos de sangue. Pessoas com doença renal crônica, que realizam hemodiálise, também apresentam maior risco de contágio. A transmissão pode ocorrer ainda por objetos contaminados, como seringas, alicates e agulhas.

Em muitos casos, os pacientes são surpreendidos pela doença, como aconteceu com uma moradora do Rio de Janeiro, atendida no Ambulatório de Hepatites Virais do IOC. Em 2006, aos 57 anos, ela apresentou um quadro agudo de hepatite poucos dias após fazer uma tatuagem. “Senti mal-estar e dor abdominal e percebi que estava ficando amarelada. O médico pediu exames e o resultado apontou hepatite. Eu já tinha ouvido falar da doença, mas não sabia que podia ser transmitida pelo sangue”, conta a aposentada.

No Ambulatório de Hepatites Virais do IOC, ela foi diagnosticada com hepatite C e encaminhada para tratamento no Hospital Geral de Bonsucesso. A cura da infecção chegou em 2016, no terceiro ciclo de tratamento realizado, que contou com um novo tipo de medicamento, com alta eficácia contra o agravo. Aos 72 anos, com três filhas, sete netos, oito bisnetos e cinco tataranetos, a aposentada ressalta a importância do diagnóstico e do tratamento da doença.

“Tem muitos que não têm sintomas como eu tive e não sabem que têm a doença. Meu conselho é que todos digam ao médico que gostariam de fazer o exame, porque é melhor saber e se cuidar do que não saber e morrer. Hoje estou muito bem do fígado e sou muito grata a todos que me atenderam”, afirma.
Desde 2016, o Brasil trabalha para atingir a meta proposta pela OMS que visa eliminar as hepatites virais como problema de saúde pública até 2030. Para isso, o país deve reduzir em 90% as novas infecções e em 65%, a mortalidade causada pela doença. Segundo o Ministério da Saúde, entre 2020 e 2021, foram investidos mais de R$ 366 milhões para a compra de insumos, testes, medicamentos e serviços relacionados ao agravo no SUS.

As pesquisadoras do IOC destacam avanços na política de enfrentamento das hepatites virais no país, incluindo a oferta de testes rápidos para hepatites B e C nas unidades básicas de saúde, a inclusão dos exames para os dois agravos no pré-natal de todas as gestantes e a facilitação no acesso aos medicamentos para tratamento da doença.

“Na hepatite C, os medicamentos podem curar a doença em 95% dos casos. Já na hepatite B, não há cura, mas é possível controlar a doença e impedir o agravamento”, esclarece Lia.

Em relação à prevenção da doença, a médica destaca a importância da vacinação, do uso de preservativos, de materiais descartáveis em tatuagens e piercings e do não compartilhamento de alicates e seringas. Além disso, enfatiza a relevância do pré-natal.

“O vírus da hepatite pode ser transmitido de mãe para filho. Por isso, é importante fazer o pré-natal e a testagem. Na hepatite B, essa transmissão pode ser impedida com o tratamento da gestante. Já na hepatite C, a terapia é indicada após a fase de amamentação, prevenindo, assim, o risco de transmissão em outra gestação no futuro”, detalha.

*Edição: Vinicius Ferreira
*Imagem do topo: Josue Damacena

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