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Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência na Fiocruz Minas


25/02/2019

Por: Keila Maia (Fiocruz Minas)

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Em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência na Fiocruz, celebrado em 11 de fevereiro, o Instituto René Rachou (IRR/Fiocruz Minas) promoveu, na tarde da última segunda-feira (11/2), uma série de apresentações sobre o tema. Durante a abertura do evento, a diretora da Fiocruz Minas, Zélia Profeta, falou sobre a importância de promover essa discussão associada a ações afirmativas, de modo a trazer mais mulheres para a ciência.

“Ainda que, no IRR, sejamos a maioria- somos 70%-, mundialmente e especialmente nas ciências exatas, a ciência ainda é uma área de predominância masculina e, até por isso, esta data foi criada em uma Assembleia das Nações Unidas, em dezembro de 2015. A data tem relação com a Agenda 2030 que está como a Tese 06 do 8º Congresso Interno da Fiocruz, bem como a Tese 11, na qual a Fiocruz se posiciona na luta por uma sociedade mais justa e equânime, comprometida com a diversidade e comprometida com o enfrentamento de todas as formas de discriminação, exclusão e violência”, destacou a diretora, lembrando que, pela primeira vez, a Fiocruz tem uma mulher na Presidência.

A pesquisadora Paula Bevilacqua deu início às apresentações, expondo as ações institucionais do Comitê Pró-equidade de Gênero e Raça, bem como do Programa Institucional em Violência e Saúde. Segundo ela, ambas as iniciativas têm como referência o 8º Congresso Interno da Fundação, que, especialmente por meio da tese 11, norteia e direciona as atividades da Fiocruz no que diz respeito a essas questões.

De acordo com a pesquisadora, o Comitê, que passou por uma reformulação recentemente, elaborou um plano de ações para o quadriênio 2019-2022, definindo atividades de curto, médio e a longo prazo. Ela destacou que, dentro da perspectiva de gênero e raça, o Comitê de Pró-equidade da Fiocruz amplia a questão, contemplando também a diversidade de gênero.  

“Assim, uma das ações realizadas foi a Campanha Fiocruz é Diversidade, realizada em parceria com a Coordenação de Comunicação Social (CCS), tendo como foco o combate ao racismo e à transfobia”, comentou. “Outra importante atividade desenvolvida é o Projeto Trajetórias Negras, espaço de troca e conversa sobre o racismo e representatividade das pessoas negras. Além disso, a Fiocruz está adotando sistema de cotas para concurso público, bem como nos processos seletivos dos programas de pós-graduação em algumas unidades”, contou. 

Ao abordar o Programa Institucional em Violência e Saúde, coordenado pelo Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde (Claves-Ensp/Fiocruz), Paula lembrou o objetivo do programa: amplificar e articular a reflexão e ação sobre a violência e saúde entre as diversas unidades da Fundação. Ainda segundo a pesquisadora, nesse sentido, diversas ações vêm sendo realizadas, como oficinas temáticas para atualização de conceitos, além da criação de um site e de atividades voltadas para o apoio à pesquisa. 

Mulheres na ciência

A pesquisadora Natascha Ostos, mestre e doutora em história pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pós-doutoranda no IRR, ministrou a palestra Mulheres na ciência- uma perspectiva histórica. Abordando os principais marcos da carreira das cientistas Bertha Lutz e Virgínia Bicudo, Natascha mostrou que a atuação das mulheres na ciência está atravessada por questões políticas, econômicas e sociais. 

De acordo com a pesquisadora, dados divulgados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) apontam que, em 2010, as mulheres representavam 51% do total de pesquisadores. Essa aparente igualdade, segundo ela, deixa encobertas questões importantes, como por exemplo o fato de que a maior parte das doutoras esteja concentrada nas ciências humanas, área que recebe menores valores em financiamentos. O mesmo se dá também em relação à remuneração das mulheres pesquisadoras, que, a exemplo do que ocorrem em outras áreas, historicamente, recebem sempre menos que os homens, ainda que executando as mesmas tarefas. 

“Ao começarem a frequentar as universidades e o mundo do trabalho, as mulheres são aceitas somente em áreas ligadas ao cuidado. São enfermeiras, assistentes sociais, professoras... Essa é uma situação que vem se perpetuando, considerando que, hoje, na física por exemplo, 80% dos profissionais são do sexo masculino. E vê-se também que a predominância feminina se dá em espaços que pagam menos. No ensino, por exemplo, as mulheres são a maioria na educação infantil, nas creches; já nas universidades, que pagam os melhores salários, os homens são a maioria”, afirma. 
Segundo a pesquisadora, a desigualdade é histórica e, durante muito tempo, foi respaldada pela legislação. De 1916 a 1962, o Código Civil determinava que o marido era considerado o chefe da sociedade conjugal. Ele tinha o direito de autorizar a profissão da mulher, que, por sua vez, era obrigada a ter o mesmo domicílio que o cônjuge. 

“É dentro desse contexto que estão as cientistas Bertha Lutz e Virgínia Bicudo, o que as tornam ainda mais relevantes. Foram mulheres que se destacaram na ciência, mas tiveram que fazer um esforço para que isso acontecesse”, comenta. 
Natascha também destacou que a trajetória de Bertha e Virgínia mostra ainda que, mesmo sendo duas mulheres, as diferentes realidades fizeram com o grau de dificuldade fosse também diverso.

“Bertha era filha do cientista Adolfo Lutz e, mesmo sofrendo o preconceito de gênero (tendo até que acionar a Justiça para entrar no serviço público), tinha um ambiente favorável. Teve uma educação diferenciada, sendo licenciada pela Sorbonne. Já a Virgínia era neta de escravos. O pai dela, que tinha o sonho de ser médico, sofreu perseguição de um professor que o reprovou continuamente só porque era negro. E ela própria passou por vários constrangimentos por preconceito racial. Chegou até pensar em suicídio. Ou seja, Virgínia carregou uma dupla carga: o preconceito de gênero e de raça, mostrando que a condição da mulher negra é diferente da mulher branca”, explicou.

Para a pesquisadora, a desigualdade entre gêneros, além de ter causas históricas, há também razões culturais e sociais. Ainda hoje, as mulheres consomem em atividades domésticas o dobro do tempo gasto pelos homens. É, segundo ela, um tempo que elas poderiam estar utilizando para se especializar ou se dedicar ao trabalho remunerado. 

“Por tudo isso, ainda que estejamos em pleno século 21, todo esse debate ainda é bastante pertinente. É a discussão que nos permite desnaturalizar algumas situações e entender que é possível mudar”, disse. 

Integra 

Saúde e equidade: pesquisas e ações voltadas para as questões de gênero e raça foi o tema da apresentação do Grupo Integra, iniciativa de estudantes de doutorado do IRR, criada a partir da disciplina Seminários Avançados, ministrada pela diretora Zélia Profeta, dentro do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva.

A estudante Laís Barbosa Patrocínio expôs números, levantados por meio de uma pesquisa exploratória sobre a participação da mulher na ciência, que demonstram que a participação feminina em algumas esferas ainda é minoritária. 
“A constituição da Academia Brasileira de Ciências é um bom exemplo disso. Em 2018, segundo dados fornecidos pelo próprio órgão, eram 809 homens e 133 mulheres”, destacou.

Outro dado apresentado pela estudante se refere a bolsas de produtividade, concedidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). De 2001 a 2015, os homens tiveram a maior parte das bolsas de nível A, enquanto as mulheres receberam as de nível B. 

“É interessante observar que, para concessão de bolsas, são utilizados critérios objetivos, mas que guardam relação direta com as questões subjetivas. Um desses critérios, o número de trabalhos publicados, por exemplo, tem a ver com o tempo de dedicação que, no caso de mulher, sofre as influências do trabalho doméstico, já comentado pela Natascha. E tem a ver também com as interrupções na carreira, devido à maternidade”, explicou. 
Segundo Laís, são questões como essas que estimularam a criação do Grupo Integra, que tem por objetivo ampliar a discussão sobre gênero e raça dentro do IRR, de forma a pensar em propostas que possam contribuir para melhorar a perspectiva das mulheres na ciência. Diversas atividades estão sendo planejadas para 2019, como minicursos, seminários e roda de conversa.   

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