26/08/2020
Simone Kabarite
No Dia Internacional da Igualdade Feminina – 26 de agosto -, é possível constatar avanços, mas também um caminho de luta pela equidade de direitos. Na Fiocruz, onde pela primeira vez em 120 anos a presidência é ocupada por uma mulher, a socióloga Nísia Trindade Lima, 56% da força de trabalho são constituídos por mulheres, porém, a maior parte de cargos de alto escalão é ocupada por homens.
Segundo dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), se por um lado as mulheres alcançam a paridade nos cursos de mestrado e doutorado, um número muito reduzido consegue bolsas de produtividade, as mais almejadas no segmento profissional em função do prestígio e do valor. Além disso, as mulheres levam muito mais tempo para conquistar espaços de liderança e chegar ao topo da carreira.
O Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz atua para subsidiar a presidência na inclusão de questões ligadas a esses temas nas agendas externa e interna, a fim de orientar ações e políticas. Em 2017, no 8º Congresso Interno da Fiocruz foram discutidas teses com diretrizes comprometidas com a diversidade do povo brasileiro e com a igualdade de gênero. A tese 11, tirada no Congresso, indicou uma mudança nas ações do Comitê: reforçou a ampliação das ações no combate ao racismo institucional e ao assédio moral e sexual no trabalho, bem como na inclusão de gênero e raça de maneira transversal.
Dos dados do CNPq sobre produtividade, Hilda Gomes, Coordenadora da Seção de Formação do Serviço de Educação do Museu da Vida e membro do Comitê Pró-equidade de Gênero e Raça da Fiocruz, chama atenção para os números sobre a participação das mulheres negras: atualmente não chegam a 3% do total de docentes no Brasil, além de apenas 0,7% delas conseguir fazer uma carreira acadêmica. “Apesar dos importantes avanços de políticas afirmativas, as mulheres negras ainda estão em menor proporção no ensino superior em relação às brancas. Segundo dados da ONU de 2017, apenas 12,8% tem acesso ao ensino superior contra 23,8 % de pessoas brancas”, afirmou.
Hilda Gomes (primeira à direita) em atividade do Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz
A coordenadora lembra que a igualdade de gênero, assim como questões relativas ao empoderamento de meninas e mulheres, consta da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2015, mais de 150 líderes mundiais se reuniram na ONU para estabelecer os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que devem ser implementados por todos os países durante os próximos 15 anos, até 2030. “Nós, mulheres, cis ou trans, mães ou não, com diferença intergeracional, todas que se sintam representadas nessa condição de gênero, somos uma grande força de conhecimento, precisamos ser respeitadas e valorizadas do ponto de vista da nossa produção social, política, cultural, econômica, educativa e acadêmica”, disse.
Além da Coordenação geral, o Comitê reúne militantes, interessados, estudiosos, pesquisadores que costuram discussões contemporâneas sobre os temas de gênero e raça. Nesse momento de pandemia, estão sendo realizadas atividades remotas, como formação online com referências importantes do segmento para o fortalecimento do debate. “Queremos propor ações mais concretas de adoção de práticas feministas e antirracistas, porque se não fizermos nada, acabamos contribuindo para perpetuar essa opressão. Existem diversos feminismos, uma pluralidade de lutas, mas o mais importante é a união dessas vozes, pra que a gente consiga comemorar de forma coletiva o Dia Internacional da Igualdade Feminina”, concluiu.
Sororidade
Foi na organização das trabalhadoras da Fiocruz para a participação do Movimento 8MRJ, do Dia Internacional das Mulheres deste ano, iniciada pela pesquisadora em Saúde Pública do Departamento de Administração e Planejamento em Saúde (Daps) da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP), Isabela Santos, que uma nova mobilização ganhou força em Manguinhos. Em poucos dias, o grupo de organização do evento no whatsapp já tinha cerca de 150 mulheres.
Grupo de Mulheres da Fiocruz na Marcha 8MRJ deste ano
Lá, elas fizeram Grupos de Trabalho, dividiram tarefas, deliberaram posicionamentos e a identidade que o grupo levaria para a Marcha 8MRJ, de modo que pudesse abarcar a diversidade das mulheres da Fundação. “A participação das mulheres da Fiocruz à Marcha foi muito forte, houve uma adesão grande e espontânea”, destaca Isabela.
Com a pandemia, logo em seguida, mulheres participantes do grupo, entre elas as pesquisadoras Jussara Angelo (ENSP), Silvana Granado, (ENSP), Bianca Borges (Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio – EPSJV), começaram a se organizar para contribuir com a segurança alimentar de populações carentes diante dos impactos produzidos pelo distanciamento social. Uma vaquinha virtual foi o caminho encontrado para dar início à campanha Solidariedade em Manguinhos, que em quatro dias arrecadou o suficiente para a distribuição de cestas básicas a 150 famílias.
“É importante destacar que as doações foram o resultado da grande mobilização feita por essas mulheres e as suas redes de contato”, afirmou Jussara. O grupo também ganhou a adesão de duas trabalhadoras, Anissa Daliry (Instituto Oswaldo Cruz- IOC), e Adriana Rincão (EPSJV), que vinham realizando arrecadações paralelas com colegas de trabalho para doação de cestas básicas.
“Elas ficaram sabendo da campanha e depois se uniram definitivamente à nossa ação”, disse. Após cinco meses de pandemia, o grupo cresceu e conseguiu manter a distribuição quinzenal de suprimentos, agora direcionada a mulheres chefes de família com filhos.
Logo criado Cynthia Macedo Dias
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